Assim como os humanos, os cães podem apresentar sintomas de tristeza, desânimo, apatia e serem diagnosticados com depressão. Isso acontece porque nossos pets têm os mesmos neurotransmissores que nós. Os neurotransmissores são substâncias responsáveis pela regulação das emoções no cérebro. Quando produzidos em quantidades inadequadas causam transtornos psiquiátricos.
Não há um gatilho específico para o desânimo em cães, mas certas situações, como as que provocam tristeza e o tédio, podem levar os pets a se deprimirem. A perda de um membro da família, seja ele humano ou animal, pode deixá-los em um quadro de tristeza profunda. Se o cão não tem atividades no dia a dia, ficam sozinhos por tempo prolongado, este também é um fator desencadeante. Assim como rotinas estressantes que expõem os cães aos hormônios adrenalina e cortisol.
Mas nem todo estresse desencadeia depressão. Dois tipos de estresse são descritos cientificamente e podem ocorrer na rotina dos nossos animais, mesmo sem a gente perceber: o eustresse e o distresse.
O primeiro é conhecido como o estresse “bom”. Ele ocorre quando o cão tem uma pequena dificuldade para lidar com alguma situação, mas passa por ela com facilidade e ganha mais “força”, emocionalmente falando. O adestramento positivo, por exemplo, traz alguns desafios para que o cão passe por essas situações de maneira controlada, positiva e gradual para que ele tenha um bom repertório comportamental e emocional.
Já o distresse é o estresse “ruim”, que ocorre quando o cão fica frustrado sem saber lidar com as emoções ou em situações de dor, punição, perdas ou experiências negativas. Quando o distresse acontece, os produtos químicos adrenalina e cortisol se desgastam muito lentamente e os níveis de dopamina e serotonina - que são os hormônios ligados ao bem-estar – diminuem. Tudo isso pode desencadear um quadro de depressão ou outros distúrbios comportamentais.
Três partes do cérebro estão ligadas ao comportamento: memória, emoções e aprendizagem. Vamos falar da primeira delas, que é o córtex pré-frontal e está ligado à cognição. Tem conexões diretas tanto com o hipocampo, quanto com a amígdala e é capaz de mediar sinais tanto de uma quanto de outra região.
A amígdala está envolvida com a emoção. Ela dá o alerta para que o córtex pré-frontal dê respostas de luta e fuga frente a estímulos ameaçadores. Já o hipocampo é responsável por armazenar memórias de eventos traumáticos e enviar para a amígdala mensagem de alerta para que ela reaja.
Quando a amígdala está hiper ativada e está reagindo de forma excessiva e crônica ou falha em “desligar” após a ameaça ter passado, o cão tem dificuldade em lidar com situações do cotidiano. Mesmo que o tutor tente dizer que está “tudo bem”, ele não consegue racionalizar e interagir de forma calma.
É importante saber disso porque essas três estruturas estão ligadas aos transtornos psiquiátricos, inclusive a depressão. Na próxima edição eu vou trazer mais informações sobre as causas da depressão em cães, os sintomas mais comuns e também o tratamento. Acompanhe!
*Fran Cherobim é Médica Veterinária Psiquiatra.