Paulo José da Costa é de Ponta Grossa, comerciante livreiro, memorialista, blogueiro, youtuber, dono de acervo e criador das comunidades Cotidiano de Antigamente em Curitiba e Antigamente em Ponta Grossa, no Facebook.
Fotos históricas e inéditas do Parque Providência retratam Curitiba em 1910
Paulo José da Costa
17/05/2023 12:26
Largo do Rosário, Curitiba em torno de 1910. | Acervo de Paulo José da Costa
In Memoriam de Denise Ernlund Metynoski
Quando recebi aquele pacotão dos Estados Unidos, estranhei o peso. A senhora Lindy Pearson Bush, que me enviou, mencionou que eram 12 fotografias 8 x 10 e eu achei que eram em centímetros, medidas aproximadas dos antigos “cabinet”, só que esqueci que por lá se mede em polegadas. Logo que abri o pacote meus olhos brilharam com aquele tesouro, fotos enormes medindo 41 x 35 cm com as molduras, mostrando Curitiba em torno de 1910, numa linda cena do Largo do Rosário, como se vê na primeira imagem. Outra foto com o salto Rio Branco, em Prudentópolis, e as demais com vistas e detalhes do antigo Parque Providência, além de cenas da família de suecos que fundou a cervejaria.
A pergunta que os leitores devem estar fazendo é: como esse rico material histórico foi parar nos Estados Unidos, mais precisamente na pequena cidade de Mount Jewett, fundada por suecos no Estado da Pensilvânia? Nunca saberemos, mas podemos conjecturar que os membros curitibanos da família teriam ido para lá em uma visita, talvez por ocasião do falecimento de Bernardo Bengtsson, cuja viúva, Enriqueta, aparece bem à esquerda, na fotografia. Os demais figurantes são os Anderson e Peterson, residentes nos EUA, além do nosso curitibano Ernesto Bengtsson, bem à direita. Na frente, sentados estão, a partir da esquerda, o neto de Ernesto, encostado à mãe Anna Bengtsson Kronland, e a esposa Crestuna Bengtsson. Na sequência, na foto, temos as residentes nos Estados Unidos Anna Anderson e Beata Peterson, e por último a filha de Ernesto Bengtsson, Amalia, que iria se casar mais tarde com o maestro Leo Kessler, que faz parte de uma outra rica história, que iremos ainda contar.
A imagem é fantástica porque reúne os familiares dos dois continentes em ocasião única de visita. Foi quando Bernardo Bengtsson teria levado as fotos registradas pelo grande fotógrafo curitibano Augusto Weiss, mostrando em detalhes a beleza e o progresso de sua cervejaria, de que visivelmente tinha orgulho, e completando mostrava as belas fotos de sua nova pátria, a linda Curitiba e a pujança da natureza brasileira numa das mais exuberantes quedas d’água do Paraná.
O fantástico é que essas fotografias soberbas foram muito bem conservadas, estão como novas, e por um desses caprichos da sorte acabaram voltando a Curitiba. A imagem do Largo do Rosário foi tomada do Palácio Garibaldi e, apesar de termos fotos semelhantes desse mesmo local, não recordo de imagem nessas dimensões e com tal riqueza de detalhes nessa época específica. Só podemos agradecer de coração à Sra. Lindy que teve a sensibilidade de, tão longe de nossa cidade, perceber a importância desses documentos para nossa história visual, ter pesquisado na internet até localizar e nos contatar na comunidade do Facebook “Antigamente em Curitiba”. Muito obrigado sempre e sempre, Sra. Lindy, pelo descortino e enorme gentileza!
Fico a imaginar a alegria que teria ao ver esse material a querida Denise Ernlund Metynoski, sobrinha-neta de Ernesto Bengtsson, que foi levada pela Covid e que desenvolvia uma pesquisa magnífica sobre o Parque e Cervejaria Providência, que continua inédita. Transcrevo em parte o que ela escreveu para um artigo no Jornal do Bigorrilho há alguns anos:
“Ernesto Bengtsson, imigrante sueco, após seu casamento com Krestruna, natural da Islândia, fixou residência em Guajuvira, PR e ali nasceram seus quatro filhos: Anna, Carlos, Emma Ernestina e Amália. ... Ernesto decidiu mudar-se para Curitiba para onde Anna, já casada com João Pedro Jonsson Kronland, havia se mudado. Em 1901, Ernesto e João Pedro adquiriram a área de cerca de 78.000 metros quadrados, onde já havia duas casas, e ali passaram a residir, também havia uma pequena fábrica de cerveja.
Com o maquinário importado da Europa, foi constituída a firma Ernesto Bengtsson & Cia. - Cervejaria Providência, que passou a ter como sócios majoritários Ernesto e seu genro Kronland e como sócios minoritários os filhos: Carlos, Emma Ernestina e Amália.
Entre 1907 e 1909, a família adquiriu da Baronesa de Serro Azul uma outra área, no bairro do Bigorrilho, limítrofe do Batel, e também foram adquirindo vários lotes de pequenos proprietários perfazendo 42.900 metros quadrados, entre a Campina do Siqueira e a área adquirida em 1901. Essa nova área agregada que passou a se chamar Chácara da Providência, tinha uma nascente e um riacho que foi represado formando um lago.
Nessa época Curitiba tinha poucas opções de lazer para as famílias, Ernesto mandou preparar uma área dentro da Chácara da Providência com mesas para piquenique em meio à mata nativa. O parque Recreio da Providência, como ficou conhecida a área preparada, atraía muitas pessoas nos finais de semana. Era um dos melhores pontos de encontro dos curitibanos na época. Em 1910 uma banda foi contratada para animar o Parque, tocando em um grande pavilhão aberto e muitos músicos amadores ali tocaram.
O Recreio estendia-se da avenida batel até a Rua Saldanha Marinho, ficando dentro de sua área o local onde mais tarde foi instalada a sede campestre da sociedade União Juventus. A entrada do Recreio Providência era um grande portão sob um arco localizada na Avenida Batel, exatamente em frente onde hoje é a Praça do Batel".
A fábrica e o parque foram vendidos em 1945, terminando então para Curitiba esse rico ciclo com os suecos da familia Bengtsson.