Cotidiano de Antigamente

Paulo José da Costa

Paulo José da Costa

Paulo José da Costa é de Ponta Grossa, comerciante livreiro, memorialista, blogueiro, youtuber, dono de acervo e criador das comunidades Cotidiano de Antigamente em Curitiba e Antigamente em Ponta Grossa, no Facebook.

A saga de Dona Maria Quaroni Muggiati – parte 1

Paulo José da Costa
Paulo José da Costa
17/02/2023 15:42
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Maria Quaroni Muggiati e quatro dos filhos, em foto de 1889. | Arquivo Paulo José da Costa

Puxando um fio de história daqui, outro dali, na tentativa de contar para meu neto Guilherme algo sobre um dos seus tetravôs, o anarquista Ernesto di Carlo Muggiati (1849-1889), acabei enveredando por outras searas, passando pela Colônia Cecília e indo parar na Revolução Federalista, com a figura do injustiçado Barão do Serro Azul.
Puxando esses fios a gente percebe que é muito fácil as histórias de família se entrelaçarem de modo que fica uma delícia atrair a atenção das crianças, sempre ávidas, ainda mais meu neto que tem um avô com milhares de livros e fotos antigas em casa, cada item pedindo olhos para ser esmiuçado.
Ernesto di Carlo Muggiati veio com a família para o Brasil tendo na mente a visão utópica da Colônia Cecília, fundada por Giovanni Rossi, o que pretendia que fosse uma “experiência anárquica”, que por motivos diversos, já estudados em diversos livros e teses, não deu certo. Quem melhor estudou, destruindo mitos e trazendo a lume certezas históricas comprovadas com muitas entrevistas, consultas em arquivos e viagens, foi o médico Cândido de Mello Neto, cujo livro “O anarquismo experimental de Giovanni Rossi” recomendo como imprescindível. E para as narrativas do cotidiano daquela gente, com testemunhos, fotos, mapas,  sugiro o “tijolo” enciclopédico, com mais de mil páginas, de Arnoldo Monteiro Bach, “Colônia Cecília”. Para nós aqui neste pequeno espaço é importante dizer que infelizmente o nosso Ernesto, sendo anarquista e por conseguinte avesso a leis e normas do Estado, não quis se submeter à quarentena na chegada do navio Industan ao Rio de Janeiro, pagando um preço muito caro por isso, a própria vida. Fugindo às normas de saúde, veio na vapor “Campos” para o Paraná. Algumas fontes citam que contraiu febre amarela, outras tifo, mas o fato é que morreu em 3 de março de 1889, deixando sua mulher Maria Quaroni Muggiati e cinco filhos ao desamparo em Paranaguá. Seu corpo repousa na Ilha das Cobras, no litoral paranaense.
Maria Quaroni Muggiati, nascida em 1858, sem recursos, conseguiu com ajuda vir para Curitiba e, aconselhada, distribuiu seus cinco filhos para famílias de posses para que fossem cuidados, possivelmente com a condição de que ajudassem nos serviços domésticos. Como narra o Dr. Jayme Reis em sua tese apresentada à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1898, “no dia seguinte à chegada dos colonos, não era pequeno o número de famílias que ia visitar a hospedaria com o fim de contratar creadas para o serviço domestico...”  Ainda vou contar direitinho essa história. Dessa forma, com um médico, o Dr. Leão,  ficou o mais velho, Diogo, com 12 anos. Marianna, com 11, foi acolhida na casa do Barão do Serro Azul. Os Alencar Guimarães receberam  José, 9, e Alberto, com apenas 7, quedou com o ervateiro Fido Fontana. Finalmente, a avó de minha sogra Carmem Gerber Vargas, Giuseppina, a “vó Pina”, como carinhosamente ela ainda a chama, foi acolhida pelos Veiga. Acho remota a possibilidade de Giuseppina ter “trabalhado” aos 3 anos, mas os demais possivelmente cumpriram essa sina. Se não, quem souber que me conte a história, para eu fazer a correção. Mas Maria Quaroni Muggiati, excelente costureira e acima de tudo mãe aguerrida, fez das tripas coração até reunir a sua prole novamente, o que conseguiu depois de quatro anos de dura labuta. Como foi isso e o destino dos filhos eu conto na próxima coluna!