Moda e beleza

Fernando Torquatto fala sobre a beleza e sobre sua carreira

Larissa Jedyn
15/12/2011 02:37
Se mudar de dentro para fora está difícil, o maquiador Fernando Torquatto acha que de fora para dentro dá e ajuda muito. Quem se senta para conversar com ele e, por acaso conta um pouco da vida, sai do encontro com a recomendação de um batom vibrante para os dias difíceis. E para os alegres também. Ele, que passou por Curitiba para um workshop sobre maquiagem do grupo O Boticário, deu esses e outros conselhos na entrevista que você lê a seguir.
Como você escolheu esta carreira?
Na faculdade de Design, comecei a maquiar as meninas para as aulas de fotografia. Percebi que tinha habilidade e foram surgindo uns trabalhos para os quais carregava as maquiagens da minha mãe. O meu estilo de maquiar, mais low profile, acabou chamando a atenção. Fiz matérias em revistas, comecei a trabalhar com moda, publicidade e tevê. Fiz a beleza da Regina Casé no Brasil Legal, em 1995. E em 2004 voltei para a tevê em A Cor do Pecado, minha primeira novela. Não parei mais. Acabei achando que tinha de ser maquiador mesmo.
A beleza da tevê é muito diferente?
Antes do HD era tudo muito diferente, você podia carregar mais, ter uma cobertura mais intensa. O que se via era uma ilusão, tinha muitos filtros. Agora é como se a atriz estivesse na sua frente, quase que num ao vivo. A maquiagem teve de mudar e, com ela, os produtos. Surgiram os produtos de alta definição, os pigmentos mais finos. Se a gente pensar nisso, fica fácil de repetir a maquiagem da novela no dia a dia.
O que a maquiagem pode fazer pela beleza?
Não se trata mais da opção de colorir ou não o rosto. Maquiagem é complemento da personalidade. Ela mostra como é sua relação com você mesma. Uma mulher que não usa nada fica fragilizada, parece não ter domínio da própria imagem. Fico incomodado quando uma mulher perde esse recurso tão poderoso. Não estou falando que é preciso obedecer um padrão, disso as mulheres já se livraram. Ninguém tem de ser magra, ter olho azul ou nariz arrebitado para ser bonita. O legal é ser você, ser incrível dentro do seu perfil. Mas uns ajustes podem deixar tudo ainda melhor.
No programa Superbonita, do canal GNT, você recebe mulheres que querem mudar a aparência. Quase sempre elas vêm impulsionadas por uma insatisfação. Como aliar isso ao seu trabalho?
O programa é legal porque me ajuda a mostrar o que vai além da estética. É uma jornada emocional que se realiza por meio da beleza. As mulheres que nos escrevem chegam lá, confiam em mim, falam da vida, abrem histórias impressionantes. E, no final, saem renovadas. Mesmo que não consigam reproduzir o que ensinei, elas abrem um canal para olharem para si mesmas.
O jeito que a mulher lida com a aparência fala alguma coisa sobre ela?
Acho que a mulher está a anos luz diante do homem nessas questões. Ela é muito mais capaz de se recriar, se reinventar, se festejar. Quando está meio mal, passa um batom lindo laranja e o dia muda. Há, sim, quem ainda não use o poder da maquiagem. Há algumas mulheres que estão se iniciando nessa prática. Um lado delas está pensando em construir uma imagem bacana, mas o outro ainda tem medo de ousar. Só que, por dentro de uma mulher conservadora, há outra querendo se colorir, se expressar. E a indústria da beleza trabalha mais rápido que os desejos e a cabeça dessa mulher.
E os homens?
Os homens são vaidosos, mas ainda não encaram a maquiagem, não sabem como usar, não querem correr o risco de parecer menos masculinos. Mas tem muita coisa legal que pode ser usada, como um corretivo, por exemplo, que reduz olheiras, disfarça as marcas da barba.
Fala-se tanto sobre a sensualidade da brasileira. Gostaria de saber se ela tem um jeito diferente de lidar com a beleza?
Até os anos 1980, não tinha como uma mulher adulta sair de casa sem maquiagem. Talvez as hippies… Mas todas as outras se maquiavam, pois isso fazia parte dos cuidados diários de beleza. Depois dos anos 1980 veio a onda da naturalidade, do politicamente correto, da cara lavada, dos batons cor de boca, das bases oil free. Só que muita gente confundiu o look natural com a cara realmente lavada. Para as mulheres que tiraram tanto a sobrancelha – a ponto de ela não crescer mais – foi uma libertação, mas elas acabaram criando suas filhas sem muita vaidade. Quando me deparo com mulheres por aí com lápis preto embaixo do olho e batom cor de boca, parece que estou vendo meninas de 15 anos, que estão começando a mexer com maquiagem. A parte boa é que isso se recupera. Se der uma leve colorida, vai ficar ótimo.
E a relação das mulheres de fora daqui com a maquiagem é diferente?
Fora do Brasil, isso não aconteceu. A relação delas com a maquiagem é cultural. A americana é up to date, consome moda do mesmo jeito que come bagel. É rápido. Se está na moda sombra prata, ela usa na rua no dia seguinte. A europeia vai no detalhe, aposta em um batom vermelho poderoso ou numa pele perfeita. Ela é mais essencial, mais sofisticada. Mas não é careta. A verdade é que europeias e americanas sempre tiveram na esquina de casa tudo, os produtos e a maquiagem viraram complemento da personalidade.
Qual é a tendência de beauté para o verão?
Acho que agora não dá mais para ficar no lápis preto e batom cor de boca. A moda é colorir. O Boticário, que sempre acompanhou a vida da mulher, está ajudando a reduzir esse receio com a cor. O verão será das máscaras de cílios coloridas, do olho bronze com boca laranja, da boca vermelha com sombra azul, do gloss violeta. É uma temporada para quem não tem medo de maquiagem. Nem de esmaltes, que também estão supercoloridos.
E o que fica bem em quem? Para descobrir é só no esquema da tentativa e erro?
Já foi aquela historia de loira que fica bem com isso e morena com aquilo. Antes, tudo tinha consistência pesada, os batons eram sem transparência, a sombra dourada ficava dourada demais. Hoje os produtos têm efeito gradual e, por isso, a mesma sombra azul pode ser usada pela loira e pela morena. O que muda é o jeito de aplicar. A cor não esta ali para que transformar uma pessoa num outdoor da moda, mas para embelezar, alegrar. Quem quiser ter uma cara a cada dia, ótimo. Mas quem quiser incorporar a tendência delicadamente, que faça isso. O que envelhece as pessoas é ter sempre a mesma cara.
Você acabou se tornando uma celebridade. Como aliar isso ao seu trabalho?
Sou muito tranquilo. Nunca deixei de fazer nada por que comecei a aparecer na tevê. Quando decidi ser maquiador, minha mãe perguntou se eu tinha certeza do caminho que estava escolhendo, afinal é um mercado que as pessoas não entendem muito bem. Ela disse que eu podia não ser respeitado, que tinha medo que eu sofresse preconceito. Eu dizia sempre que ia encontrar um jeito de ser diferente. E foi tudo muito natural. Procurei uma formação e acabei virando uma pessoa pública porque gosto de falar e gosto que ouçam o que tenho a dizer. Não falo só de cores e produtos, falo o que sinto e isso torna o meu trabalho mais completo.
Qual o seu melhor conselho de beleza?
Usar filtro solar, cuidar para que a pele respire, sem que isso vire mais uma obrigação. Cultive o prazer de se cuidar, de se festejar. Senão a vida fica chata.