Cotidiano de Antigamente

Paulo José da Costa

Paulo José da Costa

Paulo José da Costa é de Ponta Grossa, comerciante livreiro, memorialista, blogueiro, youtuber, dono de acervo e criador das comunidades Cotidiano de Antigamente em Curitiba e Antigamente em Ponta Grossa, no Facebook.

Os primeiros planadores do Paraná

Paulo José da Costa
Paulo José da Costa
15/12/2020 21:30
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Foi um rebuliço entre a piazada dos colégios quando correu a notícia de que diversos pilotos alemães viriam a Curitiba para se apresentar com suas máquinas voadoras. E duas coisas deixaram a petizada e mesmo os grandinhos ainda mais agitados: os aviões não tinham motor, como pode? E um dos ases era uma campeã: Hanna Reitsch, que batera recordes de altura e de tempo no ar, fazia acrobacias, loopings, uma loucura.
Corria 1934. A Missão Alemã chegou no navio Monte Pascoal em 23.1.1934 e logo apresentou-se no Campo dos Afonsos no Rio de Janeiro. Depois, seguiu para São Paulo para seu show no Campo de Marte. Em março, estavam em Curitiba. A colônia alemã era muito grande e era importante a visita. Depois, já estavam sabendo que aqui se desenvolvia a arte dos planadores, com um clube recém-fundado na capital, o Ursinus, e outro em Ponta Grossa.
Hanna Reitsch visitou os campos do Atuba para suas decolagens com o planador GRUNAU BABY, que era lançado ao ar com cabos elásticos ou puxado por um outro avião. Nesse caso, então, era usado o Campo do Bacacheri. O planador alçava voo e lá no alto, aos 200, 250 metros, era solto e ganhava altura, até 2.000 metros ou mais, tudo ao sabor do vento. Hanna Reitsch fez uma conferência sobre o voo de planadores, com plateia cheia.
A Missão Alemã de Voovelismo encontrou gente experiente em Curitiba. Um ano antes da visita, em 4 de abril de 1933, foi fundado o “Segel Flieger Club Ursinus”, em homenagem a Oscar Ursinus, o criador do célebre planador GRUNAU. Mas esse pessoal animado não tinha dinheiro para mandar buscar um planador desmontado da Alemanha. E, assim, usando plantas de revistas e muitas vezes planejando seus próprios aparelhos, construíram suas naves voadoras aqui mesmo. O primeiro planador de que se tem notícia em Curitiba foi construído no começo de 1933, bem como o segundo, que tinha um tipo improvisado de cabine para o piloto. Só o terceiro aparelho curitibano foi um GRUNAU BABY, presenteado pelo governo germânico em 1938 (ou doado por algum endinheirado, não pude descobrir).
 Oficina do Clube Ursinus, onde eram desenvolvidos os planadores paranaenses.
Oficina do Clube Ursinus, onde eram desenvolvidos os planadores paranaenses.
 Reunião dos membros do Clube Ursinus.
Reunião dos membros do Clube Ursinus.
Ponta Grossa e Curitiba sempre foram cidades muito ligadas nas atividades esportivas e culturais. Lembro do primeiro jogo de futebol intermunicipal realizado na Princesa dos Campos em 1909. A ferrovia tudo facilitava. Assim, não é de admirar que lá também tenha surgido, concomitantemente, um grupo atuante de voo com planadores. Mathias Grani, no comecinho de 1933, conversando com Bruno Kochinski e Willy Polewka, se entusiasmaram e resolveram formar um grupo. Outros apareceram e dali saiu o plano de construir o seu próprio aparelho.
O grande artífice do planador, que foi chamado de GRÜNE POST (correio verde) foi Mathias Grani, que em vez das madeiras alemãs, impossíveis de conseguir, usou os nossos pinho e cedro, bem mais pesados. Tudo isso requereu cálculos precisos. Mas cada um do grupo usava de suas habilidades para dar forma ao planador. O pano de revestimento foi feito em São Paulo, mas muito adaptado, pois não se encontrava nada do que eram feitos os aparelhos europeus. As cordas usavam fios de borracha e essas foram trazidas da Alemanha a um preço que deixou as bolsas dos nossos abnegados mais vazias: 12 contos de réis, o preço de um carro popular! Elas eram necessárias para fazer os planadores alçarem voo sem a necessidade de reboque por outro avião.
O primeiro voo do Grüne Post foi feito a partir de uma encosta próxima à estrada para Imbituva pelo senhor Willy Polewka. Era 30 de dezembro de 1934. O sonho de voar se realizava também nos Campos Gerais.
 Grupo de aficcionados e curiosos pelo aeromodelismo, no Atuba.
Grupo de aficcionados e curiosos pelo aeromodelismo, no Atuba.
E assim foi em muitas cidades do Brasil. E virou uma febre, a ponto da empresa Varig criar a VAE Varig Aero Esporte, uma divisão da companhia dedicada ao voovelismo e ao aeromodelismo, com seus famosos acampamentos. Eram aceitos no clube jovens de ambos os sexos, com no mínimo 16 anos de idade. O plano era dar brevês de aviador para a juventude e criar condições para competições e incentivo à profissão.
 Aeronauta não identificada a postos.
Aeronauta não identificada a postos.
 Acampamento da VAE Varig Aero Esporte, em Curitiba.
Acampamento da VAE Varig Aero Esporte, em Curitiba.
Os alunos aprendiam também a construir seus planadores. As atividades dos clubes de planadores e da VAE foram um enorme passo para o desenvolvimento da aviação no Brasil. As fotos, de meu arquivo, mostram diversos momentos dessa época pioneira, infelizmente praticamente apagada da memória histórica. Os livros não mencionam as histórias dos pioneiros paranaenses e, com o presente artigo, pretendo, em parte, reparar e quem sabe inspirar pesquisas mais profundas sobre eles.

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