Marca curitibana cria coleção de bolsas e roupas com tecidos de carros Renault
Marina Mori
27/09/2017 08:00
Um dos modelos de carro que viraram bolsa e roupas é o Sandero; os tecidos, novos, foram descartados por estarem fora do padrão. Foto: Divulgação / Novo Louvre
Do banco do carro à passarela. Esse é o desfecho de uma história que teria tudo para dar errado, não fosse a criatividade de Mariah Salomão Viana, do Novo Louvre. A marca curitibana, que completa uma década de história nesse ano, fez uma parceria com o InstitutoRenault e com a Associação Borda Viva para transformar tecidos descartados em cinco modelos de bolsas exclusivas. A experiência deu tão certo que rendeu um bônus: cinco peças de roupas que variam entre saias, jaquetas e casacos. O resultado completo poderá ser visto de perto durante o desfile da marca nesta quinta-feira (28), no primeiro dia do ID Fashion.
“Você simplesmente não acredita que são roupas de resíduos. São superelegantes”, conta Mariah, diretora-criativa do Novo Louvre. O upcycling(que consiste em reaproveitar materiais descartados para criar novas peças) estava em seus planos há alguns anos, mas foi só agora que tudo funcionou em harmonia.
A estamparia, forte identidade da marca, aparece no tecido jacquard dos automóveis em referências à história da loja de tecidos Louvre, criada em 1935 por seu bisavô sírio Miguel Calluf. “Uma das peças tem uma foto antiga em patch. É uma forma de representarmos a nostalgia de um jeito moderno”, diz ela.
Detalhes das peças feitas a partir de tecidos de automóveis descartados. Fotos: Divulgação / Novo Louvre
Uma década de história
Como já faz parte da tradição da marca, cada nova coleção homenageia um local da capital paranaense. Para esta edição comemorativa, a inspiração curitibana escolhida foi o Museu Oscar Niemeyer (MON), símbolo da arte e do design.
Intitulada de “Um Museu de Grandes Novidades”, a coleção se baseia na parceria com cinco marcas locais (além do trabalho conjunto com a Renault, citado acima): Anjuss, Frischmann’s, Peita, Rocio Canvas e Stitch – estas duas comandadas por estilistas que já passaram pelo Novo Louvre. A marca também se uniu ao curso de Design de Moda da Universidade Positivo para criar peças de jeanswear e lingerie e se inspirou no Gato Preto, icônico bar curitibano, para produzir estampas em estilo underground.
“A gente tentou pegar o know how, a expertise de cada marca”, diz Mariah. Seja com os moletons street style da Anjuss, seja com a nova frase que ilustra as camisetas da marca manifesto Peita (a já clássica “lute como uma garota” ganhou um toque bem paranaense: “lute como uma guria”), a ideia é mostrar que a colaboração pode ser o novo caminho da moda. A mensagem vem através do slogan da coleção, “No Logo”, uma crítica à “mania curitibana” de estampar as peças com logos no peito. “A qualidade está no design, na modelagem. Não é o logo que garante isso”, opina.
“A vanguarda é a tradição”
Depois de tanto tempo de história, é inevitável olhar com carinho para o passado. “É quase como uma auto-análise sobre tudo”, diz Mariah. E não é pouco. Embora o aniversário da marca seja de uma década, o Louvre tem, na verdade, 72 anos.
Mariah: a moda é "coisa de família". Foto: arquivo pessoal
A explicação: Mariah Salomão Vieira, 37, não conheceu o bisavô materno, Miguel Calluf, mas sente uma conexão inexplicável entre os dois. As semelhanças são significativas – enquanto o bisavô passou boa parte da vida vendendo tecidos e depois se apaixonou pela construção de prédios (quem passa pela Praça Tiradentes ou pela rua Saldanha Marinho, no centro, pode ver alguns de seus feitos), a bisneta começou na arquitetura e depois mergulhou na moda. “Isso me toca bastante”, conta, emocionada.
Miguel Calluf com a esposa, Methilde, e os irmãos Munira (avó de Mariah) e Emir na Rua XV, década de 30. Foto: Arquivo Pessoal.
Por conta disso, decidiu resgatar a história da loja de tecidos da rua XV, fechada desde os anos 80, em 2007. Nascia o Novo Louvre. Até hoje, a bisneta de Calluf faz questão de honrar suas origens. “Sempre tento trazer referências da história da minha família, mas sempre olhando para o futuro, para o novo. Essa é a essência da marca: a vanguarda é a tradição.”