Consórcio de cirurgia plástica vira alternativa para conquistar o sonho da beleza
Marina Mori
04/07/2018 07:00
A demanda do consórcio de cirurgia plástica aumentou muito nos últimos dois anos. Foto: Bigstock
Faz três anos que a maquiadora Ana Carolina Ribeiro da Silva, de 24 anos, decidiu que quer colocar próteses de mama. Só não o fez ainda por falta de dinheiro – na verdade, por não conseguir poupar o suficiente. Mas a curitibana encontrou a solução para este “empecilho” há pouco mais de três meses, quando entrou para um grupo de consórcio de cirurgia plástica.
“É o jeito mais fácil de pagar. Espero que até o fim do ano eu consiga ser sorteada”, torce ela. Embora pareça algo incomum, a prática tem crescido de forma considerável entre brasileiras que buscam realizar o sonho da “cirurgia plástica própria”. O perfil de público é amplo. Mulheres de 20 a 60 anos – a maioria entre 30 e 35 – e que têm renda de R$ 2 a R$ 3 mil por mês, segundo a representante de consórcio Claudia Pacheco.
Ela explica que o consórcio de cirurgia plástica funciona como o de automóveis. “Um grupo de 250 a 580 participantes define o valor total da carta e cada um paga de 12 a 48 parcelas mensais até que todos sejam contemplados”, diz.
A quantidade de sorteios varia de acordo com a empresa (no Brasil, são as mesmas que coordenam consórcios de carros), podendo ocorrer de três a 12 vezes por mês. Como é uma compra programada, é apenas uma questão de tempo até que o consorciado receba todo o dinheiro. “Tem gente que já é sorteado logo nos primeiros meses”, conta Claudia.
Embora gerencie consórcios de todo o tipo – de reformas a viagens -, ela garante que a procura pelo de cirurgia plástica é, de longe, a maior. “A demanda aumentou muito nos últimos dois anos. Já teve meses em que mais de 200 pessoas entraram em contato”, revela.
A cirurgiã plástica Cynthia Rojas concorda que esta nova demanda tem, de fato, crescido. Porém, chama a atenção para algumas questões. “Dentro de alguns consultórios, há pessoas que fazem essa abordagem do consórcio logo após a consulta. Essa é uma prática que o Conselho Regional de Medicina condena”, alerta.
O que diz o CRM e a SBCP
A briga entre o CRM e a Lei dos Consórcios é antiga. Desde que a norma entrou em vigor em 2008, o órgão reforça a proibição de médicos para que não estabeleçam vínculo com empresas de financiamento. “O paciente precisa ter a liberdade de escolher o médico que quiser. Muitas empresas só fecham contrato se a pessoa aceita fazer a cirurgia com determinado profissional”, contextualiza Rojas.
Recentemente, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica publicou um comunicado a respeito do assunto. Segundo a entidade, apenas as administradoras fiscalizadas pelo Banco Central têm autorização para comercializar consórcios de cirurgia plástica nos moldes da Lei 11.595.
“O cirurgião plástico que recebe honorários por meio de cartas de crédito emitidas por essas empresas não contrariam as regras éticas, de acordo com o parecer 02/2017 do CFM”, informa a SBCP.
A pressa é a inimiga da cirurgia perfeita
De acordo com Rojas, o ideal é visitar no mínimo três especialistas para ter acesso a diferentes opiniões, sem se basear no preço. “O erro é procurar por soluções baratas. Muitos lugares oferecem cirurgias que não são realizadas por cirurgiões plásticos. Os resultados podem ser irreversíveis”, alerta.
Ela também sugere muito cuidado sobre os grupos de Facebook. “Muitas pessoas indicam médicos, mas na verdade essas recomendações são feitas por pessoas contratadas. Tem que ficar de olho”.
A maquiadora Ana Carolina, que recém contratou a carta de crédito, afirma que ainda não fez nenhuma consulta, mas está pesquisando várias opções antes de decidir. “Vou agendar algumas assim que pegar o dinheiro”, garante.
Requisitos para participar de um consórcio de cirurgia plástica
É preciso cumprir três requisitos, segundo a representante de consórcios Claudia Pacheco: ter o nome “limpo”, um avalista ou um bem de valor e ganhar pelo menos três vezes mais que o valor da parcela, que varia de R$ 230 a mais de R$ 500.
As cartas variam de R$ 7 mil a R$ 20 mil e pagas ao longo de dois a quatro anos. A empresa contratada oferece seguro de vida e um fundo de reserva como garantia.