Moda e beleza
Ela ficou conhecida falando de moda e boas maneiras na tevê. Escreveu também livros que dão dicas práticas do bem vestir. A consultora de moda Glória Kalil, no entanto, sempre fez questão de falar que roupa diz muito da personalidade, que moda não é para ser levada assim tão a sério e que é muito melhor ser elegante – em atitudes e visual – do que obedecer tendências. Glória esteve em Curitiba na edição do showroom VestesBR, salão de negócios intinerante, e falou a Viver Bem Moda & Beleza. Confira os principais trechos da entrevista.
Você costuma falar sobre democratização da moda. O que isso significa na prática?
É o acesso à informação de moda e às roupas por meio de uma distribuição maior e com preços mais acessíveis.
Eu acho que a moda está se tornando acessível a todas as classes sociais.
Hoje, tanto a classe AA, quanto as classes B e C/D têm a mesma informação de moda. Temos as diferenças de marcas, de fabricação e de qualidade do tecido, que impactam nos preços. Mas que a informação de moda chega de cima para baixo, não tenho dúvida.
A moda foi se flexibilizando com o tempo?
Até os anos 1950, a moda era extremamente autoritária. Eu sempre lembro da história de uma foto do Christian Dior, com uma fita métrica na barra da saia de uma modelo dizendo: “Neste ano as saias são 40 centímetros do chão”. Ficasse bem para você ou não, era aquele comprimento ou você estaria fora de moda e não pertenceria a uma determinada classe. Até os anos 1950, a moda era uma questão de classe. Depois dos anos 1960, teve toda a moda jovem, a contracultura, que convivia com esta classe muito conservadora. E nos anos 1990, isso pulverizou.
Vestir-se tem relação com a aceitação dos outros e com os potenciais que se quer transmitir. Como lidar com esse poder “comunicador” da moda?
A moda veste indivíduos, demonstra a personalidade de cada um e não mais a classe. É completamente diferente. Tanto que é até difícil dizer o que está na moda. Depende do seu estilo. A questão é você saber demonstrar a sua personalidade, da maneira que você quer ser vista e tratada. A roupa não é mais um esconderijo, é altamente reveladora. Eu sempre digo o seguinte: moda é oferta e estilo é escolha. Todas as suas escolhas demonstram seu estilo.
Como a moda colabora na percepção da identidade de uma pessoa?
Quando você passa a observar as coisas com mais amplitude, sai um pouco dessa conversa sobre tendências, que são descartáveis e desinteressantes. Para entrar no que de fato é moda, é preciso apurar o olhar para o que as pessoas querem mostrar, sua identidade pessoal ou profissional, o estilo de um país. Às vezes você está sentada em um café, em qualquer lugar movimentado do mundo e fica vendo aquele monte de gente e dá até para reconhecer quem é americano, italiano, alemão, só pela maneira de se vestir, pelo jeito como corta o cabelo, pelas misturas que faz, pelos acessórios que usa.
Como você avalia o ato de escolher a roupa?
Costumo dizer que não conheço ninguém que abra o guarda-roupa de manhã e pegue a primeira roupa que aparecer. Todo mundo acaba fazendo um cálculo inconsciente dos compromissos que vai ter e escolhe a roupa conforme o que quer transmitir em tais situações. Isso porque você vai ser avaliado pela sua aparência.
O conceito de elegância muda com o tempo?
Não. Quer dizer, acho que algumas coisas são acrescentadas ao conceito, novas informalidades que aparecem.
O que muda são as peças que ajudam a exercer essa elegância. Eu associo a elegância não só à maneira como a pessoa se veste, mas também à forma como ela se comporta. Não adianta nada uma pessoa estar bem vestida se ela for grosseira.
Qual o papel dos guias de moda e comportamento?
Em um mundo competitivo como o nosso, de economia globalizada, o papel é dar segurança para as pessoas. Eu acho que a moda é a expressão de um código. Existem códigos estabelecidos que mostram de que modo a pessoa vai ser vista, dependendo do tipo de roupa que ela usa. Uma pessoa que conhece os códigos de comportamento vive com mais facilidade.
O mesmo vale para os códigos de etiqueta?
Situações novas criam demandas e daqui a pouco se estabelecem algumas regras de etiqueta, que são maneiras de responder a estas coisas. Assim, etiqueta é sempre uma resposta a uma questão que a sociedade própria causou. Quando ela não responde mais, deixa de ser válida. A etiqueta tem de facilitar a vida, resolver situações e não complicá-las.
Como você avalia a questão do “jeitinho brasileiro”?
A informalidade do brasileiro tem um lado extremamente simpático e um lado mais folgado. O brasileiro se faz muito amistoso e muito aberto, o que impressiona os estrangeiros. Ao mesmo tempo, é também um pouco invasivo, costuma falar muito alto, chegar atrasado aos compromissos. Percebo que falta um limite de formalidade, uma das questões mais problemáticas dessa descontração da personalidade brasileira.
E na internet, quais são os desafios para manter a classe?
A internet já tem uma etiqueta própria, não é algo novo. O código de comportamento neste meio já tem um funcionamento conhecido. É claro que, quando aparece alguma coisa nova, como as redes sociais, vão surgindo novas questões para serem resolvidas, que serão seguidas por novas dúvidas. O essencial é que a etiqueta moderna faça sentido.
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