Moda e beleza

Abaixo o Photoshop!

Adriana Czelusniak - adrianacz@gazetadopovo.com.br
06/09/2009 03:10
A discussão sobre a manipulação de fotografias não é nova. Há registros de que na década de 30 as alterações feitas em fotos de atrizes de Hollywood já incomodavam. O fotógrafo curitibano José Kalkbrenner, 78 anos e 62 de fotografia, conta que os “truques” para que a imagem retratada ficasse melhor do que a real eram frequentes muito antes dos softwares de editoração de fotos. “As modelos tinham de estar bem penteadas e maquiadas e, depois dos cliques, ainda eram usados retoques em cima da chapa ou do filme, com pincéis ou lápis.”
Um dos pioneiros da fotografia publicitária no estado, ele reconhece que a alteração das imagens pode contribuir para a diminuição de custos e favorecer a praticidade e rapidez na produção de campanhas. “Antes, se você tinha de fotografar uma modelo na praia durante o pôr-do-sol, tinha realmente de estar na praia e esperar pelo pôr-do-sol, que muitas vezes não acontecia como o desejado. Hoje, são usadas imagens prontas e o computador une pessoas e cenários para criar a situação.”
Mas o fotógrafo ressalta que o bom senso não pode ser deixado de lado para evitar “aberrações” – quando as mudanças ultrapassam a linha do que é aceitável. O editor de fotografia da polêmica revista Playboy, Sérgio Pic­­ciarelli, concorda. “O retoque digital reduz o valor da foto se é utilizado sem profissionalismo. Ele deve ser um trabalho complementar ao do fotógrafo. Quando você vê a foto de uma atriz e não a reconhece muito bem, a pele está muito jovem para alguém daquela idade ou ela perdeu sinais característicos e expressões naturais, é porque o retoque foi feito de maneira criminosa e sem responsabilidade”, diz.
A Playboy tem sido alvo de críticas por mostrar modelos e atrizes com um corpo diferente do real. Segundo Sérgio, os próprios leitores não gostam de perceber mudanças. “Eles querem o mais real, querem acreditar no que veem e vivem procurando detalhes para reclamar se acham que a foto foi retocada.” No entanto, fica claro que não há espaço na revista para mulheres reais e seus defeitinhos. “Todos sabemos que não existe mulher perfeita, mas o leitor, no seu imaginário, quer que todas sejam assim.”
Reação
Ações pelo resgate da beleza natural estão surgindo no mundo da moda. Em alguns casos, a autenticidade das fotos faz parte inclusive da estratégia de marketing, como foi o caso da revista americana Life & Style, que assegurava não haver retoques na imagem da atriz Kim Kardashian de biquíni. O fotógrafo alemão Peter Lindbergh é tido como o principal inimigo do excesso de manipulação de imagens. Recentemente, ele fez um editorial para a Elle francesa e “desarmou” ninguém menos que a atriz italiana Mônica Bellucci. Ela e outras sete mulheres famosas tiveram suas fotos sem retoques ou maquiagem espalhadas pelas bancas – e pe­­los blogs. Pouco depois, a revista Época lançou a versão brasileira da reportagem, o fotógrafo Fe­­lipe Hellmeister retratou a atriz Luiza Brunet e quatro modelos sem qualquer produção.
Se levada adiante, essas iniciativas podem contribuir para o fim da angústia causada pelo estereótipos de beleza inatingível. Para Renato Marchetti, professor de Marketing e Comportamento do Consumidor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e da Unifae, certos produtos e serviços desempenham um papel importante na definição do autoconceito do consumidor. “A autoestima tem muito a ver com a positividade do seu autoconceito. A comunicação de marketing pode influenciar a autoestima de um consumidor por meio do processo de comparação social, em que uma pessoa tenta avaliar seu ‘eu’, comparando-o com modelos retratadas, muitas vezes, de maneira artificial”, afirma. Ele conta que estudos têm sido realizados na área da comunicação e do marketing para avaliar o impacto de certos estímulos no comportamento do consumidor.
Os resultados de um estudo da Universidade de Missouri (EUA), por exemplo, mostraram que ler revistas de beleza por três minutos abala a autoestima feminina.
Antes de lançar a Campanha pela Real Beleza da Dove, a Unilever, fez uma pesquisa com três mil mulheres de dez países. Além de descobrir que elas não confiam em produtos divulgados por modelos com beleza irreal, a empresa ouviu que apenas 2% das entrevistadas se consideravam bonitas e 65% se sentiam tão mal por causa da própria aparência que já tinham evitado comprar roupas, ir à festas, praia ou piscina, fazer uma entrevista de emprego ou ir à escola ou trabalho. Desde então a empresa embarcou em campanhas com “pessoas comuns”. Resta saber se o restante da indústria da beleza vai pegar carona na ideia.
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Agradecimento
Agência DM Models, fone (41) 3243-0202 e site www.dmagency.com.br.
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Interatividade
As imagens de pessoas falsamente perfeitas prejudicam a autoestima dos consumidores?
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