Moda e beleza

O “antes e depois” de mulheres que resolveram adotar o cabelo curto

Marina Mori
11/10/2018 07:00
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Cinco mulheres contam como se sentiram ao mudar completamente o visual depois de cortarem o cabelo. Foto: arquivo pessoal / Camila Machado

Não é todo mundo que senta com tranquilidade à cadeira do cabeleireiro. Observar mechas e mais mechas do próprio cabelo caírem ao chão pode ser um desafio digno de palmas suadas e coração acelerado. Os sintomas ocorrem geralmente em quem nunca experimentou a sensação fresca da nuca ao vento por conta do cabelo curto.
“A gente está acostumada desde criança que mulher tem que ter cabelo comprido. A gente só se vê assim e acha que só vai ficar bonita de cabelo comprido, mas, quando corta o cabelo, percebe que não é nada disso“, diz a estudante Natalia Bourscheidt, de 21 anos. Ela passou a vida inteira com cabelos longos e, há um mês, decidiu dar chance à mudança pela primeira vez.
Para ela, o processo é um ritual. Antes de tomar a decisão, respirou fundo diversas vezes, marcou e desmarcou hora no salão, hesitou. Até perceber que “cabelo cresce” e que mudanças fazem parte da vida. Depois de duas semanas “se ensaiando”, deixou a lâmina da tesoura deslizar de uma só vez na altura do pescoço em seus fios longuíssimos e ruivos. Não se arrependeu por nenhum segundo. “Me senti uma nova Natalia. Agora não consigo mais me imaginar de cabelo longo. Penso até em cortar mais curto”, arrisca, sorrindo.
Fotos: arquivo pessoal.
Fotos: arquivo pessoal.
A dificuldade de uma mulher desvencilhar-se dos fios longos tem origens ancestrais e culturais. Ao redor do mundo, o cabelo comprido foi por séculos associado à beleza e à feminilidade. “É praticamente universal a ideia cultural de que as mulheres têm cabelo mais comprido do que os homens”, escreve o dermatologista norte-americano e um dos maiores pesquisadores do tema, Kurt Stenn, no livro “Hair: a Human History”.
O primeiro rompimento com o padrão dos cabelos longos aconteceu nos anos 1920. Além da mudança radical no guarda-roupa feminino, quando as silhuetas bem marcadas deram lugar às modelagens soltas e retas, o cabelo curtíssimo se tornou símbolo de liberdade e revolução entre as mulheres. Não à toa, foi nesta época que a palavra garçonne (termo feminino para garçon; “menino”, em francês) passou a ser usada para se referir a elas.
Depois da década de 20, o último século foi marcado por um vai e vem de cabelos curtos e longos. Ainda hoje, o corte feminino representa um rito de passagem. Para mudanças, novos ciclos, renovação. O Viver Bem conversou com mulheres que adotaram o cabelo curto recentemente. Elas contam, a seguir, o que o processo representou para cada uma delas.

Nova identidade

A estudante Isadora Atkins, 19, sempre quis ter o cabelo curto, mas foi somente no ano passado que seu sonho se concretizou. Começou aos poucos. Da cintura, “encolheu” as madeixas na altura dos ombros. Depois, passou logo à máquina 3 e aproveitou a oportunidade para doar os cachos castanho-avermelhados às mulheres com câncer.
A mudança foi uma redescoberta de identidade. “Isso mudou tudo na minha vida. Como eu me enxergava e como eu me enxergo agora, como me visto”, afirma ela. “Senti muito mais confiança em usar roupas que eu não achava que eu poderia vestir. Não que tenha mudado muito visualmente, mas foi muito mais uma questão de confiança em mim mesma”.
Fotos: arquivo pessoal
Fotos: arquivo pessoal

Reconciliação com os fios

Durante toda a vida, a assistente de operações Anna Milléo, 24, teve uma relação turbulenta com o próprio cabelo. “Eu não gostava e não sabia lidar com ele, então vivia alisando”, desabafa. O relacionamento chegou ao ápice há dois anos, quando Anna teve muitas quedas de cabelo. “Decidi cortar bem curto para parar de fazer chapinha e ver se resolvia esse problema”.
Resolveu ir além do chanel ou do joãozinho e raspou logo na máquina 3. “Gostei muito do resultado, foi libertador. Acho que toda mulher deveria raspar o cabelo uma vez na vida”, recomenda.
Hoje, Anna está em paz com os fios. Cuida dos cachos e só os alisa de vez em quando. “Se eu não tivesse cortado, provavelmente ainda estaria fazendo progressiva e chapinha até hoje”.
Fotos: arquivo pessoal.
Fotos: arquivo pessoal.

Superação

O término de um relacionamento foi o principal motivo para que a doutoranda em ciências da saúde Ana Carolina Gadotti, 22, resolvesse mudar radicalmente o visual. Ela sempre manteve os fios longos e resolveu marcar a nova fase da vida com um corte de cabelo. “Eu precisava de mudança. Quando vi o resultado, gostei bastante”, revela.
Hoje, Ana mal se imagina com cabelo comprido de novo. “Além de ser mais fácil de cuidar, dá um ar mais adulto. Principalmente em mim, que tenho cara de criança”, brinca.
Fotos: arquivo pessoal.
Fotos: arquivo pessoal.

Energias renovadas

Faz menos de duas semanas que a arquiteta Anne Elise Neubauer, 27, deu adeus ao longo. Ela não hesitou quando decidiu trocar as madeixas castanhas que batiam em sua cintura pelo corte chanel. Do instante em que a ideia surgiu ao momento de sentar na cadeira do salão, correram três dias. “Cabelo cresce”, justifica, enquanto dá de ombros.
Anne estava há um ano e meio sem cortar os fios, mas já teve várias experiências com cortes curtos. Ela acredita que, mais do que uma mudança física, o processo representa uma transformação emocional. “Quando corto o cabelo, sinto que deixei alguma coisa para trás. É muito uma questão de renovação de energia, de mudança”.
Fotos: arquivo pessoal.
Fotos: arquivo pessoal.

Rebeldia libertadora

Esta foi a primeira sensação que a jornalista Camila Machado, 28, experimentou ao se olhar no espelho com os fios recém-cortados no estilo joãozinho, em julho de 2017. Mais do que marcar uma nova fase em sua vida – tinha acabado de mudar de emprego e mergulhava pela primeira vez na carreira de empreendedora –, o processo representou um amadurecimento pessoal.
“Era eu ali, preparada para enfrentar tudo o que viesse, de cara lavada. Era como se eu não pudesse me esconder mais, a única saída era mostrar quem eu era. Foi um processo bonito, eu me senti bonita”, conta.
Apesar de ter demorado a tomar a decisão, já que “nunca era o momento”, hoje em dia Camila encara os cortes de cabelo com mais leveza. “Cabelo cresce e é uma delícia a transformação. Dá para viver um monte de vida, só trocando de cabelo. Estou tentando deixar crescer agora, mas nada é definitivo. Mudar faz parte da gente. Que chata a vida cheia de certezas, né?”
Fotos: arquivo pessoal.
Fotos: arquivo pessoal.
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