A maioria das mulheres (96%) sente culpa pelo menos uma vez ao dia, segundo um estudo britânico. Embora feita fora do Brasil, a pesquisa traz resultados que podem ser replicados no contexto nacional, conforme explicam as especialistas ouvidos pelo Viver Bem.
Por mais que a culpa não seja um sentimento exclusivamente feminino, há razões pelas quais as mulheres tendem a senti-lo com maior frequência que os homens.
“A culpa vem muito por conta da nossa cultura, na qual exige-se muito de nós, mulheres. Estamos no mercado de trabalho, mas temos várias jornadas e temos que fazer tudo muito bem, senão vem a comparação: ela está com TPM, ou qualquer outra justificativa que não tem nada a ver.
O nosso fazer é reduzido a questões biológicas e a cobrança, tanto de fora quanto da própria mulher, é maior”, explica Grazielle Tagliamento, psicóloga coordenadora do Núcleo de Diversidade de Gênero e Sexualidade do Conselho Regional de Psicologia do Paraná.
Na ânsia de querer provar ser a “Mulher Maravilha”, a mulher que pode tudo e que consegue fazer qualquer coisa “sem descer do salto”, surgem os erros, os percalços e a culpa. “Ela não precisa fazer tudo da melhor forma possível. Ela não precisa ser perfeita. Isso é inatingível. Conforme tivermos relações mais igualitárias, menor será a sensação de culpa da mulher e esse é uma responsabilidade tanto dela quanto do homem em compartilhar as tarefas”, reforça a psicóloga.
Pode parecer impossível, mas é possível se livrar da culpa. O sentimento tem um viés de responsabilidade e quando a mulher consegue transferi-lo para uma ação, a culpa pode ser aliviada.
Outra mudança que as mulheres podem adotar é se inspirar em mulheres poderosas, mas sem cair no erro de achar que, só porque elas conseguiram, você deveria ser obrigada a conseguir também. “Cada mulher tem seus impasses e às vezes ela se apega a uma imagem que pode fazer mal a sua própria imagem. Mas, por outro lado, muitas vezes essa imagem faz com que ela avance e realmente realize os sonhos. É uma linha muito tênue”, reforça a psicanalista.
O estudo destaca ainda um público específico: as mulheres que são mães. O sentimento de culpa, entre elas, tende a ser mais frequente – e isso também é justificável.
“A maternidade mexe com inúmeras questões psíquicas na mulher. Muda muito a forma como ela lida com as tarefas. Ela se sente mais dividida, porque ela é mulher e mãe. Com isso vem também uma cobrança maior, porque é como se a maternidade exigisse dela toda, e ser mulher também. Ela não precisa ser, mas ela sente como se precisasse”, explica Juliane Kravetz, psicanalista.
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