Tênis de papel: acessórios feitos dessa matéria-prima estão ganhando a indústria da moda
Carolina Werneck
27/04/2018 12:17
Ainda não disponível para venda, o tênis Dobra é feito com um material parecido com o papel. Foto: Divulgação
Em breve você poderá comprar um tênis feito de papel e que pode ser colorido com mais de 400 estampas diferentes. E nem vai precisar se preocupar com a chuva ou com poças d’água. Essa é a promessa da Dobra, marca gaúcha famosa por suas carteiras e que, agora, já tem uma linha de bolsos intercambiáveis e outra de calçados feitos do mesmo material.
Todos os produtos são feitos de tyvek. Segundo o site da marca, trata-se de um “não-tecido” feito com fibras entrelaçadas. Eduardo Hommerding, 27 anos e um dos fundadores da Dobra, explica que 30% da composição do tyvek são de plástico reciclado. “O material tem diversas qualidades. Primeiro ele é reciclável, ao contrário dos tecidos que a gente está acostumado a usar na moda. E, mesmo com a impressão das estampas, depois a gente ainda consegue reciclar e colocar o material de volta no ciclo.”
A revolução dos materiais
A escolha da Dobra por um material com características ecologicamente corretas não é fato isolado. Faz parte de uma onda crescente de conscientização no setor da moda. Chamado “Fashion Revolution”, o movimento é uma reação a atitudes da indústria que vão contra o conceito de sustentabilidade e que, muitas vezes, afrontam até mesmo os direitos humanos.
Um dos materiais de uso mais comum quando o objetivo é garantir durabilidade é o couro de origem animal. Para baratear as peças, até pouco tempo atrás a única opção era o couro sintético. Hoje essa realidade já mudou. Há alternativas mais sustentáveis, como o couro feito a partir de cogumelos e até de abacaxi.
Para Hommerding, essa busca por novos materiais é fundamental. “A gente vem de anos crescendo muito, mas sem se preocupar com o legado que deixava. A indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo. Nosso planeta está precisando de novas ideias, de novos materiais. Coisas que possam ser colocados de volta no ciclo de produção mais tarde.”
Seguindo a mesma tendência, em 2011 uma companhia alemã começou a usar leite que seria descartado para produzir fibras têxteis. A QMilk explica em seu site que, só “na Alemanha, todos os anos são descartados dois milhões de toneladas de leite”. Trata-se de leite cru que, por lei, não pode ser comercializado para consumo. Ainda assim, esse leite pode ser usado para outras finalidades, como a obtenção dessas fibras, por exemplo.
No caso do Dobra Tênis, também a sola, o cadarço e o forro são feitos de materiais sustentáveis. Enquanto a sola é de PVC 100% reciclável, o cadarço e parte do forro têm em sua composição garrafas PET recicladas.
Trabalho manual e colaborativo
Buscando um modo de produção igualmente mais sustentável, a Dobra só faz suas peças sob encomenda. Isso significa que praticamente não há desperdício na cadeia produtiva. “O processo acaba ficando um pouco mais lento que o das marcas de moda tradicionais. Mas hoje o consumidor entende e prefere isso a comprar de uma marca que produz milhares de coisas ao mesmo tempo”, diz Hommerding.
Atualmente a marca tem mais de 400 estampas disponíveis em seu site. Qualquer pessoa que queira desenvolver uma nova estampa pode baixar os moldes e fazer isso em casa mesmo. Assim, são mais de 220 artistas ativos e, segundo o co-fundador da Dobra, “toda semana entram no mínimo entre cinco e 10 novos artistas”. Em troca, esses designers e artistas independentes recebem uma porcentagem das vendas de produtos com suas estampas.
Logística reversa
Para diminuir ainda mais o impacto de seus produtos no meio ambiente, a Dobra trabalha com uma política firme de logística reversa. “Sempre que a gente manda um produto, vai junto um cartão. Nele a gente explica que o cliente pode retornar esse produto para nós quando enjoar dele. Para isso, a marca dá um incentivo em forma de desconto em produtos novos”, detalha Hommerding.
Depois de receber de volta os produtos usados, a marca encaminha todos eles para uma usina de reciclagem. Mas a ideia é vigiar esse processo ainda mais de perto. De acordo com o administrador, há no momento dois projetos em andamento na companhia para usar o resíduo das peças velhas em novos produtos.
Comprar
Ainda em fase de lançamento, o Dobra Tênis deve estar disponível para venda a partir da primeira metade de maio. O preço segue sendo definido, mas, segundo Hommerding, é provável que a empresa bata o martelo no valor de R$ 199,90 o par. Assim como acontece com as carteiras (que custam R$ 49,90) e com a Dobra Bolso (R$ 99, 90 o kit de camiseta + dois bolsos e R$ 29,90 cada bolso extra), o consumidor vai poder escolher sua estampa preferida e deve receber o produto em casa.