“Curitibanices” que personalidades levam por esse mundo afora
Bruna Covacci
25/03/2016 22:00
Como diria o escritor catarinense com alma e coração curitibano, Cristovão Tezza, “em nenhum outro lugar do mundo o olhar do Outro será tão mortal como em Curitiba”. Em seu texto “O Olhar de Curitiba” o autor narra formas de agir na cidade e retrata o povo curitibano em uma sequência de imperativos ligados ao comportamento. Aqui há muito do pode e não pode. Muito trejeito. Muito misticismo. E é esta mistura de costumes e de gente que povoou as ruas e se tornou síntese desta cidade que, no dia 29, completa 323 anos. Em sua homenagem, resolvemos falar com parte desse povo, que mesmo falando piá, pedindo no carrinho de cachorro quente um especial com duas vinas, se escondendo para não ter que conversar com o vizinho no elevador, acreditando na loira fantasma se destaca em meio às próprias “curitibanices”.
Letícia Akemi/Gazeta do Povo / divulgação/Rede Globo.
No ar como Eulália, em Velho Chico, novela das 21 horas da Globo, a atriz curitibana que é fã do Largo da Ordem quase não consegue vir à cidade. “Há um ano que não piso na terrinha. Sinto muita falta, principalmente, dos meus amigos”, confessa. Ainda assim, não abandonou o hábito de separar o lixo e sempre pede para sua mãe levar pinhão quando a visita. É um bom jeito de matar a saudade, né?
Ary Fontoura, ator, 83 anos
Daniel Derevecki/Gazeta do Povo / divulgação/Rede Globo.
O ator lembra com carinho dos 30 anos que morou em Curitiba. “Visitar a cidade é reencontrar o que vivi. Tenho o prazer de rever casas antigas que não foram demolidas e recantos lindos. Para mim, a cidade é um todo e não uma particularidade”, contou Fontoura, que interpreta Quinzinho em Êta Mundo Bom!, novela global das 18 horas. O destino é o seu preferido para relaxar e, mesmo dividindo-se entre o Rio e São Paulo, sempre está atento para saber o que está acontecendo na terrinha. De família italiana, adora comer massa e sempre se lembra de Santa Felicidade como um núcleo gastronômico intenso. “A população ainda é reverenciada pelo melhor metro quadrado de área verde do Brasil e conhecido pelo clima… Isso tudo fica na gente. Nem sinto tanto frio no Rio de Janeiro ou em São Paulo por estar acostumado com o frio de Curitiba”, salienta.
Mariana Smolka, pesquisadora de tendências, 28 anos
Reclamar do frio é a mania mais curitibana de Mariana. Ela, que criou a #curitibacool confessa que desde criança adorava os ônibus coloridos. “É uma identidade nossa, o design está presente em nosso dia, seja nas lixeiras, nos tubos e na comunicação dos ônibus”, diz. Fã do sorvete de pistache da tradicional sorveteria A Formiga, todas as vezes que passa de carro pela Visconde de Guarapuava tenta descobrir qual a pista que vai andar mais rápido. Apesar de considerar o Mercado Municipal e o Museu Oscar Niemeyer lugares turísticos, gosta mesmo é das novidades constantes e das pessoas circulando por lá.
Alice Ruiz, poeta, compositora, tradutora e publicitária, 70 anos
Daniel Castellano/Gazeta do Povo / Ruiz Leminski/divulgação.
Um retrato vivo da cidade em forma de poesia, Alice Ruiz gosta mesmo é das cores de Curitiba: as flores, o pôr-do-sol e o céu, ora cinza, ora de brigadeiro. Os dias frios e chuvosos se misturam às suas memórias e o que há em seu coração. Entre suas manias preferidas está pisar sobre a geada pela manhã, bem cedinho. A paixão é tamanha que ela não consegue escolher um lugar preferido, mas sabe bem do que gosta, dos parques, todos eles.
Monica Balestieri Berlitz, fundadora do Clube da Alice, 47 anos
Brunno Covello/Gazeta do Povo / Divulgação.
Ela enxerga Curitiba como uma cidade modelo. Seu programa preferido é ir à Feira do Largo da Ordem sempre que possível, principalmente quando algum turista conhecido está por aqui. Ela também adora a Ópera de Arame, “ quando ela está iluminada, parece um sonho!”, e tem ótimas lembranças da infância das caminhadas no Passeio Público. Honrando seu jeito de “Alice”, ela não nega a raíz quando solta: “Aiiiiiii, guria!” numa conversa.
Fagner Zadra, ator, 32 anos
Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Natural do Rio Grande do Sul, mas há 11 anos em Curitiba, Zadra acredita que esta é a melhor cidade do mundo, principalmente porque se sentiu acolhido. Aqui ele aprendeu a usar ceroulas, conferir a previsão do tempo pelo menos três vezes ao dia e a falar “tesão” para coisas boas na frente dos outros sem sentir vergonha ou maliciar. Seus lugares preferidos? O Curitiba Comedy Club e Gato Preto (risos).
Maureen Miranda, atriz e artista plástica, 40 anos
Antônio More/Gazeta do Povo
Representante da arte paranaense, Maureen Miranda não nega a terrinha. Quando está na cidade, faz questão de passar no O Torto Bar para comer o bolinho de carne do Magrão. Como boa curitibana, não arrisca sair de casa sem levar um casaquinho e quando está fora por conta do trabalho admite sentir muita saudade de casa, localizada no bairro Mercês. “Adoro poder usar a lareira e fazer pinhão na brasa durante o inverno”, diz. O Parque Barigui é o seu lugar preferido.
Guilherme Weber, ator, autor e diretor, 40 anos
Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
As suas memórias de Curitiba se agitam em lembranças felizes em lugares como o quarteirão do Teatro Guaíra, a Biblioteca Pública, o tradicional Bar Palácio e a Confeitaria das Famílias. O ator sente muita falta da terra natal: “é nostalgia em estado puro. É sentir saudade da juventude”, diz. De três em três meses, ele vem à cidade. “Mantenho o saudável hábito curitibano de evitar ao máximo incomodar o outro. Meço com a régua da total necessidade qualquer tipo de pedido e jamais vou à casa de alguém sem avisar”, brinca.
Luís Alberto Melo, 58 anos, ator
Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo.
Luís Melo começou sua carreira no Teatro Guaíra, em 1969, e trabalhou como ator e professor em Curitiba até 1985, próximo de completar 30 anos. Para ele, sua curitibanice preferida será sempre a comilança. Mas, a marca registrada do seu jeito curitibano é o sotaque de “leite quente” que ele levou para além da terrinha. O ator não consegue escolher um lugar preferido por aqui. “Tudo é bom, menos os shoppings”, brinca.