Comportamento

Quero ser pai

Michele Bravos, especial para a Gazeta do Povo - micheleb@gazetadopovo.com.br
10/10/2010 03:10
Como explicar o efeito “quero ser pai” nos rapazes de 20 a 30 anos? O urologista do Hospital de Clínicas, Fernando Lorenzini, especializado em infertilidade masculina e disfunção erétil, diz que na juventude as concentrações sanguíneas do hormônio masculino são maiores que na senescência (velhice). Esses hormônios estimulam a atividade sexual – através do aumento de libido –, dando a deixa para o desejo de reprodução. “O despertar dessas emoções está em torno do querer ter um filho.” De forma simplificada, o aumento da sexualidade traz à tona temas relacionados, como casamento e crianças.
Do ponto de vista fisiológico, todo rapaz aos 20 anos está preparado para ser pai. Mas, quando ele percebe a responsabilidade dessa etapa da vida, questões sociais entram em jogo. “De forma racional, os jovens preferem se preparar melhor para essa condição. O relógio racional é diferente do relógio biológico”, afirma Lorenzini.
Para o artista circense e cozinheiro Yamba Canfield, 29 anos, a chegada surpresa da paternidade trouxe algumas mudanças ideológicas. A forma como ele enxergava a vida fazia com que colocasse muitos degraus a serem subidos até se considerar preparado para ser pai. “Achava que tinha que ter uma estrutura financeira maior que a que tenho. Quando soube que seria pai, percebi que estava pronto e que havia chegado a hora.” Ele também acredita que muitas vezes a dificuldade em dividir é algo que leva os homens a temerem e adiarem este momento, muito mais que qualquer outro fator social.
No primeiro momento, Canfield achou a ideia de ser pai a melhor notícia que poderia receber. Depois, veio o medo e o desespero. Agora, faltando cinco meses para a chegada do filho, a euforia voltou. O futuro papai admite que a idade em que está o ajudou a aceitar a paternidade de forma mais madura e afirma: “Sempre nadei contra a correnteza. Hoje, estou apenas navegando”.
O urologista Fernando Lorenzini comenta que, em seu consultório, é comum ouvir dos jovens “eu adoro crianças”. Para ele, isso significa “eu quero ser pai” e é uma declaração sincera.
Querer ser pai é atemporal
Constituir uma família e ter filhos se tornou uma escolha. Há quem pense na vida com um pouco mais de idealismo. O biomédico Wallyd Koury, 23 anos, faz parte deste time: “Há sempre os pessimistas de plantão, mas quem fará a minha família serei eu e a pessoa que estiver comigo. Então, deixe-nos viver em uma utopia, pois se estivermos em harmonia e sintonia, tudo ficará bem”.
Koury não atribui às questões biológicas o desejo de casar e ter filhos, apenas acredita que um homem com mais de 40 anos, acostumado com uma vida de solteiro, terá tantas manias que será difícil se adaptar a uma vida conjugal. Este pensamento o força, de certa forma, a não projetar suas metas para um futuro longínquo. “Quero muito ter minha família, porém não a qualquer custo. Colocar mais uma vida no mundo é de suma responsabilidade. Precisamos estar preparados psico e financeiramente. Com muito planejamento, mas a curto prazo.”
O desejo – antes de adolescente –, hoje é parte de um plano cheio de metas, o qual Koury tem convicção que se cumprirá. A forma como foi criado lhe incentivou a crer na instituição familiar. “Já sonhei, por vezes, que era chamado de pai. Foram os sonhos mais marcantes da minha vida.”