Quem é Jesus para as religiões?
“Parabéns pra você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida…” A canção, marca registrada de todo aniversário que se preze, muitas vezes dá lugar a músicas tradicionais natalinas. No lugar do bolo, um belo peru de Natal ou, até quem sabe, um panetone. Quem nasce no dia 25 de dezembro não tem muita escolha. Afinal, é preciso aceitar que o grande centro das atenções da data é o menino Jesus.
Assim, fazer aniversário no Natal pode ser bem incômodo para as crianças, que, às vezes, se tornam um verdadeiro Scrooge, personagem de um conto de Charles Dickens que odeia o Natal. E não é para menos: além de terem de se contentar com apenas um presente (que é a verdadeira alegria infantil da época), as dificuldades para se organizar uma festa com amigos duplicam.
Para o psicólogo Carlos Esteves, a celebração religiosa do Natal pode adquirir diferentes significados ao longo da vida. Na infância, por exemplo, se não forem tomados alguns cuidados, a festa pode causar bastante confusão emocional. “Para evitar tais sentimentos, o ideal é que os pais estabeleçam momentos diferentes para se comemorar o Natal e o aniversário dos filhos, deixando claro que não existe concorrência”, explica Esteves.
Quando adultos, contudo, grande parte dos aniversariantes natalinos garante: comemorar o aniversário no Natal é especial, principalmente por também ser o aniversário de Jesus Cristo, encarado como o salvador pela cultura cristã e como uma figura importante por outras crenças.
Vigília dos presentes
Quando Rojane Mafra era ainda criança, toda a família já conhecia o ritual: na véspera de Natal, faltando poucas horas para comemorar seu aniversário, Rojane ficava plantada no portão de casa esperando pelos convidados. Motivo? Cobrar os dois presentes que lhe eram de direito: um de Natal e um de aniversário. Hoje a professora de Educação Física de 27 anos confessa não se lembrar do fato, mas cai na risada quando sua mãe conta a história como se fosse ontem. “Durante a infância, eu não gostava muito do Natal. Mas agora eu gosto. Embora o dia não seja originalmente meu, acho bastante especial”, afirma Rojane. A mãe dela, Beatriz Mafra, de 61 anos, conta que foi pega de surpresa pelo nascimento da filha no dia 25. “Tive de sair correndo do almoço de Natal e ir direto para o hospital. Foi uma tarde inteira de trabalho de parto e, depois, alguns parentes ainda queriam que a chamássemos de Natalina”, relembra Beatriz, que confessa ter ficado bem feliz pelo fato de o nascimento de Rojane coincidir com o dia do nascimento do menino Jesus.
Festa para poucos
Para quem gosta de uma confraternização com os amigos e a família, como a web designer Alessandra Klein, 30 anos, nascer em pleno Natal pode dificultar um pouco as coisas, já que todos parecem viajar nesta data. “Dá para contar nos dedos as festas que eu consegui fazer depois de adulta. Ou tenho de fazer a festa muito antes ou muito depois”, diz Alessandra. Ciente do duplo significado da data, o marido Leandro Victorino de Moura, trata de providenciar dois presentes para o dia 25. Ainda na infância em Cruzeiro do Oeste, no noroeste do Paraná, Alessandra mantinha acesa a esperança de ter uma festinha com os colegas de escola. Sua mãe, Ercilia Leite do Amaral, 49 anos, garantiu que isso acontecesse por muitos anos. “Em algum dia da última semana de aula, eu sempre mandava um bolinho para ela cantar os parabéns com os coleguinhas”, lembra Ercilia. A mãe de Alessandra relata que não se compara à mãe de Jesus, mas que considera o nascimento de sua filha no dia 25 bastante especial. “Não podia ser diferente. Acredito que todo nascimento é especial”, diz.
O Natal de Natalino
Quem o vê andando pela rua não imagina como a relação dele com o Natal é intensa. Mas basta perguntar seu nome para começar a entender: Natalino Avance de Souza. O engenheiro agrônomo de 56 anos faz aniversário no dia 25 de dezembro e garante que sempre foi uma grande festa. “Ao contrário do que todos pensam, fazer aniversário no Natal é ótimo. Ninguém jamais esquece o seu dia”, brinca. Na verdade, o que o faz adorar a data é o fato de sempre estar rodeado de amigos e familiares com o espírito aberto, em clima de festa. “Quando criança, nós comemorávamos mais o Natal que o meu aniversário. Mas, com o tempo, aprendi a valorizar esta data. Agora, passamos a virada do dia 24 de dezembro cantando parabéns e assoprando minhas velinhas”, confidencia Souza, cujo nascimento por si só foi considerado pela mãe um milagre. Como ela morava em um sítio afastado da cidade e tinha tido a experiência de ver duas filhas morrerem prematuramente, ela optou por dar esse nome “santo” ao mais novo membro da família. E parece que funcionou. Quando questionado se ele se sente tão especial quanto Jesus, Souza não pestaneja para responder: “É muita pretensão da minha parte. Mas que me sinto muito feliz e privilegiado, ah, isso sim”, garante.
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