Ao contrário do que se pensava há algum tempo, a questão da aposentadoria é menos “contemplativa” e mais “mão na massa”. A ideia de se aposentar o mais cedo possível para gozar de independência em termos financeiros e de compromissos laborais mostrou-se para muitos um fardo pesado para se carregar.
A ruptura brusca das atividades profissionais sem o devido preparo levou muitas pessoas à depressão e acelerou a equivocada visão de inutilidade perante a sociedade. Evidentemente que deve ser muito bacana reunir condições econômicas e disponibilidade de tempo para fazer viagens e descansar da rotina, mas e quando esse glamour acaba?
Como as moradias deveriam se preparar para potencializar a longevidade independente tanto quanto possível? Essa questão é muito crítica, pois tem como barreira a nossa memória afetiva em relação ao estereótipo da pessoa idosa, com fragilidades diversas. Como deveríamos projetar nossas moradias? Com base na pessoa idosa de hoje ou para as nossas próprias expectativas e necessidades do que imaginamos que será o nosso envelhecimento?
A imagem contemplativa de um campo, com lago e árvores, pode ser muito poética para aqueles que nasceram na metade do século passado, pois tinham mais acesso à vida rural, mas esse vínculo foi sendo quebrado ao longo do tempo (certo ou errado, para o bem ou para o mal) pela atual sociedade de consumo. Viver mais próximo à universidades, centros comerciais (shoppings), centros de atendimento médico e áreas de lazer e entretenimento tem mais sinergia e atratividade para aqueles que estão tendo a oportunidade de viver mais e não desejam perder a sua urbanidade.
Estudos apontam que a preferência das pessoas idosas é por residenciais dentro de um raio máximo de 50 quilômetro de onde residem. Esse fator demonstra a afetividade ao local onde se encontram. Muitos me questionam sobre a maior adesão que empreendimentos no exterior possuem devido aos fatores culturais. Mito. O fato é que ninguém quer sair da sua casa, em qualquer lugar do mundo. Claro que a composição social das comunidades é diferente e há um certo desprendimento em maior ou menor grau, até mesmo em função de que existem vários modelos de negócios para que as pessoas tenham liberdade de escolha. Mas os medos são os mesmos: de ser abandonada pela família, de receber maus tratos, de não ser alimentada ou receber higiene adequada, entre outros. Medos até certo ponto pertinentes quando vemos ganhando as manchetes dos jornais notícias relacionadas a essas questões.
Mas gostaria de abordar outros aspectos, como a tecnologia que pode subliminarmente promover a saúde, a manutenção e eventual desenvolvimento de habilidades físicas e cognitivas. Temos estudos que demonstram um aumento no hipocampo cerebral de pessoas idosas que jogam videogame. Ora, notem os leitores como isso impacta na forma de se projetar uma moradia assistida. Pensar em pessoas jogando damas, xadrez, cartas ou bingo é o padrão comportamental da nossa memória estereotipada. Imaginar uma sala de jogos com videogames que permitam ampliar o volume cerebral de uma das zonas mais associadas às demências e com isso tentar reduzir ou até mesmo impedir o desenvolvimento dessas doenças, isso sim é disruptivo ao ponto de impactar na qualidade dos anos de vida ganhos com a longevidade.
Como o tema é longo, iremos abordar mais aspectos nas próximas matérias desta coluna, tais como automação e o uso de robôs. Aguardem!