Moda e beleza

Gloria Kalil dá dicas para a “geração mal educada” se posicionar profissionalmente

Marina Mori
21/08/2017 12:00
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Foto: Bob Wolfenson / Reprodução Facebook

A jornalista e consultora de moda Gloria Kalil acaba de lançar seu sexto livro, desta vez voltado a um público inédito: personagens do mercado de trabalho. Em “Chic profissional – circulando e trabalhando no mundo globalizado”, a especialista, que conta com mais de 40 anos de carreira e coordena um dos primeiros websites de moda do país, o Chic, dá dicas que vão além da moda e da etiqueta no ambiente corporativo. Na próxima terça-feira, dia 22, Gloria estará em Curitiba para uma noite de autógrafos nas Livrarias Curitiba do Shopping Palladium a partir das 19h30. “É a primeira vez que demorei tanto tempo para escrever. Eu tinha a sensação de que o campo do trabalho mudou muito nos últimos tempos, mas uma coisa é você achar e outra é constatar”, explica. A jornalista fez, ao todo, 93 entrevistas ao longo de dois anos com profissionais de empresas tradicionais, empreendedores e colegas de profissão.
Millennials no mercado de trabalho
“É uma geração muito mal educada”, afirma, categórica. No livro, a jornalista apoia a posição do filósofo e doutor em educação, Mario Sergio Cortella, de que boa parte da geração Y chega ao mercado de trabalho sem ter noção de hierarquia.  Em um trecho, ela explica: “Não sei se, entre as(os) jovens, a culpa pela falta de jeito para levar uma conversinha ao vivo e até mesmo por telefone é resultado de só se comunicarem pela internet ou se é falta de traquejo.”
Por isso, o livro funciona também como um guia de boas condutas para quem não faz ideia de alguns comportamentos esperados dentro do ambiente de trabalho.
O foco são elas
Gloria inova na forma do livro ao tratar da questão da igualdade de gênero através da linguagem. Em vez de usar palavras que de acordo com a língua portuguesa deveriam ser escritas no masculino, a jornalista quebra a regra utilizando apenas termos femininos ao longo das 224 páginas de sua obra – as designações masculinas vêm ao lado, acompanhadas de parênteses. “É uma tensão proposital. Quis que isso percorresse o livro inteiro para que a questão ficasse marcada”, explica.
Confira a seguir a entrevista exclusiva da autora ao Viver Bem:
Os debates a respeito de igualdade de gênero e a valorização pela individualidade têm mudado o modo como enxergamos a moda. Nesse sentido, como falar de regras de vestimenta sem soar arrogante ou conservador?
Nunca é preciso ser arrogante; conservadora, sim. É muito simples: empresas conservadoras sempre existiram vão continuar existindo. Ao mesmo tempo em que, mais do que nunca, os modelos de negócios informais estão sendo valorizados, é preciso entender que esse tipo de empresa também tem seus códigos. Por mais que o local em que você trabalha seja o mais informal de todos, existe um código de conduta e, de certa maneira, de vestimenta. É apenas mais um código igual a outro.
As regras em relação ao comportamento no ambiente de trabalho mudaram muito ao longo da última década?
Sim. Aos poucos, o mundo inteiro está caminhando para uma informalidade cada vez maior, seja com relação à moda, seja com tatuagens. Hoje, é quase um milagre encontrar qualquer pessoa com menos de 40 que não tenha uma tatuagem, por exemplo. Por causa disso, as empresas precisam se tornar mais flexíveis. Mas ainda há clusters extremamente formais, como o meio jurídico, então existem setores que se mantêm conservadores.
Mas boa educação continua sendo atemporal?
Pode ter certeza. Gosto de contar a história de um empresário que analisou mais de 700 currículos e, quando restaram 10, ele não sabia o que fazer – as qualificações profissionais eram iguais. A contratação dependeria da entrevista, do contato olho no olho. É nessa hora em que a pessoa melhor informada, com bagagem cultural, que tem uma boa conversa vai se destacar. Sempre é.
No livro, você conta a história de uma entrevista de emprego em que a candidata não parava de se desculpar e isso te causou desconforto. Qual o “limite” da boa educação? Por que pedir “desculpas” ou “com licença” demais é um erro?
Nada é mais incômodo do que uma pessoa que está pouco à vontade. Dá uma sensação de que você esta perto de alguém inseguro, que não dá conta de qualquer tarefa, não consegue nem vender seu peixe. A verdade é que ninguém quer um auxiliar que pede licença para tudo ou se desculpa por qualquer coisa. Mas também tem o lado oposto, que é horrível: gente que fica citando pessoas conhecidas só para se autoafirmar, sabe? Gente folgada.
Você fala que as roupas de trabalho são como um guarda-roupa à parte – não se encaixam nos eventos de lazer, nem nos formais. Qual a recomendado para quem não sabe por onde começar a formar esse “closet”?
Acabou essa história de lista, de tendência. Tudo depende do estilo de cada pessoa e do trabalho dela e, nesse sentido, adequação social é a coisa mais importante, ou seja: você precisa usar as roupas que correspondem às suas ocasiões mais adequadas. Uma calça jeans toda furada é uma calça de lazer, você não vai usá-la no ambiente de trabalho. É questão de bom senso.
CHIC PROFISSIONAL
Autora: Gloria Kalil
Editora: Companhia das Letras (224 páginas, R$ 44,90)
Lançamento em Curitiba: dia 22 de agosto, nas Livrarias Curitiba do Shopping Palladium – Avenida Presidente Kennedy, 4121, Portão.
Horário: das 19h30 às 22h30.
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