O mercado imobiliário brasileiro ainda está engatinhando quando o assunto é moradias para pessoas idosas, ao compararmos com o real estate europeu e norte-americano. Apesar de engatinhar, há uma movimentação importante e muito em breve passaremos direto para uma corrida, sem mesmo ter aprendido a caminhar.
Uma das modalidades que aparentemente tem se configurado mais atrativa tanto para as incorporadoras como para o público 60+ é a modalidade Aging in Place, ou seja, casas ou apartamentos com projetos arquitetônicos preparados para potencializar a longevidade ativa e independente por mais tempo.
O conceito já foi abordado aqui em outras oportunidades, mas abreviadamente falando, consiste em possuir no condomínio uma camada de serviços de cuidados de prontidão em casos de alguma emergência (quedas e desmaios) ou queixas diversas (dor de barriga, por exemplo).
Muitos investidores se questionam sobre a localização de um empreendimento como esse, imaginando que um local mais afastado e contemplativo seja melhor por ser mais calmo que a agitação da cidade, mas esse é um erro clássico. Afastar a pessoa idosa da sua urbanidade é trazer a ideia de reclusão permanente, um exílio, um depósito de velhos.
Os pontos mais adequados sob o aspecto de georreferenciamento são os mais próximos de shoppings, centros comerciais, escolas, universidades, farmácias, padarias, enfim, onde os filhos e netos possam facilmente visitar a pessoa idosa para tomar um café, almoçar ou jantar juntos, sair passear fortuita- mente, dentro do dia a dia agitado de cada um.
Bem, considerando também que apenas entre 1% a 4% da população 60+ de uma determinada região possui condições financeiras e psicológicas para migrar para uma moradia mais adequada para a sua longevidade, não são todos os municípios que conseguiriam abrigar um empreendimento Aging in Place, ainda mais ao levarmos em conta os núcleos urbanos.
Analisando esse contexto, um ponto mínimo para atingir o sucesso, considerando que as regiões Sul e Sudeste possuem maior percentual de pessoas idosas que as demais regiões do Brasil (da ordem de 16 a 17% naquelas e 10% nestas), consegue-se perceber que as melhores oportunidades estão em municípios com população geral a partir de 300 mil habitantes. O que não significa que vários municípios menores não possam ter um empreendimento desses, mas que, para maior chance de sucesso, seria importante avaliar, em um raio de 25 km, se a região possui em conjunto uma população equivalente a essa grandeza.
Ao considerarmos esse limite mínimo, percebe-se que no Brasil temos, segundo o Censo 2022, cerca de 93 municípios com população acima de 300 mil habitantes. No entanto, várias regiões reúnem em dois ou mais municípios vizinhos populações acima desse número. Dessa forma, a matemática “fecha”, porque 15% de 300 mil é igual a 45 mil – e, entre eles, temos 450 a 1.800 clientes em potencial (1% a 4%). Em média, esses empreendimentos variam de 80 a 250 unidades habitacionais, ou seja, tem demanda suficiente e o sucesso está garantido.
Norton Mello é PhD em Senior Living e diretor da Aging 2.0 Curitiba