Síndrome de Grinch: saiba por que algumas pessoas odeiam o Natal
Raquel Derevecki
21/12/2018 07:00
Se você não gosta de Natal, respire fundo e tente entender os motivos. Foto: Bigstock
Sucesso de bilheteria este ano, a animação “Grinch” conquistou fãs pelo mundo ao contar a história de uma criatura verde que não suportava o Natal. Na trama, o personagem tenta roubar todos os presentes para impedir a festividade, mas, aos poucos, a união e solidariedade de uma criança transformam seu coração, fazendo com que ele se entregue à magia natalina. O filme é baseado no clássico da literatura infantil “Como o Grinch Roubou o Natal”, mas também representa a história de muitas pessoas que não suportam pinheirinhos decorados, trocas de presente e outras tradições desta época do ano.
A artesã Neide de Oliveira Fonseca, de 47 anos, por exemplo, acredita que o Natal se tornou sinônimo de consumismo e, por isso, não vê motivos para comemorá-lo. “Não gosto dessa época do ano porque as pessoas só pensam em bagunça, bebidas e exageros. Virou um momento de compras”, lamenta a moradora de Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba.
Já a corretora de imóveis Solange Ferreira Ribas, de 55 anos, fica revoltada com o fato de muitos só praticarem a solidariedade durante o mês de dezembro. “É pura hipocrisia porque eles olham só para o seu umbigo o ano inteiro. Aí, no Natal, ficam sensibilizados e tentam ajudar todo mundo. Isso é algo para se fazer diariamente”, afirma a curitibana.
Na animação "Grinch", o personagem não suporta o Natal e tenta roubar todos os presentes a fim de impedir a festividade. Foto: Illumination Entertainment
Também há pessoas que não comemoram o Natal por crenças religiosas. No entanto, segundo a médica psiquiatra Ana Heloisa Gonçalves, muitos “fogem” da comemoração devido a algum trauma no âmbito familiar.
“O Natal é uma época em que as famílias costumam se reunir, então, se a pessoa já sofreu violência dentro de casa, não teve uma família estruturada ou viveu algo ruim na infância, ela pode ter dificuldade para comemorar essa data”, explica.
O mesmo ocorre com aqueles que perderam alguém especial. “Para eles, o Natal acaba se tornando um momento triste porque não podem mais compartilhar a festa com pessoas queridas”. Esse é o caso da comerciante Thais Athanazio, de 38 anos. Moradora do bairro Pilarzinho, em Curitiba, ela cresceu acostumada a passar todos os Natais com a família reunida. “Minha avó preparava a ceia e todos os meus tios iam. Além disso, meu avô trabalhava na fábrica de brinquedos Estrela, então eu ficava esperando a meia-noite ansiosamente para poder abrir todos os presentes. Era o dia mais feliz do ano”, recorda.
No entanto, sua avó faleceu em novembro de 2001 e o avô, em dezembro de 2011, fazendo com que o Natal perdesse o brilho. “Nunca mais nossa família foi a mesma. Cada um foi para um lado e eu não vejo a hora de as festas de final de ano passarem”, desabafou. Mesmo assim, ela afirma que se esforça anualmente para que seus três filhos tenham lembranças positivas da infância. “Dou presentes, tento passar a importância da união e também o real sentido da data, que é o nascimento de Jesus. Mas preciso me esforçar bastante para conseguir”, relata.
O que fazer?
De acordo com a médica psiquiatra, ainda que seja difícil para a mãe, a atitude dela está correta e demonstra respeito pelo sentimento da família. “Se os filhos estão entusiasmados com o Natal, ela precisa apoiar a alegria deles e não reforçar emoções negativas”. Essa experiência alegre é importante para o desenvolvimento da criança, mas não pode ser fingida.
“Não adianta tentar esconder a tristeza. A criança vai perceber e, quando ela perguntar o motivo, explique que é por causa da saudade”, sugere Ana Heloisa.
Já nos casos em que a pessoa prefere se isolar durante as festividades de Natal, é importante que os familiares enviem o convite para as comemorações. “Nunca insista, mas chame. Vai que desta vez ela está melhor e aceite participar?”.
Caso nenhum convite resolva e a tristeza persista durante o restante do ano, interferindo na rotina do indivíduo, é importante que ele procure ajuda de um psicólogo ou psiquiatra para tratamento. “Aí vamos avaliar se há necessidade de medicamentos ou apenas do acompanhamento psicológico”, pontua a médica.