Perdoar a si próprio pode ser mais difícil do que perdoar a outras pessoas e isso tem uma razão muito humana de ser. Somos acostumados a julgarmos e entendermos que, através do perdão do outro, seremos felizes, mas temos dificuldades em enxergarmos os próprios erros e a nos vermos como seres imperfeitos. Sanar essa culpa, no entanto, não precisa ser um processo tão difícil e os benefícios podem ser vistos tanto na saúde mental quanto na física.
“Autoperdoar-se envolve uma questão pessoal, onde não tem ninguém para pedir pelo perdão ou mudar a situação, a não ser você mesmo. Isso pode ser mais penoso”, explica Mariana Bayer, psicóloga do Instituto Trilhar, clínica especialista no tratamento do luto.
O convívio constante com o sentimento de culpa pode realçar no indivíduo sintomas como baixa autoestima, dificuldades em dizer ‘não’, sentimento de rejeição e até a extrema necessidade de agradar e medo do julgamento do outro. “Todos os sentimentos são válidos e importantes, como alegria, solidão, alívio, raiva ou mesmo a culpa. Mas a paralisação, como um martírio, no sentimento de culpa pode trazer prejuízo, como estresse, depressão, ansiedade ou baixa da imunidade, fator que pode desencadear outras doenças”, reforça a psicóloga.
Como se autoperdoar?
Sair desse ciclo de culpa, no entanto, não está relacionado a esquecer o que aconteceu ou voltar a conviver com quem você magoou ou quem o magoou. “Perdoar é elaborar o fato ocorrido, conseguir conviver com ele, sem que isso gere sintomas físicos ou emocionais tão intensos. Ou, ainda, entender que aquilo pode ter gerado um aprendizado a você, o que seria o melhor dos casos”, reforça Michele Maba, psicóloga especialista no luto.
Porém, é difícil fazer com que as pessoas queiram lembrar o que lhes causou dor e isso dificulta a solução, segundo Michele. “Sabemos que atingimos o autoperdão quando conseguimos lembrar dos fatos sem nos depreciarmos pelas nossas escolhas ou atitudes. Lembrar que fizemos o que podíamos ter feito naquele momento é um dos caminhos para esse autoperdão. Ninguém faz escolhas ruins deliberadamente – faz porque estava tentando, de algum modo, acertar”, reforça a psicóloga.
Outro caminho é usar a compaixão: “Tratar os outros, mas também nós mesmos, com mais cuidado, compreensão e amorosidade. O fundamental, porém, é lembrar que não controlamos o futuro e nem passado, apenas o presente, que deve ser vivido com escolhas sensatas e não com o pensamento de que a vida seria melhor se isso ou aquilo não tivesse acontecido”, conclui Michele.
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