Debruçados sobre as máquinas de costura de 50 anos de idade em uma oficina no centro de Paris, chapeleiros diligentemente costuram as tiras de palha que formam uma espiral e se transformam em um chapéu. Os chapéus-palheta, adornados com uma faixa de gorgorão preto, irão se juntar a fedoras de angorá, cloches e outras toucas feitas no ateliê de Mademoiselle Chapeaux, uma marca que existe há seis anos e que está na vanguarda do renascimento da chapelaria.
Outra delas é a Maison Michel, uma das marcas mais sofisticadas que vem crescendo muito e com rapidez e que abriu uma boutique na loja de departamentos Printemps, em fevereiro. Entre os fãs do acessório estão Pharrell Williams, Alexa Chung e Jessica Alba. ”O chapéu é um novo meio de expressão. De certa forma, é a nova tatuagem”, disse Priscilla Royer, diretora artística da marca de propriedade da Chanel.
Na década de 1920, havia chapeleiros em quase toda esquina de Paris e nenhum homem ou mulher respeitável saía de casa sem algo na cabeça. Os chapéus não só eram símbolos de status, mas também uma porta de entrada para o mundo da moda: chapeleiros famosos que se transformavam em estilistas completos incluem Gabrielle Chanel (mais conhecida como Coco), Jeanne Lanvin e – dois séculos antes – Rose Bertin, costureira da Rainha Maria Antonieta. Mas depois das revoltas estudantis de maio de 1968, eles caíram em desgraça, pois os jovens franceses abandonaram os hábitos de vestimenta dos pais como um símbolo de liberdade.
Na década de 1980, técnicas tradicionais de chapelaria do século 19, como costurar chapéus de palha e moldar o feltro com vapor, haviam desaparecido quase por completo. Agora voltaram, incentivadas por uma nova geração de fabricantes que busca explorar o desejo crescente dos clientes pelo artesanal e o único. Caroline de Maigret, uma das autoras de “How to Be Parisian Wherever You Are: Love, Style, and Bad Habits” (Como ser parisiense em qualquer lugar: amor, estilo e maus hábitos) e embaixadora da marca Chanel, disse que a aura de símbolo de status do chapéu desapareceu quase totalmente. “Há alguns anos, as pessoas em Paris poderiam achar que você agia como uma estrela do rock se usasse chapéu. Agora é mais comum e o fato de que vivemos na era das redes sociais, onde as pessoas expõem constantemente suas vidas, também facilitou o uso.”
Tamara Taichman, editora de moda da Elle francesa, observou: “As roupas acrescentam fascínio, mas os acessórios garantem o estilo. Uma garota usando um vestido e uma jaqueta de motoqueiro é algo muito comum hoje, mas, ao usar um chapéu, mostra atitude”. Chloé
Thiéblin, que fundou a Mademoiselle Chapeaux, em 2011, começou sua própria produção no centro de Paris há três anos, e abriu outra loja com a mãe no norte do país, na cidade francesa de Lille, em 2015. Agora, segundo ela, as duas estão em negociações para adquirir uma oficina que vai fornecer para grandes marcas de luxo. “Encontrar fornecedores que poderiam me oferecer o tipo de chapéu que eu quero provou ser uma luta e, no final, decidi investir no meu próprio ateliê”, contou ela. A Cerise sur le Chapeau, chapeleira parisiense que oferece chapéus brilhantes ecoloridos de angorá e de palha com faixas de gorgorão personalizadas, está montando uma oficina-boutique no Japão, um dos maiores mercados de chapéu do mundo. Marie Marquet, de 26 anos, que criou sua própria marca, a MiniMe Paris, depois de aprender as técnicas na Maison Michel, disse: “Parece que a cada três meses aparece uma marca nova de chapéus”.
De fato, o número de marcas que se apresentaram na Première Classe – feira de acessórios realizada recentemente em Paris e que acontece duas vezes ao ano – quase dobrou nos últimos três anos, segundo os organizadores. Marquet e suas criações Tutti Frutti e inspiradas na Disney foram aceitas no Designers Apartment, um showroom para jovens estilistas na Semana da Moda de Paris. Seus chapéus, feitos em um porão de Paris, se tornaram tão populares, sobretudo entre os jovens clientes asiáticos, que ela recentemente começou a oferecê-los em conjunto com casacos e vestidos.
O mercado rende aproximadamente US$ 15 bilhões (ou 14,1 bilhões de euros) por ano, de acordo com a pesquisa de mercado da empresa Euromonitor, uma fração do mercado global de bolsas, que é de US$ 52 bilhões.
Mesmo além de Paris, em cidades como Nova York e Los Angeles, onde o cenário da moda é vibrante, fabricantes de chapéus como Janessa Leoné, Gigi Burris e Gladys Tamez crescem rapidamente, com encomendas chegando de todo o mundo. E os varejistas de Paris, Londres e Xangai dizem ter notado um claro aumento nas vendas. As lojas de departamentos de luxo Printemps e Le Bon Marché, em Paris, propriedade da LVMH Moet Hennessy Louis Vuitton, perceberam o aumento da demanda nas últimas três estações, para mulheres e para homens. A rival Lane Crawford, com lojas de departamento em Hong Kong e na China continental, disse que havia aumentado suas compras de chapéus em 50 por cento, e que eles são o acessório que mais vende.
“Os estilos mais populares são uma remodelagem dos clássicos, como o fedora, o panamá e o chapéu com abas, para homens e mulheres. Nossos clientes contam que gostam de usar chapéus em dias casuais, o que garante uma boa maneira de parecer natural e elegante ao mesmo tempo”, disse Andrew Keith, presidente da empresa. A varejista on-line Net-a-Porter disse que os fedoras são os mais populares entre seus clientes, mas agora houve um aumento notável nas vendas de bonés e gorros.
“Os clientes estão se tornando cada vez mais aventureiros e autoconfiantes em relação a seu estilo pessoal”, disse Lisa Aiken, diretora de varejo de moda da Net-a-Porter, que agora faz parte do Yoox Net-a-Porter Group. Aiken disse que a venda de chapéus estava crescendo bastante na Ásia, com retorno acima de 14 por cento em 2016 na China.
Stephen Jones, chapeleiro de Londres que é fundador de sua própria marca e estilista de casas de moda, incluindo Christian Dior e Azzedine Alaia, disse que nunca esteve tão ocupado. “O chapéu não tem mais a ver com prestígio; ele agora é cool e moderno. É um toque especial no mundo cinzento e assustador de hoje.”
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