Comportamento

Onde há fumaça, há confusão

Érika Busani
09/07/2006 23:03
erikab@gazetadopovo.com.br
Símbolo de status e charme no passado nem tão distante assim, hoje o cigarro é característica excludente para muitos não-fumantes na hora da paquera. Basta dar uma olhadinha no site de relacionemento Orkut que, se não é um método muito científico de pesquisar o comportamento humano, dá uma boa idéia do que rola.
Nas comunidades relacionadas com cigarro – que despertam ações e reações fervorosas – há desde as inevitáveis “eu odeio” fumantes, quem fuma perto de mim, mulher que fuma, gente que fuma, beijar mulher que fuma, mina que fuma, homem que fuma, quem fuma, até a indelicada “quem fuma fede” e outras impublicáveis. Claro, tem também as que defendem os fumantes – em menor número, é verdade. Algumas vão direto ao ponto, dando a perceber o quanto o hábito hoje pode atrapalhar relações, como a “Não gosto de beijar quem fuma” e a “Eu não beijo quem fuma”.
“Namorar uma fumante seria simplesmente inviável. Não suporto o cheiro nas mãos, nos cabelos, na roupa. Quando vou a lugares fechados na noite, o cheiro que fica já me incomoda, imagina ficar com uma pessoa assim o tempo todo”, avalia o engenheiro eletricista Daniel Torres, 33 anos.
E para quem se incomoda com o cheiro – reclamação número um entre os não-fumantes – não tem jeito, dizem. “Por mais que a pessoa seja caprichosa, tome três banhos por dia, ela exala cheiro de fumaça.”
E não é só isso que atrapalha o relacionamento dos amantes e “odiantes” do tabaco. Daniel conta que alguns amigos do segundo time namoram com meninas que pertencem ao primeiro e, pior, fumam escondido. “Isso gera um ponto de conflito a mais”. Como se relacionamentos já não fossem suficientemente complicados…
A estudante Vanessa Ramos, 20, também é da turma que usa o cigarro como pré-requisito de exclusão para namoros. “Às vezes acho um menino maravilhoso, quando vejo o cigarro em sua mão, perde aquele encanto”, garante. “O cheiro me enjoa demais. Não chega a ser nojo, mas dá aquela coisa ruim.” Até para sair, Vanessa é seletiva: “Procuro ir a barzinhos mais abertos. Aos fechados, vou só em ocasiões especiais e acabo não ficando muito tempo, porque chega a me faltar ar.”
O mal causado à saúde também entra na argumentação antitabagista versus romance. “Não quero ser nem fumante passivo, já que pode fazer mal à minha voz, à minha carreira e à minha saúde”, dispara o cantor curitibano Zé Rodrigo, obrigado, por força da profissão, a conviver com a fumaça bem mais do que gostaria.
Nem todos, no entanto, levam as coisas tão a sério. O estudante Rubens Henrique de Castro, 25, acha que chicletes e balas até ajudam a disfarçar o cheiro, mas não conseguem eliminá-lo. Reconhece o lado machista de achar que mulher fumando é feio. Mas não perde uma boa oportunidade por isso. “De dia, o cheiro me incomoda, mas à noite tudo se mistura com o cheiro do ambiente. Se eu tomar uns drinques, fico com menina fumante.”