Adultos nos patins: exercício queima calorias, mas exige cuidado para cair “certo”
Amanda Milléo
04/08/2018 19:14
As aulas de patinação para adultos acontece durante a semana, à noite, e aos fins de semana à tarde (Foto: Amanda Milléo / Gazeta do Povo)
Adultos não patinam como as crianças, e isso ficou bem claro quando o Viver Bem acompanhou a aula de patinação dos alunos mais velhos na tarde deste sábado (04), no ginásio da Escola Nossa Senhora da Esperança, no Prado Velho, em Curitiba.
Ao contrário das crianças, que sobem nos patins com velocidade e tentam aprender tudo o que podem enquanto deslizam pela quadra, os adultos são mais cautelosos e vão, um passo por vez (com capacete, joelheira, tornozeleira, cotoveleira e qualquer outro equipamento disponível) dominando a arte da patinação.
Mesmo quem está há anos aprendendo ainda sente certo receio de cair e quebrar algo importante, e esse medo tem justificativa: o risco, de fato, é maior quanto mais velhos ficamos. Com a Vanessa Cichella, de 33 anos, foi exatamente assim.
“Eu costumava andar de patins quando tinha a idade da minha filha Gabriela, que tem 10 anos. Quando ela quis patinar, eu vim junto e, olha, não foi fácil. O equilíbrio é muito diferente quando a gente é adulto. Eu treinei durante dois meses e, quando fui patinar no parque um dia, caí e quebrei o cóccix. Fiquei mais dois meses parada, sem poder me mexer. Agora voltei, e vi que evolui bastante. Mas, a cada nova técnica que ensinam, é um novo cuidado”, relata a psicóloga.
Adultos são mais “duros”, segundo Eneas Marcondes, professor da turma e um dos criadores do time No Fear Hockey Inline, o que gera essa dificuldade de se soltar na patinação. “Os adultos contraem a musculatura mais que as crianças, porque eles têm medo de cair, então travam. Ao contrair, que é o movimento feito para frear, toda manobra parece muito mais pesada do que de fato é”, explica Marcondes, profissional de educação física e jogador de hockey há 20 anos.
O medo, porém, não pode ser impeditivo para nenhum adulto praticar, reforça o professor. “Se todo aluno que diz que tem dor nas costas não pudesse patinar, não sobraria nenhum adulto aqui. A patinação fortalece o abdome, a região do core e toda a musculatura. Aqui a pessoa não tem um espaço livre para patinar. Ela aprende técnicas e exercícios, como freio, equilíbrio, mudança de direção. É repassado um sistema de treino que ajude a dominar o equipamento”, reforça.
A memória da arquiteta e professora Rafaela Fortunato, de 36 anos, a enganou quando subiu nos patins anos depois. Cair, para ela, não era algo normal, como é agora. Mas, a cada escorregão, um novo aprendizado.
“No começo eu tinha uma bermuda de skatista com uma proteção lateral que amortecia um pouco o impacto, mas depois eu fui aprendendo a cair. Eu ainda caio, toda aula, mas você vai evoluindo e depois não se machuca mais tanto”, relata a arquiteta, que está sempre acompanhada da filha Gabriela Fortunato Siwek, de oito anos.
É isso que busca Guilherme Honjo, fisioterapeuta de 35 anos, que estava na primeira aula de patinação: aprender a cair certo. Ao contrário da maioria, Guilherme não tinha interesse nos patins e rollers na infância, já que era atleta de outro esporte: baseball ou beisebol, no português.
“Treinei um pouco em casa, antes de vir, mas aqui quero aprender mesmo. Na infância não tinha patins, porque meu interesse era outro. Para a primeira aula quero ver se aprendo a controlar o roller, saber cair e saber me equilibrar”, relata o fisioterapeuta, que ao longo da aula conseguiu atingir o objetivo.
Patinação como exercício físico
Leone Girardi, bancária de 33 anos, não achava graça nenhuma ir à academia e nem encontrava prazer nos exercícios físicos. Depois de ouvir recomendações demais de que deveria ser fisicamente mais ativa, decidiu dar voz a uma vontade antiga, de infância, a patinação.
“Quando teve o boom do roller, o material dos patins era muito frágil e eu tinha um pouco de medo. Até brincava, mas não a aprendi bem como patinar, não tive orientação. Agora não deixa de ser uma brincadeira, mas tem uma técnica e quanto mais você patina, mais você aprende”, relata a bancária, que pratica duas vezes por semana, nas segundas e quartas à noite.
“Quando coloquei o patins pela primeira vez, achei que não fosse conseguir levantar. Volte e meia eu caio, mas nada grave. Sempre uso os equipamentos de proteção” – Leone Girardi, bancária e praticante da patinação há um ano.
Tão entusiasmada que ficou, Leone puxou a irmã mais nova, Letícia Girardi, designer de interiores de 30 anos. “Aqui eu me esqueço do trabalho, do estresse do dia a dia. É uma terapia. Foi difícil achar um patins para o nosso tamanho, muitos ficam grandes demais ou são para as crianças. Mas basta colocar duas meias, duas palmilhas e está tudo certo”, diz.
Quem busca a patinação como exercício físico está no caminho certo. De acordo com levantamento feito pela Mayo Clinic, ONG de saúde norte-americana, a patinação consegue queimar entre 500 a 600 calorias, por hora de prática. Entra, portanto, como um dos exercícios indicados para quem busca emagrecer, desde que feito com a intensidade certa e com frequência.
Cuidados com os ossos
Você pode até lembrar de como fazia manobras incríveis na infância com seus patins, mas tome cuidado ao recriar essas cenas, segundo alerta Lúcio Ernlund, médico ortopedista, diretor do Instituto de Joelho e Ombro, em Curitiba, e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte (SBRATE).
“Apesar de ficar muito tempo sem praticar aquele esporte, talvez ela até consiga voltar a fazer os mesmos gestos, as acrobacias, mas são momentos diferentes da vida. O condicionamento era diferente e o corpo exige cuidado”, explica Ernlund, que também faz parte do quadro do hospital Santa Cruz.
Primeiro, tenha certeza que o corpo e os músculos estão bem condicionados, buscando uma academia ou outro exercício que trate da parte aeróbica e muscular. Isso garante que seu corpo esteja pronto para uma hora de patinação, sem tirá-lo do sedentarismo a uma vida ativa muito rapidamente.
“Priorize os aparelhos que evitam acidentes, como a proteção para joelho, cotovelo, capacete e punho. Essas áreas têm mais chance de sofrer uma fratura, porque são neles que a pessoa se escora quando cai para não bater a cabeça”, alerta o ortopedista.
As fraturas decorrentes de uma queda ou acidente nos patins variam de gravidade, podendo ir de uma imobilização até um procedimento cirúrgico, que exige a colocação de pinos.