O que as outras semanas de moda podem aprender com o Minas Trend?
Katia Michelle
04/04/2017 13:53
Evento vai até a próxima sexta-feira (7) reunindo 201 expositores de todo o país. Foto: Agência Fotosite/Marcelo Soubhia | Marcelo Soubhia/ FOTOSITE
Continuidade. Essa é palavra de ordem (e quase de defesa) dos organizadores do Minas Trend para explicar o “sucesso” do negócio. Sucesso porque enquanto as outras semanas de moda do país amargam uma crise de identidade e financeira, o Minas Trend se consolida em sua 20ª edição como o mais importante salão de negócios de moda do Brasil. O evento começou na última segunda-feira (3) e vai até o próximo dia 7, com poucos desfiles (são seis), mas com grande participação das empresas: são 240 estandes e 201 expositores entre vestuário, calçados e bolsas e joias e bijuterias.
Trinta e sete novas marcas estreiam no evento, o que mostra o crescimento exponencial da plataforma de negócios que acontece no Expominas, em Belo Horizonte. Mas os novos números não são o único motivo de comemoração dos organizadores. Promovido pela Federação das Indústrias do Estado de Minas (FIEMG), o evento acaba de ganhar (ainda) mais apoio do governo de Minas Gerais, que vai injetar R$ 3,6 milhões para garantir pelo menos mais quatro edições do Minas Trend: em 2017, 2018 e 2019.
O investimento faz parte dos esforços de dar sequência ao evento independente da dança das cadeiras políticas e sem que o Minas Trend perca a força e o foco. “Nós focamos nos negócios e isso garante o sucesso e a continuidade do evento”, defende o presidente da FIEMG Olavo Machado Jr. Embora tenha arrancado gargalhadas durante a coletiva de imprensa na abertura do evento, ao perguntar para uma jornalista o que era “line up” (termo comum nas semanas de moda para designar a agenda dos desfiles), Olavo defende as marcas que participam do evento tem crescimento quase garantido e esse é o principal objetivo do Minas Trend: alavancar negócios.
Tanto que a edição comemorativa quer aumentar de 3 mil (média das últimas edições) para 5 mil compradores espontâneos. Batizada de “ano,dez”, essa edição tem a história do Minas Trend como inspiração para a concepção visual. Desenvolvida pelo escritório Pedro Lázaro Arquitetura, o projeto usa as borboletas para mostrar a ciclo evolutivo do evento e da indústria da moda e destacar a importância do reposicionamento e qualificação da produção de moda mineira na última década. É verdade. Nos últimos anos, o Minas Trend vem se destacando não apenas como catalisador de tendências, mas como exportador de moda sem a necessidade do pseudo glamour e dos holofotes das celebridades.
Realizado em duas edições anuais – em abril e outubro, o Minas Trend antecipa o lançamento das coleções Primavera/Verão e Outono/Inverno, embora nas últimas edições tenha aderido gradativamente ao “see now buy now” (veja agora compre agora) adotado na maioria das semanas de moda do mundo, já que não há mais espaço para a grande lacuna que acontecia entre o que se vê, o que se produz e o que se consome, como no passado. Essa mudança pode ter sido uma das mais importantes para o Minas Trend, já que provoca a necessidade cada vez maior de profissionalização dos produtores de moda. Não há tempo para amadorismo (já houve?).
Novas marcas
Novas marcas agregam força ao evento na edição de 10 anos. No setor de bolsas e calçados, as novas marcas são Agra, Aramez por Gissa Bicalho, Kawá Cintos, Lucchetto, Nova Line, Rosella Boutique, Vilhenna Carvalho, Visual Etiquetas, O Jambu e Estúdio NhNh. A área de joias e bijoux passa a contar com Nina K Acessórios, Sandra Cavalcante, Ipek, Madame Mordô, Marieta Rigoni, Benedita Acessórios, Alana Tenório, Seth e Zifre Acessórios. No vestuário, Chocker, Izadora Lima, Clara Nato, Impressão Digital, Camila Siqueira, Preta Gil por Victor Dzenk, Thais Dzenk, Lina Dellic, Cactus, Figurati, Novelo Branco, Led, Null & Filled – Mariana Lucchesi, SK/Skunk, Ca.Mar, Im.Par, Miêtta, EDD27, WMDC Collection, Regina Salomão, Bob Store, Bia Guirão Brand, Uplen Robe, Marrô, Vórtice Brasil e Nephew, participam pela primeira vez.
Abertura tem rapper ao vivo
Na abertura do evento, na segunda-feira (3) a noite, o talento do rapper mineiro Flavio Renegado se uniu às principais apostas dos expositores do evento para a temporada Primavera/Verão 2018. Aos 33 anos, o rapper disse que foi a primeira vez que ele cantou em um desfile. “Mas moda e rapper tem tudo a ver: os dois precisam ser audaciosos”, brincou.
No cenário criado pelo arquiteto Pedro Lázaro, que optou por uma visão urbana onde destacavam-se as rampas que emergiam da boca de cena, o stylist Paulo Martinez foi buscar na escola Bauhaus e no construtivismo alemão as referências para a edição do desfile, que revelou uma estação com looks fluidos e transparências compostos com acessórios e aplicações baseados no esporte e no militarismo.
Na diversidade democrática proposta pelo stylist, o desfile evidenciou uma temporada leve e casual, onde a jovialidade e o bom humor contribuem para um shape extremamente feminino e delicadamente sensual. Muito preto estava presente, mesclado com cores fortes como azul, vermelho e amarelo. Não gostou? A interpretação do rapper nascido na comunidade do Alto Vera Cruz, mas cuja voz vem encantando cada vez mais territórios para a música de Chico Buarque, dava a deixa da democracia da moda: “Você não gosta de mim, mas sua filha gosta!”.