Cotidiano de Antigamente

Paulo José da Costa

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Paulo José da Costa é de Ponta Grossa, comerciante livreiro, memorialista, blogueiro, youtuber, dono de acervo e criador das comunidades Cotidiano de Antigamente em Curitiba e Antigamente em Ponta Grossa, no Facebook.

“Curitiba, sua linda”: confira fotos antigas da cidade

Paulo José da Costa
Paulo José da Costa
24/03/2021 13:19
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Olhar Curitiba sempre foi fatal para os artistas, eles caíam fácil de amores. Como a namorada que nunca cansávamos de fotografar, esses pintores, gravuristas, poetas, letristas, músicos e, principalmente fotógrafos, apaixonavam-se facilmente pela cidade e suas verdes cercanias. Curitiba foi (e continua sendo) muito fotogênica.
Seria cansativo enumerar aqueles que registraram a sua beleza desde os primórdios, como Debret, o primeiro de que temos conhecimento a registrar uma vista da então aldeia de 1827. Temos também a “vista de Curytiba”, aquarela de Elliot feita em 1855. Joseph Keller, em 1866, deixou-nos uma linda outra, em que mostra a pequena urbe ao longe, em meio aos campos e com um pinheiro solitário.
William Lloyd, em 1872, Hugo Calgan em 1881, Carolina Templin, em 1888, todos paisagistas que tiveram um olhar para a velha Curitiba colonial. Essa Curitiba que resistiu até o final do século XIX para ter seu casario substituído pelas construções sólidas em estilo europeu, frutos das riquezas geradas pelo trabalho de italianos, franceses, poloneses e, principalmente alemães.
Sim, em três décadas a Curitiba colonial virou uma cidade europeia linda, com uma catedral que se avistava de quilômetros, cercada por campos repletos de chácaras que se estendiam pelo horizonte a perder de vista, repletas de parreirais, limoeiros, hortas cuidadas com carinho, granjas e rebanhos diversos, a fazer a delícia dos artistas das lentes que tudo registravam com paixão.
Vista do início da av. Luiz Xavier, nos anos 1950.
Vista do início da av. Luiz Xavier, nos anos 1950.
Esses fotógrafos maravilhosos e suas mágicas lentes! Eles se deixavam seduzir facilmente por essa cidade repleta de cores, aromas e sabores, de gente de todos os cantos da terra. Curitiba era muito fotogênica. E os fotógrafos se fartaram nos cliques, nas “vistas” e nos “panoramas”.
Passeio Público, tanque do Bacachery, estrada da Graciosa, a catedral, a Universidade, a rua XV. Os malucos se arriscavam nos ângulos mais ousados, em cima da torre da prefeitura, como fez Adolpho Volk em 1915, captando a cidade numa panorâmica gigante de oito tomadas tiradas da “torre da flecha “do Paço Municipal, que hoje carinhosamente chamamos de “Paço da Liberdade”. Não satisfeito com os cliques em terra firme, João Baptista Groff subiu aos céus em aeroplano e fez fotografias aéreas, o céu era o limite!
Mas foi com o advento do cartão postal que Curitiba ganhou o mundo, com centenas e centenas de imagens sendo espalhadas pelos correios. Fotógrafos e editores aprenderam a ter lucros explorando as belezas de sua cidade. Nos primórdios, entre 1900 e 1920, os editores Júlio Langer, Max Rösner, Cezar Schültz, Annibal Requião e Leopoldino Rocha ajudaram a tornar a bela Curityba conhecida por toda parte, com fotografias reproduzidas aos milhares, em que raramente se davam os créditos a quem as registrou.
A Praça Tiradentes na década de 1950.<br>
A Praça Tiradentes na década de 1950.
Os postais e seu colecionismo viraram mania e por sorte tivemos aqui em Curitiba uma professora, Júlia Wanderley que, além de colecionar os seus, anotava em cada um as datas e os fatos históricos ou pitorescos, tornando-os hoje preciosos registros da nossa memória. O colecionismo foi importante para a preservação de nossa memória histórica.
Depois, os próprios fotógrafos, como Wischral, Groff, Linzmeyer, Foggiatto e Armin Henkel, passaram a imprimir suas imagens e a distribuí-las por sua conta em livrarias, bancas e em qualquer comércio onde houvesse um lugarzinho para se colocar uma pequena estante com os mágicos papéis. Houve outros, inclusive muitos amadores, dos quais estou a preparar um trabalho de catalogação, mas os principais foram esses cinco.
Arthur Wischral (1894-1982) foi um mestre, fotografou a cidade desde a década de 1910, registrou com maestria a transformação da cidade colonial em urbe progressista europeia e, em seguida teve a paciência de registrar as demolições desses mesmos casarões de feição estrangeira. Foi o cronista da transformação urbana. Trabalhando para a prefeitura sob empreitada, documentou as mudanças das ruas, os calçamentos todos, a modernização da cidade. Arthur mereceu um boletim editado em 2007 pela Casa da Memória, mas ainda estamos lhe devendo um belo e robusto livro com sua história e obra, em papel de primeira.
Vista da rua XV, em torno de 1928.
Vista da rua XV, em torno de 1928.
Domingos Foggiatto (1887-1970) fez um trabalho diferente, ele foi um repórter do cotidiano. Fotografou a cidade como ninguém mas focou na vida de seus habitantes. Trabalhando em jornais, deixando milhares e milhares de registros, documentou a vida esportiva, cultural, social, política, militar, num trabalho precioso com um olhar arguto sobre o dia a dia da cidade. Nisso, ele foi o melhor.
Antônio Linzmeyer e João Baptista Groff foram outros dois mestres e nos deixaram lindas imagens, inclusive coloridas, numa coleção de encher a vista, mas ainda por serem devidamente redescobertas e divulgadas. Sobre eles todos pretendo falar em futuras matérias.
Av. João Pessoa, hoje Luiz Xavier, em torno de 1942.<br>
Av. João Pessoa, hoje Luiz Xavier, em torno de 1942.
Para celebrar o aniversário de Curitiba neste 2021 de tantas incertezas, resolvi escolher seis registros feitos por Armin Henkel (1883-1962), aquele que eu considero o mais apaixonado dos retratistas de Curitiba. Armin era litógrafo e desenhista, tendo trabalhado na Impressora Paranaense e talvez isso explique a sua maestria e olhar único.
Jamais saberemos a quantidade certa de cartões deixados por ele, vez que, além dos numerados, em quantidade que passa do milhar, deixou outro tanto sem numeração. Estou há anos cavocando, resgatando, adquirindo, trocando, fazendo o que posso para tentar completar a coleção desse mestre, mas até agora meu acervo não tem mais de 600 peças, o que mostra a dificuldade de se resgatar essas preciosidades. Talvez quem herdar meu acervo consiga esse intento. O Armin, por sorte, marcava suas imagens com um delicado “Ah”, num canto inferior da foto, o que ajuda a identificá-las.
Av. João Pessoa, o coração da cidade, em torno de 1942.
Av. João Pessoa, o coração da cidade, em torno de 1942.
As seis imagens de Armin Henkel que escolhi para enfeitar esta edição da Pinó mostram que o fotógrafo parece se orgulhar da transformação urbana que acontecia na cidade nas décadas de 1940 e 1950, e que foi de certa forma radical. Se nos anos 1920 e 1930 ele foi mais contido ao registrar as nossas ruas e praças, nos anos posteriores não podemos deixar de notar a sua alegria e uma certa ousadia ao registrar os modernos edifícios, geralmente solitários, em meio à vegetação das praças e jardins.
Armim também se comprazia em colocar os seus habitantes nas fotografias, dando-lhes colorido e vida. Ele jamais registrou uma cidade morta, inerme, sem o bulício de sua gente. Os automóveis, bondes e ônibus, em meio ao caminhar dos apressados transeuntes sempre deram colorido e sonoridade às suas imagens. Curitiba sempre foi fotogênica, mas foi muito mais linda nos cliques de Armin Henkel e de seus outros companheiros fotógrafos apaixonados!
  • Paulo José da Costa nasceu em 1950 em Ponta Grossa, é comerciante livreiro, memorialista, blogueiro, youtuber, dono de acervo e criador das comunidades Antigamente em Curitiba e Antigamente em Ponta Grossa, no Facebook.

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