Longevidade

Norton Mello

Norton Mello

Norton Mello é PhD em Senior Living e diretor da Aging 2.0 Curitiba

Expectativa X realidade do envelhecimento

Norton Mello
Norton Mello
16/02/2024 15:01
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População acima de 60 anos está ávida por produtos e serviços que atendam às suas demandas. | Drazen Zigic/Freepik

Estamos experimentando um crescimento da população acima de 60 anos no Brasil em velocidade jamais vista anteriormente. Isso não é novidade. O que surpreende é que diversos setores da economia ainda não entenderam que esse público possui mais recursos financeiros e estão ávidos por produtos e serviços que ofereçam soluções para suas demandas.
Os principais pesos percentuais de itens de consumo em famílias compostas por pessoas idosas concentram-se (por ordem de prioridade): Alimentação, Habitação, Vestuário, Saúde e Cuidados Pessoais, Educação e Recreação e Transportes. Esses itens são até mais sensíveis em famílias com renda de até 8 salários mínimos.
Sobre as atividades que mais agradam o público brasileiro acima de 60 anos, de acordo com 12.456 perfis cadastrados na plataforma MaturiJobs (dados até 01/12/2019), sugerem curiosidade ímpar, especialmente no que tange o cuidar e brincar com netos, conforme mostra a tabela.
“Mas a minha mãe adora ficar com os meus filhos, isso só pode estar errado!” – Não, não está. A etiqueta social latina é que não permite esse grau de sinceridade assim, “na lata”. Claro que avós amam seus netos, mas elas preferem cuidar de si e de seus interesses a cuidar deles. Expectativa x realidade, quebrando mitos e tabus.
Sim, quebrando tabus também. Na badalada comunidade americana de longevidade The Villages, a cerca de uma hora de Orlando, na Flórida, existem algumas regras em relação à visitação de crianças, as quais têm um tempo limitado a 30 dias para ficar com os avós. Atualmente, é a comunidade que mais cresce nos Estados Unidos e tem um dos maiores índices de doenças sexualmente transmissíveis do país.
A imagem estereotipada de uma pessoa de cabelos brancos esperando a morte chegar está longe – mas muito longe – de ser a realidade atual. Também não vamos exagerar e pensar que estamos vivendo uma geração de super heróis, não é isso. Mas estamos presenciando uma transição bastante interessante, em que a cultura “jovem-cêntrica” cada vez mais dará espaço a uma dinâmica intergeracional positiva
É preciso entender também que o envelhecimento é sobretudo um fenômeno feminino. Aliás, cruelmente feminino, pois as mulheres ainda são mais solicitadas física, psicológica e socialmente que homens por, além de terem atribuições profissionais, serem cuidadoras de filhos, netos, cônjuge, pais e outros parentes idosos. No Brasil, mulheres acima de 60 anos são apontadas como chefes de família na ordem de 27,5% contra 17,2% dos homens de mesma faixa etária Cerca de 6% das pessoas idosas são solteiras no Brasil e 6% não possuem filhos, sendo que 15% moram sozinhas.
Entre 2020 e 2030, teremos na América Latina um incremento de 71% no número de pessoas idosas, contra 23% da Europa, sendo o Brasil o 6º país com a maior velocidade de crescimento. Fica o questionamento e a oportunidade: com uma demanda dessas, continuaremos a desprezar o potencial de consumo e o que pensa e deseja essa geração?
*NORTON MELLO é PhD em Senior Living e diretor da Aging 2.0 Curitiba.