Cotidiano de Antigamente
Paulo José da Costa
Paulo José da Costa é de Ponta Grossa, comerciante livreiro, memorialista, blogueiro, youtuber, dono de acervo e criador das comunidades Cotidiano de Antigamente em Curitiba e Antigamente em Ponta Grossa, no Facebook.
Reminiscências musicais da Velha Curitiba
Programas de diversos artistas em Curitiba. | Acervo de Paulo José da Costa
“O Guayra apresentava hontem, por providencial coincidência, um aspecto de gala. O que Curityba tem de eminentemente social compareceu ao Theatro. Em sua friza, o exmo sr. Presidente do Estado, em companhia de sua exma família. O sr. governador da cidade, o sr. desembargador chefe de polícia, o sr deputado Eurides Cunha, com as suas exmas famílias. E assim, dezembargadores, advogados, industriaes, médicos, militares e suas famílias, todo um mundo social de primeira água demonstrava, pela sua presença, estar o Guayra abrigando o que de mais fino e representativo podia a sociedade curitybana offerecer…”
“…como é sabido, é sempre nas galerias dos theatros que se reúnem os estudantes, a gente que melhor compreende a arte, os artistas pobres e a quem se deve os triumphos de uma encenação, os aplausos, os “bis”. Entretanto, isto só comprehendem aquelles que podem discernir o joio do trigo … Iniciava-se o segundo acto…quando no lado esquerdo das “torrinhas” manifestou-se tumulto, chamando desde logo a attenção de toda a assistência que se voltava para aquelle lado do theatro, onde eram erguidos gritos de protesto. E acto contínuo surgiram nas galerias quatro guardas cívicos, armados de revolver em punho, a reluzirem. Diante daquella disposição dos cívicos, estabeleceu-se geral confusão na platéia, camarotes, frizas e balcões, tendo algumas senhoras gritado, tomadas de susto e medo. E da platéia, que estava repleta, innumeros cavalheiros protestaram em altas vozes contra os guardas. Foi uma scena como jamais se verificou em casas de diversões nesta capital, e que difficil se torna descrevel-a. Serenados os ânimos, graças à intervenção do delegado de serviço, dr. Toscano de Britto, a encenação da opereta prosseguiu. Tomaram parte no tumulto, todos armados de revolver, os guardas de numeros 60, 32, 99 e um outro que não nos foi possível apanhar o número. … Estamos certos de que o sr. desembargador chefe de policia, presente ao espectaculo de hontem, terá tomado as medidas no sentido de que taes factos não se reproduzam…”
“A vinda de Gigli a Curitiba… deveu-se basicamente a Humberto Lavalle… Diretor comercial da rádio Guairacá - inaugurada em 1948 e que vivia seu período de glória - encontrou em outro fanático pelo canto lírico, Aluísio Finzetto, o apoio para dar condições a que incluísse pela primeira (e única) vez, Curitiba em seu roteiro. O professor David Carneiro, proprietário na época do Cine Ópera … apoiou a ideia e cedeu o espaço a um preço razoável… Lavalle e Finzetto deram tanta atenção à vinda de Gigli que foram esperá-lo em Pedra Preta, na chamada rodovia Estrada da Ribeira, na época a única ligação com São Paulo. Odiando embarcar em aviões, Gigli preferiu enfrentar uma cansativa viagem de 14 horas do que entrar num avião - e assim o conde Francisco Matarazzo, seu grande amigo e admirador, colocou a disposição seu Mercedes-Benz, com motorista, para trazê-lo a Curitiba. Simpático e afável - recordam os que estiveram com Gigli - chegou bem disposto. Ficou hospedado no Grande Hotel Moderno … e por duas vezes fez refeições no restaurante Bella Napoli, de um italiano apaixonadíssimo por óperas, que fez questão de recepcioná-lo com um jantar após a sua apresentação no cine Ópera. “