Moda e beleza
Alicia Keys: campanha e vida sem make da cantora é hipocrisia
Foto divulgada pela cantora quando decidiu parar de usar maquiagem. Foto: Divulgação.
Em junho, a cantora Alicia Keys, 35 anos, divulgou uma carta em que justificava a escolha de aparecer com a “cara limpa”, sem nenhuma maquiagem. “Não quero mais me esconder. Nem minha cara, nem minha mente, nem minha alma”, escreveu. Na publicação, ela dizia que antes de começar a fazer o seu último CD tinha feito uma lista com coisas que não aguentava mais. “Uma delas é como as mulheres são manipuladas para acharem que sempre têm que ser magras, sensuais, desejáveis ou perfeitas”, completou. A cantora se mostrou incomodada com o constante julgamento sobre as mulheres e criticou a busca por ideais de perfeição. “Quando eu ensino a mim mesma que também posso ter defeitos é quando me torno bonita.”
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Por ser famosa, Alicia tinha medo até de ser fotografada sem maquiagem. “Toda vez que eu saia de casa, eu ficava preocupada quando não usava make. E se alguém tirar uma foto? E se postar? Eram pensamentos inseguros, superficiais, mas honestos. E todos eles eram baseados no que os outros achavam de mim”. Sobre a escolha, afirmou ser a “mais forte, poderosa, livre, e honestamente boa” que já tomou. Atitude louvável e que, certamente, ajudou a empoderar e libertar muitas mulheres em todo o mundo.
O problema é a incoerência do discurso. Escolher ficar sem maquiagem é aceitar a si mesma, entender que, todo mundo pode se cuidar (veja bem, sou mulher e gosto de me cuidar. Sou livre para fazer o que quero e entendo que usar ou não maquiagem é uma escolha minha), mas que o cuidado em exagero também é uma forma de não aceitação. Como uma mulher pode se sentir mais livre enquanto, na verdade, está presa à rotina exaustiva de cuidados com o rosto e, além de tudo, gasta fábulas em tratamentos faciais (como para a redução de pintas), autobronzeador anti-idade, máscaras, óleos orgânicos e lápis para sobrancelhas?
Dotti, maquiadora de Alicia há seis anos, declarou em entrevista à revista W, que ela chega a gastar cerca de R$ 1.500 em produtos e tratamentos todo mês, provando que, sair de casa usando nada de make exige da cantora muito tempo, esforço e, claro: dinheiro. Nada é tão simples. Enquanto, por um lado, sua atitude de aparecer sem make questiona antigos padrões de beleza, a mesma cria ideias tão difíceis de se alcançar quanto os criticados por ela. O mundo continua igual. Não adianta trabalhar questões de beleza real e empoderamento por marketing.
Maquiagem novamente
Agora, a cantora resolveu voltar atrás na decisão de não usar mais maquiagem e estampa a capa da revista norte-americana especializada em beleza, Allure, combinando um delineado colorido e a pele perfeita no editorial. Sobre a decisão de voltar a usar maquiagem, ela explicou: “Eu não sou uma escrava da maquiagem. Eu também não sou uma escrava de não usar maquiagem. Eu posso escolher. É o meu direito. Acho que maquiagem pode ser uma forma de autoexpressão. Não é minha intenção humilhar ninguém [que decidiu usar]. Ninguém deve se sentir envergonhado pela forma que escolhe se expressar. E esse é o ponto. Se você quer fazer algo por si mesma, você deveria fazer”.
