Comportamento

“Precisamos conversar”

Flavia Schiochet, especial para a Gazeta do Povo
07/04/2013 03:08
Ainda que a palavra “discussão” faça parte da expressão “discussão de relacionamento”, ela não precisa ser sinônimo de “briga”. A DR, como é conhecida a temida conversa entre o casal, tem dois lados, segundo o psicólogo comportamental Carlos Esteves: “se o casal fala sobre construção de relacionamento, o assunto é aquilo que os une. Se a DR discutir aquilo que separa, então o casal tende a se afastar cada vez mais. É um ponto óbvio, mas não é comum que percebam essa distinção”.
Quando há conflitos no relacionamento, é comum que as discussões sejam sobre defeitos, problemas do outro e críticas – esses são os temas que fazem o casal afastar-se. Como a crise é lenta e gradual, muitos casais não percebem que estão acumulando tensões e acabam soltando o verbo na hora da DR. “Conversem para resolver o problema e pensem nos motivos pelos quais vocês estão juntos. As pessoas falam muito sobre separação, mas nem sempre é o que elas querem”, aconselha a terapeuta de casais Elyne Carazzai.
Na hora da conversa, é importante falar o que admira no outro, o que ela faz bem, pensar nos valores e no futuro dos dois, mas sem cobrança. “É como aquela história de regar a plantinha: todos os dias é preciso cuidar do relacionamento, prestar atenção no outro”, completa.
Hábito
Esteves sugere que os parceiros criem o hábito de perguntar ao outro para entender o que ele ou ela está sentindo. “Pode-se modificar pequenas ações ou palavras antes que se acumulem e avaliar se o que estou fazendo magoa o outro. Mais que cobrar uma resposta é entender como o meu comportamento pode afetar o dele/a”, pondera. E o mais importante, tanto para os namorados quanto para o casal de papel passado: ouvir e ser ouvido.
A designer Juliana Mayu­mi, 22 anos, namora há dois anos e percebe uma evolução nas discussões desde o início do namoro, que hoje são mais raras. “Mesmo que quase nunca agradáveis, as discussões são importantes para conhecermos um ao outro e a nós mesmos cada vez melhor”, conta. Os principais motivos são divergências de opinião sobre comportamento e atitudes tanto dela quanto dele, que é mais irritadiço. “As discussões que ocorrem por discordar das escolhas do outro são mais pacíficas, porque conseguimos dialogar antes que se concretizem. Diferentemente das sobre comportamento, que normalmente dão início a discussões sobre a insatisfação com algo que ocorreu, ou ocorre, no dia a dia. Posso estar falando bobagem, mas acho que mudar comportamentos é mais difícil que mudar as escolhas”.
Termômetro
A frequência e temas das discussões de relacionamento são o termômetro da relação e podem indicar se o casal precisa de ajuda para resolver suas questões. Às vezes, o que falta é o entendimento do compromisso do casal. “Não existe DR cedo demais em uma relação. Se é um começo de namoro, a complexidade é diferente da de um casamento, por exemplo”, explica Elyne.