Aos 90 anos, “São Baiano das Agrárias” avisa que vai continuar trabalhando
Camila Petry Feiler, especial para Gazeta do Povo
29/05/2017 16:01
Ele é considerado protetor, conselheiro e desatador dos nós dos estudantes de Agrárias da UFPR (Foto: Divulgação)
José Alves Pereira, o Baiano, é um ícone entre os estudantes, professores e funcionários do centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Sua forte atuação no campus vai além da venda de guloseimas. Há 50 anos, ele distribui simpatia e conhecimento por quem passa pelo local, tanto que ficou conhecido como “protetor, conselheiro e desatador dos nós dos estudantes”. Tanta dedicação rendeu uma homenagem e muito reconhecimento. Nesta segunda-feira (29), ele ganha uma festa para celebrar seus 90 anos, além de uma placa comemorativa em frente ao Restaurante Universitário do Setor de Ciências Agrárias.
Por trás do mito, uma história de superação. Pereira, que na verdade não é Baiano, nasceu na cidade de Crato, no Ceará. Desde que começou a vender sorvetes, na década de 1960, no entanto, as pessoas pediam “dá um sorvete, baiano” e o apelido pegou. Baiano perdeu os pais ainda criança e enfrentou desde cedo muitas dificuldades na vida, sem perder o humor característico. Foi pedreiro, militar, até descobrir sua verdadeira vocação: vendas.
Saiu do Nordeste em um caminhão pau-de-arara para tentar uma vida melhor em São Paulo. De lá, embarcou para mais uma aventura em Paranavaí, onde conheceu sua mulher, Maria de Oliveira Pereira, que morreu em fevereiro deste ano e com quem foi casado por 50 anos.
Ele chegou em Curitiba em 1967, começou a vender sorvetes no centro da cidade, mas por conta da concorrência precisou achar um outro lugar para vender e acabou no campus da UFPR, onde está até hoje. “Eu tenho muita alegria por estar aqui nas agrárias, onde os professores, alunos, todo mundo tem muito carinho por mim”, diz.
O carinho por Baiano se evidencia durante as duas formaturas anuais do curso de Agronomia: entre os homenageados um nome é garantido – José Alves Pereira, o Baiano. O título de “Amigo da Turma”. Nessa ocasiões, o ambulante veste seu terninho e aguarda seu nome ser chamado. E lá vai mais uma plaquinha de homenagem para sua coleção, tão grande que já não cabe mais no quarto.
Todo esse carisma gerou curiosidade, a ponto do engenheiro florestal Bruno Monteiro Ramos Truiti decidir escrever um livro de memórias chamado “São Baiano das Agrárias”, onde conta a saga do retirante. O livro que levou 11 meses para ficar pronto, está à venda na famosa barraquinha, e faz parte do projeto Artesão de Memórias.
Aos 90 anos, ele diz que vai continuar trabalhando enquanto tiver saúde. “Meus restos de dias terminarei nas agrárias”, diz. Baiano teve cinco filhos, quatro deles vivos, e cinco netos. Uma filha mora nos Estados Unidos há 27 anos. Os outros são esperados para a festa de segunda-feira, mais uma homenagem para o “São Baiano das Agrárias”. A festa será a partir das 15 horas, em frente ao Restaurante Universitário (Rua dos Funcionários, 1540), incluindo a inauguração da placa comemorativa.