Quando pensamos em férias, o que vem à mente? Depois de um ano de trabalho, é preciso descansar, viajar, ir à praia ou ao campo, desfrutar de boa comida – quem sabe um bom churrasco? –, não ter horário para nada… só se divertir, aproveitar a vida com a família, esposa(o), namorada(o) ou amigos, ou não fazer nada.
Porém, quando o idoso fala em tirar férias, surgem questionamentos como: não estão sempre de férias? Se eles não trabalham, não fazem nada, só reclamam, para que férias? Eles não precisam de férias! Será verdade? Vamos refletir…
Aos 65 anos de idade, por exemplo, uma pessoa que começou a trabalhar aos 20 anos já trabalhou por 45 anos e se acostumou ao sistema de, a cada ano, tirar 30 dias de férias. São 45 anos fazendo isso até a aposentadoria. Embora ela não tenha mais uma escala de férias, sente a necessidade deste tempo com e para si. Não teria ela direito a tirar férias?
Se o idoso vive com sua família, normalmente acompanha eles nas férias quando o convidam. Há, também, alguns que estão sozinhos e acabam nem sabendo o que é férias, não tem companhia. Outros não têm para onde ir, já que residem em casas de longa permanência ou em asilos.
No entanto, os “novos idosos” são diferentes: tiram férias sozinhos ou com grupos, mostram sua independência e usam esses momentos para se divertirem com viagens, passeios ou outras atividades que também podemos chamar de férias.
Muitos moram em cidades litorâneas visando qualidade de vida e bem-estar, com ritmos de vida leve e mais ativa. O que buscam é viver com menos pressão ou até mesmo em férias permanentes. Os idosos, hoje, criam modos de viver com atividades e programas voltados à maturidade. Alguns até voltam a estudar e/ou trabalhar, só para se manterem ocupados. E, em determinado momento, eles param o que estão fazendo e buscam viagens, passeios, excursões, ou seja, férias.
O termo “aposentado” explica um pouco essa forma de ver o idoso, pois a expressão “aposentar-se” significava ir para o aposento, ou seja, ficar em casa. Hoje, não é mais assim, pois a expectativa de vida tem aumentado no Brasil e no mundo, o que está acontecendo porque adquirimos melhores hábitos de vida para, na maturidade, termos uma longevidade saudável, o que significa viver com saúde plena, utilidade, liberdade, dignidade e felicidade.
O preconceito de que o idoso não pode ou não tem direito a tirar férias não pode existir, pois as suas obrigações não são menores ou inexistem. Não se pode esquecer que ele trabalhou por muitos anos, ou ainda trabalha, e que conquistou esse direito. Pois, uma vida digna é direito de todos, não importa a idade. “Férias”, então, pode ser uma forma de o idoso chamar um tempo que deseja definir como para si, com qualidade.
*Raphael Henrique Castanho Di Lascio é diretor na Aging 2.0 Curitiba e criador do Projeto MatureSer