Comportamento

Saiba como curar o coração partido

Agência RBS
07/08/2015 11:55
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O conselho“o tempo é o melhor remédio” não encontra respaldo na ciência. É mesmo a distância que ajuda a superar o término de uma relação (Foto: Bigstock)
Sofrer por amor é um dos sentimentos mais primitivos da natureza humana. Ao contrário de outros animais, a concepção de existência do ser humano está estritamente ligada a ser cuidado, a nunca estar desamparado. “O enamoramento é uma situação em que isso vem com força. Quando nos envolvemos afetivamente, damos o que temos de melhor. Por isso, quando esse sentimento precioso é desprezado, dói. A pessoa vai precisar de tempo para elaborar essa perda, equivalente a um luto”,  explica Carlos Kessler, professor da pós-graduação em psicanálise na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Se um amigo vier encorajá-lo a desabafar sobre seus infortúnios, pense duas vezes: para o psicólogo americano Walter Mischel, da Universidade de Stanford, na Califórnia, falar sobre um relacionamento fracassado não alivia a sensação ruim. Pelo contrário: pode fazer as pessoas se sentirem piores. O ideal, avalia ele, é se distanciar o máximo possível de quem lhe causou dor e – acredite – tomar duas aspirinas. “Há uma base sólida de pesquisas para recomendar um analgésico. O autodistanciamento também é importante, pois propicia uma visão mais objetiva da realidade. A cada vez que a pessoa conta a experiência, seja para quem for, ela fica mais deprimida “, afirma o pesquisador.
O conselho“o tempo é o melhor remédio” não encontra respaldo na ciência. É mesmo a distância que ajuda a superar o término de uma relação, segundo o especialista em neurologia comportamental Antoine Bechara, da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos. O cérebro, órgão que tem muito mais participação no comando das emoções do que o coração, é o responsável por ativar a combinação“frio na barriga + taquicardia”quando você vê o ex-amor. Por outro lado, sua razão trabalha para que você dê a volta por cima. Nesse mix de sentimentos, quem ganha a luta?
“Se as memórias ruins forem mais fortes, será mais fácil chegar ao seu objetivo de seguir em frente”, diz Bechara. Por isso, sugere ele, evite ir àquela praça onde trocaram o primeiro beijo ou à igreja onde foi celebrado o casamento. Foco no dia em que seu aniversário foi esquecido ou naquela briga em que ele(a) lhe magoou. Durante o relacionamento, os piores momentos são relevados em nome do amor, em um conceito chamado de cegueira emocional.
“O termo explica atitudes que são julgadas como ruins por quem está de fora, mas não são perceptíveis pela pessoa envolvida “, aponta a psicanalista Tatiana Ades, pós-graduada em neuropsicologia e autora do livro Homens que Amam Demais, que aborda o amor patológico, o ciúme e a possessividade em relacionamentos abusivos.
Quem sofre mais
Quem leva o pé na bunda, comprova uma pesquisa da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, sofre mais com o fim do relacionamento, mesmo que já estivesse infeliz com seu par. O neurologista Antoine Bechara destaca que há uma tendência natural em ter mais desejo por aquilo que não podemos (mais) ter.
A neurocientista Lucy Brown, da Universidade Yeshiva, de Nova York, dá um exemplo: o sistema neurológico que faz com que nos apeguemos a alguém está no mesmo patamar da fome e da sede. Quando a sede se torna insuportável, o cérebro bloqueia tudo o que não é relacionado à hidratação para que você finalmente busque o seu copo d’água. O mesmo ocorre com o amor – ter sede de alguém pode não ser apenas uma metáfora, portanto.
Para desencanar dessa fissura, é preciso manter o cérebro ocupado. Iniciar um hobby, fazer novos amigos ou até mesmo começar um novo relacionamento podem ajudar. Assim, suas prioridades são rearranjadas, abrindo portas para que você se apaixone de novo.
É preciso cuidado, no entanto. Antes de partir para outra, é fundamental curtir a fossa. Quando o “luto” não é encarado, a tendência é de que a pessoa recaia, mais tarde, no mesmo tipo de relacionamento que não deu certo (às vezes, até com a mesma pessoa). “Hoje em dia, está fora de moda se deprimir, se sentir mal e se entristecer. Mas há um lado interessante nisso, que é o de poder elaborar internamente o que se passou. A pessoa que tem um coração partido deve enfrentar essa dor e não querer livrar-se dela o mais rápido possível”, diz o psicólogo Carlos Kessler, da UFRGS.
Para curtir a fossa com estilo
Confira 10 canções para superar o pé na bunda:
1. Nervos de Aço – Lupicínio Rodrigues
2. How to Fight Loneliness – Wilco
3. Veja Bem, Meu Bem – Los Hermanos
4. Yesterday – Beatles
5. Trocando em Miúdos – Chico Buarque
6. Detalhes – Roberto e Erasmo Carlos
7. Every Breath You Take – The Police
8. Can’t Stand Losing You – The Police
9. Garçom – Reginaldo Rossi
10. Ne me Quitte Pas – Jacques Brel
E outras 10 para partir para outra:
1. Não Enche – Caetano Veloso
2. Começar de Novo – Ivan Lins e Vítor Martins
3. Rolling in the Deep – Adele
4. You’re So Vain – Carly Simon
5. Olhos nos Olhos – Chico Buarque
6. Amor pra Recomeçar – Frejat
7. Gostava Tanto de Você – Tim Maia
8. Fuck You – Cee Lo Green
9. Volta por Cima – Paulo Vanzolini
10. I Will Survive – Gloria Gaynor