Moda e beleza

A caça-tendências Camila Toledo

Larissa Jedyn
23/02/2012 02:24
Formada em Propaganda e Marketing, Camila Toledo era uma analista de comportamento. Daí, para chegar à moda, foi um pulo. Quando os primeiros bureaus de tendências internacionais chegaram no Brasil, procuravam uma pessoa que visse a indumentária pelo ponto de vista do comportamento. E adivinhem quem encontraram? Ela virou diretora para a América Latina do Stylesight, baseado em Nova York, e comanda uma equipe que olha tudo, vê o que pode dar samba, traduz em formas e cria tendências.
Como funciona o Stylesight, quais são as fontes de informação, como isso é organizado e quem consome essas tendências?
O Stylesight é um bureau de tendências e trabalha com uma equipe de especialistas com o olhar afiado, para enxergar o novo em qualquer parte do mundo. Esse “novo” pode vir de qualquer lugar: arquitetura, arte, moda, música, cinema…
Temos correspondentes que saem pelas ruas com uma câmera fotográfica captando as novas informações e, depois, editores que vão analisar todo o material e determinar as tendências mais relevantes. Os assinantes do site podem acessar o banco de imagens, filtrar sua busca por estampas, calças, jaquetas, botões…
E ver a análise detalhada das tendências, separadas por temas (jeans, acessórios, calçados, interiores, beleza), para homens, mulheres, crianças e mercado jovem. Temos aproximadamente 200 clientes no Brasil e mais de 30 mil usuários em todo o mundo. A assinatura inicial do site custa US$ 8.500.
A tendência é diferente do modismo consumido nas ruas, não é?
Sim, porque a tendência é algo que o consumidor comum nem sabe ainda que vai desejar. A tendência está no consciente coletivo, mas não é algo palpável, que pode ser consumida. O modismo já é algo desejado e está pronto para ser consumido. O nosso trabalho é captar uma tendência, alertar os profissionais sobre ela, para que desenvolvam sua produção a tempo de ser consumida.
Qual o limite entre tendências e personalidade da marca e de quem a veste?
Uma tendência nunca pode ser seguida às cegas. Ela é apenas um caminho. Uma marca precisa antes de tudo conhecer seu público e escolher o que se adapta a ele. A tendência tem de ser interpretada conforme a identidade da marca. O consumidor também precisa, primeiro, identificar seu estilo pessoal, entender seu corpo e só, então, adotar as tendências que o favorecerem.
Como é o seu trabalho aqui no Brasil?
Meu trabalho é detectar as tendências internacionais que vão desembarcar por aqui, mais cedo ou mais tarde. Eu visito durante o ano todo os nossos 200 clientes no Brasil para ajudá-los a determinar o rumo de suas próximas coleções. Também dou palestras, levando o conteúdo do Stylesight de forma analisada a todos por aqui.
É possível falar em estilo nacional? Personalidade brasileira na moda? Há centros de moda mais desenvolvidos no Brasil?
O Brasil, na minha opinião, ainda engatinha em busca da sua identidade de moda. Porém, temos todos os recursos para chegar lá. Temos ótimas tecelagens nacionais, tecnologia e estilistas supertalentosos, mas precisamos nos livrar do estigma de colonizados e valorizar o que temos. Precisamos parar de olhar o que vem de fora, e nos inspirar nas maravilhas daqui de dentro. Sempre falo que uma empresa precisa ter um estilista que tenha o olhar voltado para o Brasil e um empresário que olhe para fora, para poder crescer. Dá para seguir tendências globais, pois estamos, afinal, todos conectados, mas o toque regional tem de estar lá. Admiro a Maria Bonita, por exemplo, porque ela consegue se inspirar no Brasil sem ser óbvia.
Os estrangeiros – principalmente europeus e norte-americanos – encaram a moda de uma forma diferente dos brasileiros?
Certamente, principalmente em virtude da cultura e estilo de vida. A brasileira preocupa-se com o corpo e o brasileiro (ou o homem latino), em geral, é cheio de pré-conceitos. Os europeus, por sua vez, preocupam-se somente com o estilo. Só por essa base já se define e limita um caminho para o design. Europa e EUA arriscam mais em formas novas, porque seus consumidores não estão preocupados, num primeiro momento, em mostrar o corpo, mas em valorizar a estética.
Acabamos de voltar das semanas nacionais de moda. O que vamos ver no próximo inverno?
O branco é uma cor que perde seu estigma de verão e entra com tudo no inverno. As saias continuam longas ou mídi – na metade do tornozelo. Voltam os conjuntinhos estilo pijama, com calça e blusa na mesma cor ou estampa. A camisaria feminina está mais alongada podendo aparecer uma parte da barra logo depois que termina a saia. Os ombros estão mais arredondados e a manga raglan é a principal. A nova estrutura é a peplum, que valoriza o quadril e reforça as curvas femininas. Os tecidos mais importantes são os transparentes, como chiffon ou voile. Além disso, o veludo molhado, a principal vedete da estação, vai estar em todas as peças.