Comportamento

Parkour em Curitiba dá um salto e forma terceira melhor colocada do mundo

William Saab, especial para a Gazeta do Povo
05/09/2018 17:00
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Objetivo de Camila é incentivar e fazer crescer o parkour feminino. Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo. | Gazeta do Povo

Quando se mudou para Curitiba, há seis meses, Camila Ribeiro não imaginava que, em tão pouco tempo, seria uma das melhores do mundo em sua profissão. Com 16 anos, a atleta de parkour, natural de Cornélio Procópio, acaba de retornar com uma medalha de bronze do NAPC, em Vancouver, Canadá, um dos campeonatos mais disputados do planeta. Esse é o melhor resultado que uma atleta sul-americana já conquistou.
Camilinha, como ficou conhecida nos treinos, destaca que representar o Brasil foi gratificante, principalmente porque também teve torcida de países como Chile e Argentina. “Tudo isso me impulsiona mais. Eu vim do interior, cresci treinando sozinha por anos, por isso nunca esperei chegar onde cheguei. Sei o quanto é difícil para alguém conseguir competir fora do país ou até mesmo crescer nesse meio”, diz.
Atleta Parkour - 24-08-2018 - Camila Ribeiro, a Camilinha, 16 anos, é atleta de parkour.
Atleta Parkour - 24-08-2018 - Camila Ribeiro, a Camilinha, 16 anos, é atleta de parkour.
Ser mulher e conquistar esse feito é motivo de ainda mais orgulho, pois, para Camila, carrega uma representatividade muito maior, uma vez que o parkour feminino no Brasil cresce de forma muito lenta. “O espaço e a sociedade em si pregam muitas vezes o contrário do que fazemos; de que lugar de mulher não é praticando esportes. Em contrapartida, tem a nossa força de vontade e a união do parkour feminino no Brasil, que me enche de esperança. É muito importante fazer parte da mudança desse conceito atrasado com amor e movimento. Quero fazer com que tudo que tenho passado – e ainda passo –, sirva de inspiração para motivar mais mulheres a aderirem à prática.”
A classificação histórica foi uma surpresa, assim como o aprendizado que Camila tirou da experiência. “Tenho uma direção nítida do que preciso trabalhar para buscar agora outras conquistas. O meu preparo me deu bons resultados, tanto nos treinos quanto na própria competição, mas ainda preciso fortalecer o psicológico”.
A atleta elenca que são inúmeras as formas de lidar com a ansiedade, a pressão e outros sentimentos ainda desconhecidos no momento da prova, o que influencia diretamente no desempenho. Sabendo desses desafios, ela já pensa no próximo: o Air Wipp, na Suécia, a maior competição do esporte no mundo, que acontece em novembro.
Atleta Parkour - 24-08-2018 - Camila Ribeiro, a Camilinha, 16 anos, é atleta de parkour.
Atleta Parkour - 24-08-2018 - Camila Ribeiro, a Camilinha, 16 anos, é atleta de parkour.

O início dos treinamentos

Desde pequena, Camilinha nunca gostou de ficar parada, por isso, praticava diversas atividades físicas. Em 2011, então com oito anos, descobriu o parkour após assistir ao documentário britânico Jump London. Foi nesse panorama que começou a buscar mais informações sobre o esporte. Decidiu, junto com um grupo de amigos do irmão, iniciar os treinos em praças e locais públicos de Cornélio Procópio. Como não tinham aulas, o próprio corpo e vídeos online serviam de professores.
Os pais sempre apoiaram a atividade. Quando Camila retornou de uma competição na Suécia, em novembro do ano passado, estava decidida a ter o parkour como profissão. Foi então que propôs aos pais que se mudasse para Curitiba, onde teria condições técnicas de treinar com foco nas competições internacionais. “Por incrível que pareça, meus pais já haviam pensado na ideia. Talvez não tão cedo, mas sabiam que essa hora chegaria”, revela. “
Apesar da preocupação em deixar a filha de 15 anos morar sozinha num ambiente novo, em três meses conseguimos nos organizar, tanto com meus estudos quanto com os treinos”, conta a atleta.
Atleta Parkour - 24-08-2018 - Camila Ribeiro, a Camilinha, 16 anos, é atleta de parkour.
Atleta Parkour - 24-08-2018 - Camila Ribeiro, a Camilinha, 16 anos, é atleta de parkour.
Foi nessa fase que conheceu Cássio Dias de Andrade Junior, técnico desde fevereiro. Ele conta que todo mundo que trabalhava com parkour já havia notado um diferencial nela, por isso o convite para integrar a equipe da academia Ponto B. “Para nós, é o início de um novo capítulo na história do esporte no Brasil. Acreditamos que muitas Camilinhas ainda vão surgir e nos fazer sentir orgulho do nosso país. Hoje, ela se mostra como a maior alternativa brasileira para fazer história no parkour mundial”, orgulha-se.
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