A idade ideal para deixar as crianças dormirem na casa de amigos e o que ensinar a elas
Danielle Blaskievicz, especial para a Gazeta do Povo
31/01/2019 17:00
O filho da relações públicas Priscila Michi Bicalho costuma receber os amigos em casa. Foto: André Rodrigues/ Gazeta do Povo | Gazeta do Povo
Boas maneiras não saem de moda nunca, especialmente quando o assunto diz respeito aos filhos. Seja nas férias ou nos fins de semana, é comum eles visitarem familiares e amigos para brincar algumas horas ou mesmo passar alguns dias. Para evitar conflitos – entre as crianças e inclusive entre os adultos – o papel dos pais é o orientar, estabelecer regras e deixar espaço para o diálogo.
A psicanalista Bárbara Ferraz de Campos, especializada no atendimento de crianças e adolescentes, destaca que as oportunidades de visitar e receber visitas são importantes para o processo de socialização infantil. “A criança vai conviver com outras crianças, outras famílias, em ambientes diferentes daquele que ela está acostumada”, explica.
Nesse contexto, a criança vai entender que existem outros perfis de famílias, outras formas de viver e de conviver e até mesmo outras configurações familiares. Bárbara destaca, no entanto, que algumas questões independem de local ou idade: “respeito, bom senso e educação nunca saem de moda”.
A relações públicas Priscila Micchi Bicalho, mãe de três meninos – Eduardo, (4 anos); Felipe (2) e Pedro (1) – tem os filhos pequenos ainda, mas Eduardo, o mais velho, está acostumado a frequentar a casa dos amigos que moram no mesmo prédio que ele, especialmente durante as férias.
Apesar da pouca idade, Priscila permite essa convivência diária inclusive porque conhece bem todas as crianças e suas famílias. Isso não significa que não existam regras. “Ele sabe que não pode circular pelo prédio desacompanhado. Se quer descer para a quadra de futebol, eu levo. Na hora de voltar, ele interfona para ir buscá-lo”, explica.
Amadurecimento
Priscila conta que gosta de observar, à distância, o entrosamento da criançada e percebe o quanto essas oportunidades são essenciais para a formação da personalidade. “É importante dar autonomia aos poucos para os filhos. Quando os vejo juntos, é a maior negociação para tudo, até para decidir quem vai apertar o botão do elevador”, analisa.
Sua vizinha, a dentista Sandra Mara Ponciano de Queiroz, mãe da Luísa (17) e do Lucca (10) – um dos melhores amigos do Eduardo –, também gosta muito dessa interação entre as crianças. Apesar da diferença de idade entre eles, ela percebe o quanto eles amadurecem nesse processo de socialização.
Preocupações modernas
A empresária Danielle Milarski– mãe da Sofia (14) e do André (10) – conta que sempre deixou as crianças dormirem na casa dos amigos. Além de conhecer todas as famílias, ela sempre teve uma conversa aberta com as crianças para falar de possíveis riscos. “O maior medo dos pais envolve a questão do abuso, por isso sempre conversei com eles de forma transparente. Cada fase da criança há uma forma de tratar esse assunto sem chocá-los”, explica.
Porém, a preocupação de Danielle hoje é outra e ela não descarta rever suas decisões: “Com essa história de liberação do porte de armas, passei a me preocupar. Está todo mundo falando nisso e as crianças não estão alheias. A curiosidade delas também fica aguçada”, explica, referindo-se à possibilidade de os filhos frequentarem algum ambiente onde possam ter acesso a armas. “Estamos absorvendo a cultura norte-americana”.
A psicóloga Juliana Farias Bibow, mãe de três filhos – Julia (16) e os gêmeos Beatriz e Diogo (10) – mora em Chicago, nos Estados Unidos, há quatro anos e diz ter percebido muitas diferenças na forma de se relacionar. São protocolos diferentes, inclusive nas festinhas infantis. No “play date” já vem especificado o horário que a festa começa e termina.
Juliana conta que quando o convite é exclusivo para os pequenos, os pais precisam entregar um termo assinado – que é enviado junto, geralmente por e-mail ou mensagem de texto – isentando os anfitriões de qualquer responsabilidade no caso de a criança se machucar ou ocorrer algum outro incidente. “No início eu estranhava muito, mas hoje eu até entendo o ponto de vista deles”, enfatiza.
Confira algumas dicas da psicanalista:
– Idade mínima: é importante que a criança tenha um certo grau de independência, saiba se comunicar, expressar suas vontades e já tenha sido desfraldada;
– Informar se a criança tem algum tipo de intolerância a alimentos, remédios ou animais;
– Ter uma relação estabelecida com a família que irá receber a criança;
– Deve ser um ambiente conhecido para a criança, onde ela se sinta segura. Para famílias que ainda não têm convivência, a aproximação deve ser gradual, começando com pequenos períodos de brincadeira e só depois ampliar essa permanência na casa do outro;
– Orientar a criança que ela vai passar um tempo na casa de outra família, com outras regras e outros hábitos. É importante que ela respeite o modo de viver do outro;
– Respeitar os horários, que devem ser combinados previamente pelas famílias. Se a criança foi dormir na casa do amiguinho, deve-se estabelecer o horário que ela deve chegar e o melhor momento para ir buscá-la no dia seguinte;
– Questionar previamente sobre a programação para que a criança leve tudo o que pode precisar: sunga, boné, chinelos, protetor solar, dinheiro etc;
– Os pais nunca devem menosprezar a autonomia da criança, principalmente os que já são um pouco mais velhos e expressam suas vontades e desejos;
– Estabelecer um diálogo claro e aberto com a criança. Usar uma linguagem adequada para cada faixa etária para orientar sobre abusos e outros tipos de violência;
– Prestar atenção aos sinais não verbais que o filho pode transmitir, mas que pode ter medo de verbalizar.