Na última edição falamos como o mito da independência pode trazer problemas de comportamento em gatos. Isso porque, ao pensar que os gatinhos não precisam de atenção ou não têm carinho pelo tutor, muitos acabam negligenciando sua socialização, o que pode trazer uma série de complicações na saúde física e psicológica. Nesta coluna, retomamos algumas das principais consequências.
Vocalização excessiva
Os miados excessivos são um problema para os tutores, principalmente quando começam a acontecer antes mesmo de o dia clarear. Por incrível que pareça, esse é um comportamento muitas vezes aprendido e reforçado por nós, através do reforço positivo. Quando o gatinho mia, primeiramente sem nenhuma intenção, os tutores levantam para ver o que está acontecendo e oferecem algo (comida, carinho, conversa) e isso vai se tornando um ciclo. Toda vez que o gato mia, tem a atenção do humano e ele ganha o que está esperando. Então muito provavelmente seu gatinho está miando com a intenção de te chamar, não importa a hora.
O treino para cessar os miados são simples, mas nem sempre fáceis para os tutores, que acabam cedendo aos miados encantadores. Além da vocalização aprendida e reforçada, temos que prestar atenção no comportamento geral do gato, pois o miado excessivo pode estar relacionado a problemas de disfunção cognitiva e quadros dolorosos.
Arranhadura na mobília
O arranhar é um comportamento natural dos felinos que, além de afiar e eliminar partes desgastadas das unhas, depositam marcas importantes para seu território, tanto físicas como odoríferas. Os gatos possuem glândulas cutâneas localizadas nos coxins que liberam feromônios, que são uma forma de comunicação a distância entre a espécie. Esses feromônios são depositados e interpretados pelos gatos, podendo ser relacionados a medo, dominância ou tranquilidade.
O problema é quando essa marcação começa a ser voltada para sofás, camas, poltronas. Devemos ter consciência que arranhar é um comportamento natural que deve ser expressado, mas de uma forma direcionada. Na casa do gato deve haver arranhadores horizontais, verticais e de materiais preferidos por ele (corda de sisal, papelão, tecidos, tapetes), espalhados em lugares estratégicos de passagem.
Ansiedade
Os gatos podem sofrer de ansiedade assim como nós. Eles demonstram que estão ansiosos dando alguns sinais e nós precisamos saber identificar quando há algum problema. Os sinais e sintomas podem muitas vezes estar mascarando outras doenças, por isso é importante consultar um médico veterinário para excluir causas médicas.
Os felinos são animais muito sensíveis, então há alguns gatilhos que podem causar a ansiedade. Pode ser uma sutil mudança na rotina, como a chegada de algum estranho em casa, a chegada de um integrante novo na família, uma mudança de ambiente onde vive e a alteração na dinâmica do ambiente. Identificar a causa da ansiedade é o primeiro passo para instituir o melhor tratamento.
Elaborar um ambiente com enriquecimento ambiental faz com que seu gato fique mais estimulado mentalmente e mais entretido durante o dia, evitando entrar em ciclos ociosos e ansiosos. Também estão disponíveis no mercado produtos análogos a feromônios felinos, que são considerados calmantes para eles, podendo ajudar a reduzir o nível de ansiedade.
Para termos uma boa relação e um gatinho feliz e equilibrado em casa, é necessário entender os comportamentos da espécie e não compará-los à cães. Eles têm comportamentos naturais a serem supridos e bem manejados para não evoluir para problemas comportamentais mais sérios. Então, qual a sua relação com seu gatinho? Qualquer dúvida entre em contato com a equipe Jeito Animal!
*Luiza Nascimento é médica veterinária e educadora pet.