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Ana Cristina e Itacy: sem chance para as armadilhas que minam o relacionamento.
Segredinhos ditos ao pé do ouvido podem até incrementar uma relação, manter a cumplicidade viva, a sensação de que há alguém no mundo que compartilha coisas com você. Mas preservar um certo mistério faz parte do jogo e contar tudo – veja, isso não é um incentivo à mentira – pode não ser um bom negócio, principalmente em uma relação estável na qual os papéis estão bem definidos e há uma individualidade saudável entre ambos.
Antes de abrir a sua caixa de Pandora pessoal é preciso imaginar o impacto disso na sua relação. Cada casal estabelece com o tempo uma dinâmica, que define o que se conta e o que se omite na hora certa. Não é muito diferente do jogo social que se pratica com os amigos, por exemplo. Tem o que você é na essência e aquilo que você quer que os outros saibam. “Normalmente as pessoas procuram cúmplices nas suas relações sociais, tratam de assuntos diferentes com cada um. Quando se tem um par é normal acumular os assuntos para trocar com essa pessoa, desde que cada uma das partes resguarde o seu espaço”, comenta o psicoterapeuta Rubens Marcondes Weber.
Segundo a psicóloga Cleia Oliveira, há coisas do universo particular que precisam ser preservadas. Não são necessariamente segredos, mas questões e reflexões absolutamente pessoais que não precisam ser compartilhados e que ajudam a manter o “mistério” sobre o outro. “Por que eu falo tanto e não consigo preservar nada que é meu? Será que estou esperando a aprovação do outro? Qual o meu grau de dependência do outro? Estou procurando um par, uma mãe superprotetora ou um pai censor?”, questiona Cleia. “Por outro lado, se sou fechado demais, que imagem quero passar? Até onde eu quero levar esse meu ‘poder’? Por que eu ‘dispenso’ o outro?”
Os segredos ganham peso com o tempo. O que não significa que você tenha que sair contando suas questões mais íntimas para o seu par. “Se eu não resolvo elas nem comigo, o outro não tem como entender o contexto. Se passo demais, saboto a relação. Tem que saber a hora certa dos dois. Se os dois tiverem suporte, ambos crescem”, diz Rubens. Mas se o seu medo é contar uma questão séria e isso cair como uma bomba sobre a relação, lembre-se que a história pessoal “faz parte do pacote”. “Se o outro não aceita, será que essa era uma relação certa para você?”, avalia o psicoterapeuta.
Barganhar a partir de segredos revelados, na opinião de Cleia, é uma atitude imatura. “‘Eu tenho um segredo, se você fizer o que quero eu conto’. É a história da ‘bola é minha’”, diz. Por outro lado, lembra Rubens, há quem use o segredo para justificar ações anteriores, numa espécie de “chantagem branca”: “‘Contei que eu era assim e você sempre aceitou. A gente já fez esse trato antes’.”