Carol Rossetti: diálogo é o primeiro passo para mostrar um incômodo e promover mudanças reais para as mulheres. (Foto: Arquivo pessoal).
Há pouco mais de um ano, a ilustradora mineira Carol Rossetti, 27 anos, resolveu usar o seu trabalho para fazer uma espécie de protesto em tom amigável nas redes sociais sobre as formas de controle que a sociedade impõe sobre o corpo, comportamento e identidade das mulheres. O objetivo, como ela mesma diz, era o de apontar um problema e mostrar o quanto ele é comum. “O diálogo é o primeiro passo para mostrar um incômodo e promover mudanças reais. É uma forma de tornar algumas situações ‘comuns e invisíveis’ em ‘anormais e visíveis’”, explica. Seus cards tomaram uma proporção tão grande que foram traduzidos para 15 idiomas. No começo, Carol traduzia para inglês e, depois de um tempo, muitas pessoas se ofereceram para fazer de forma voluntária versões para outras línguas. “A primeira menina que me procurou foi de Israel, ela queria traduzir para o hebraico”, lembra.
O “Projeto Mulheres”, reunido na sua página do Facebook com mais de 270 mil curtidas (o canal é controlado só por ela!), se tornou o livro Mulheres (Editora Sextante, 160 páginas, R$ 39,90), lançado no último mês. A publicação teve os direitos vendidos para Estados Unidos, Espanha e México. A personagem pioneira, Marina, foi desenhada em abril de 2014. É uma mulher que gosta de usar vestidos listrados, mas se preocupa porque as revistas de moda dizem que esse modelo não combina com o corpo dela. “Liga para as revistas não, Marina. O importante é usar o que gosta e se sentir bem com o próprio corpo”, aconselha o quadrinho. O nome de Marina, assim como o de todas as figuras que a sucederam, é aleatório. As “meninas” de Carol são fruto de experiências pessoais, de pessoas conhecidas ou, ainda, sugeridas por leitoras. “Não é porque minhas protagonistas são femininas que esse é um projeto apenas para garotas”, salienta. Para ela, é para todo mundo. “Uma vez, uma mãe me escreveu falando que ela aproveitava meus desenhos para conversar com a filha de 6 anos. Um cara me disse que, depois de vê-los, tinha percebido o quanto estava sendo babaca com as mulheres”, conta a autora.
Moda
“A moda pode ser um tanto opressora quando aliada à crueldade da indústria da beleza. Eu prefiro abordá-la como um instrumento de liberdade e empoderamento, em que o uso de um biquíni representa o amor-próprio e a autoestima”, por exemplo. Segundo Carol, a moda tem um grande potencial de libertar as mulheres e de se respeitar a diversidade de estilos e de corpos existentes.
Haters
Tudo tem seu preço. Ao mesmo tempo em que a internet permitiu que o trabalho de Carol se disseminasse, ela é a porta de entrada para muitas críticas. “Eu acho importante levar em consideração as avaliações positivas, mas tudo o que é ofensivo eu ignoro. Cuido da minha página sozinha, então fico de olho, mas às vezes é difícil controlar ou dar atenção para quem me escreve”, comenta.
Beleza
Para ela, existe um padrão de perfeição física muito cruel e o efeito disso nas mulheres é devastador. A mulher, ao longo de sua vida, é levada a acreditar, conscientemente ou não, que só pode ter sucesso de verdade se for bonita. “A primeira coisa avaliada em qualquer mulher é sempre a beleza. O que eu proponho nas ilustrações do projeto Mulheres é desconstruir essa ideia. Não há uma forma única de ser bonita nem a beleza deveria ser o foco da autoestima feminina”.
ILUSTRAÇÕES
Confira a seguir alguns cards que fazem parte do livro Mulheres: