Com roupas de alta tecnologia, estilista paranaense conquista Nova York
Marina Mori
14/07/2017 12:00
A estilista foi escolhida para representar o Brasil com peças athleisure. Foto: Divulgação
Depois de produzir vestidos de alta costura para noivas, jalecos e até itens escolares, a estilista paranaense Karina Kulig quer apresentar ao mundo um novo olhar sobre a moda. Nesta sexta-feira, 14, ela lança, em parceria com a marca americana O.nu, a coleção-cápsula “Air and Light (Invisible in Plain Sight)”, com peças feitas de materiais ultratecnológicos e com mote sustentável. “Esta é, sem dúvida, a criação mais ousada da minha trajetória”, revela.
Karina é a terceira estilista a participar do projeto liderado por Paul Lee e Thomas Moon. Desde 2015, a O.nu lançou duas linhas até hoje, uma inspirada no Brooklyn, assinada por Diana Eng, e a última em Xangai, assinada por Christina Liao. O objetivo da marca é convidar designers de todo o mundo para criar peças no estilo “athleisure”, que aliam o conforto ao estilo.
Com peças em preto e branco, a estilista brincou com os elementos cobogós, da arquitetura, para representar o Brasil sem precisar falar de praia, biquíni e carnaval. “Queria transmitir uma força que seja nossa. Os cobogós, elementos vazados que permitem a circulação de luz e ar, foram criados em 1920 e na década de 70 foram muito usados pelo Niemeyer. Esses elementos faziam parte da casa em que cresci, então fez muito sentido usá-los”, conta.
Ultratecnologia
Os tecidos da coleção são respiráveis, derivados de escamas de peixes reciclados, e possuem refletores que brilham no escuro. Além disso, todas as jaquetas são impermeáveis e o suor é depositado em tramas do próprio tecido, o que faz com que as peças não peguem cheiro.
As peças foram feitas para durar muito tempo. Prova disso é a resistência do material, que passou por testes incluindo quedas sem rasgar. Outra vantagem é que as roupas contam com uma inteligência para aquecer a temperatura corporal no inverno e esfriá-la no verão.
“Quero transmitir a ideia de que a gente realmente precisa consumir menos e ter peças que representem algo a mais. É preciso pensar no porquê de cada roupa, não só adquirir e ter mais uma no armário”, diz Karina.
Processo criativo
É quase como uma rotina. Quem passa com os olhos atentos pelos bancos da Rua XV com certeza já deve ter visto uma mulher elegante e com olhar sereno em meio à correria da capital. “Gosto de observar o comportamento das mulheres e a forma como elas se portam nos pequenos detalhes, do jeito como dão as mãos aos filhos ou como mexem nos cabelos. Isso é algo que me inspira bastante no processo criativo”, conta a estilista.
De vez em quando, porém, Karina precisa se desligar da realidade para criar. Ela viajou diversas vezes a Santa Catarina e a São Paulo durante o brainstorming da coleção nova. “Eu precisava de um tempo sozinha – sem marido, sem filhos, longe de tudo para entrar no universo da O.nu”.
Compra online
Mas por que, mesmo com o ateliê aqui em Curitiba, todas as peças da nova coleção deverão ser compradas em dólar na loja online da O.nu? “Fiz questão de pedir isso ao Thomas, mas ele não quis. A ideia do projeto é justamente dar foco ao e-commerce; eles (os sócios) querem mostrar que esse é o futuro do consumo e essa é a forma mais universal de acesso à moda”, explica.
De qualquer forma, os americanos – ou quem estiver de passagem pelos EUA – poderão comprar as peças da estilista na Canal Street Market durante o mês de agosto, em Nova York.
Talvez faça sentido. Ao avaliar o mercado da moda na capital paranaense, Karina explica porque gosta de passar por diversos nichos do mundo fashion. “Existe uma limitação para quem é estilista em Curitiba. Sinto que não é possível expor o que você pensa, o teu estilo, a tua forma. Tudo isso faz com que as coisas acabem me levem para um outro lugar, me tirem da caixinha”, diz.
Exclusividade
A coleção-cápsula, formada por cinco peças masculinas e seis femininas, conta com uma quantidade limitada de peças. “Ao todo, não chegam a mil”, revela Karina.