Saia (R$ 910) e regata (R$ 619), os dois Mixed. Blusa em renda Banana Republic (R$ 119) e bracelete (R$ 15), os dois Trinca Z.
A premiação mais importante do cinema, o Oscar, entregue anualmente pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood acontece neste domingo (22). A cerimônia inspirou o Viver Bem a pensar em personagens femininos que se tornaram ícones de filmes de oito diferentes diretores. Elas podem ou não estar no centro das narrativas, mas mesmo quando atuam como coadjuvantes, são desejadas e impactam diretamente na vida dos personagens centrais. Ou, como define o crítico de cinema Luiz Gustavo Vilela, do site Crônico de Cinema, aparecem como o motivo da transformação.
Os trajes são essenciais para a construção da personalidade e do estereótipo. “Quando se iniciam os ensaios de um filme, os atores pedem uma peça de roupa que os permita sentir o personagem”, explica a figurinista Isabella Fonseca. Ela lembra que o figurino delimita a época em que a trama acontece e permite que o telespectador compreenda o personagem por meio de mensagens visíveis ou subliminares. “A forma como as peças são montadas, os acessórios inseridos e também as cores dizem muito sobre a pessoa que os veste e sobre o mundo que foi criado para aquela cena”, diz.
Com ajuda da interpretação dos dois especialistas e do produtor de moda responsável pelo editorial, Felipe Pereira, reproduzimos e analisamos as personagens a seguir:
MIA WALLACE, DE QUENTIN TARANTINO
Pulp Fiction (1994) foi escrito e dirigido por Quentin Tarantino. Ele narra três histórias diferentes, entre elas a de um gângster e sua esposa, Mia Wallace (Uma Thurman). Ela funciona como o fruto proibido. Vincent Vega (John Travolta) precisa se segurar para não cair nos encantos da mulher do chefe no começo, e mantê-la viva ao final da interação dos dois. Seu corte de cabelo estilo chanel com franja reta é copiado até hoje. Mesmo com a dupla básica de camisa branca e calça preta, Mia é feminina e implacável.
SYLVIA RANK, DE FEDERICO FELLINI
Um dos mais conhecidos filmes de Federico Fellini, o drama A Doce Vida (1960) é considerado um dos títulos mais importantes do século 20. Filmado em preto e branco, nele a atriz Anita Ekberg (falecida em 11 de janeiro) vive a personagem Sylvia Rank e entra para a história na cena em que toma banho de vestido de festa na Fontana di Trevi. A “doce vida” do título é uma ilusão, um jogo de espelhos. E Sylvia simboliza exatamente isso.
MARION CRANE, DE ALFRED HITCHCOCK
Saia (R$ 910) e regata (R$ 619), os dois Mixed. Blusa em renda Banana Republic (R$ 119) e bracelete (R$ 15), os dois Trinca Z.
Clássico do suspense dirigido por Alfred Hitchcock, Psicose (1960) gira em torno do encontro entre a secretária, Marion Crane (Janet Leigh), e o dono de um hotel decadente. Naquele ano, Leigh foi indicada ao prêmio de melhor atriz coadjuvante. O roteiro acompanha Marion até a metade. Então ela é morta e o foco fica em Norman – ligeiramente afeminado e desconfortável com a presença de mulheres. A protagonista se torna Lila, a irmã, que leva o detetive para o Motel Bates. É como se Norman roubasse o protagonismo de Marion e Lila surgisse para tomá-lo de volta.
KAY CORLEONE, DE FRANCIS FORD COPPOLA
Vestido Benetton (R$ 349) e trenchcoat em couro Diane von Fürstenberg para Trinca Z (R$ 680).
O Poderoso Chefão (1972), dirigido por Francis Ford Coppola, é baseado no livro homônimo escrito por Mario Puzo. A trama gira em torno de um conflito entre famílias mafiosas em Nova York, tendo os Corleone ao centro. Kay Adams (mais tarde, Kay Corleone), interpretada por Diane Keaton na saga, é a mulher de Michael (Al Pacino), um dos filhos da família que mais tarde se torna o “chefão” da máfia. Durante a trilogia, o figurino da personagem muda na medida em que Kay passa por momentos difíceis. É possível perceber o que acontece ao reparar nas cores, que, no primeiro filme, são marcantes. O laranja, vermelho e dourado, presentes no começo, dão espaço para tons de nude e o bege mais apagado à medida que a história evolui.
SALLY BOWLES, DE BOB FOSSE
Cabaret (1972) é um musical americano dirigido por Bob Fosse. Na Alemanha, durante a ascensão do nazismo, uma cantora e dançarina americana, Sally Bowles (Liza Minnelli) se envolve ao mesmo tempo com um professor inglês e um nobre alemão. Ela trabalha no Kit Kat Klub, de Berlim. O filme venceu o Oscar de melhor atriz em 1973. Como não pedia deixar de ser, o figurino de Sally é cheio de cores fortes e formas sensuais digno dos cabarés dos anos 1920 e 1930. Os paetês são usados como artifícios constantes de palco. A personagem é extremamente sensual.
RAIMUNDA, DE PEDRO ALMODÓVAR
Volver (2006) fala sobre mulheres. Na trama, Raimunda (Penélope Cruz) é uma mãe protetora capaz de esconder o corpo do seu próprio marido. A vida de Raimunda se resume à sua filha, sua irmã e sua mãe. E toda interação com homens termina em tragédia na história. O figurino é um ponto muito importante nas obras do diretor. Aqui, ao mesmo tempo em que aparece irreverente, é forte, sensual e faz grande referência às divas do cinema italiano. É possível perceber isso por conta dos decotes usados por ela, assim como na maquiagem e no cabelo, sempre impecáveis.
GINGER, DE MARTIN SCORSESE
Vestido Gianni Cocchieri (R$ 1.980), sandália Arezzo (R$ 289,90), clutch LaciBaruffi (R$ 283,50) e brinco de acervo.
Casino (1995), dirigido por Martin Scorsese, é baseado no livro de mesmo nome de Nicholas Pileggi. Nele, Robert De Niro é Sam “Ace” Rothstein, um apostador judeu-americano que é chamado pela máfia para supervisionar o cassino Tangiers, em Las Vegas. A história é baseada em Frank Rosenthal, que dirigiu os cassinos Stardust, Fremont e do Hacienda para a máfia de Chicago entre a década de 1970 e o início dos anos 1980. Sharon Stone interpreta Ginger, esposa de Ace, um papel que lhe rendeu um Globo de Ouro de melhor atriz e uma indicação para o Oscar de Melhor Atriz. Ginger era uma garota problema, uma bomba-relógio. Scorsese faz questão de sublinhar isso já em suas primeiras cenas.
ANNIE HALL, DE WOODY ALLEN
Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977) é uma comédia romântica com direção e atuação de Woody Allen. O filme conta a história de Alvy Singer (Woody Allen), um humorista judeu divorciado que faz análise há quinze anos. Ele acaba se apaixonando por Annie Hall (Diane Keaton), uma cantora em início de carreira, com a cabeça um pouco complicada. Alvy orbita o tempo todo em volta de Annie, mesmo quando não está com ela ou tenta levar outras mulheres para a cama. Tudo reafirma a presença dela, e não custa lembrar que arquétipos psicológicos são frequentes nos trabalhos do diretor. No figurino, a pegada tomboy aparece com o uso da alfaiataria e se eterniza com os chapéus e gravatas. Venceu o Oscar de melhor filme e melhor atriz em 1978.