Em Curitiba, uma pequena empresa de beleza 100% artesanal cresce a olhos vistos
Marina Mori
30/06/2018 17:09
A empresária curitibana Simara Toledo quer aproveitar a recente saída da Lush do Brasil para expandir os negócios. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo | Leticia Akemi
Simara Toledo tinha pouco mais de cinco anos de idade quando decidiu que seria perfumista — hoje, quatro décadas depois, ela ainda tem na memória os detalhes do momento em que tudo aconteceu. Era década de 1970 e a curitibana acompanhava a mãe de loja em loja em um passeio pela cidade. De repente, um aroma delicioso chamou sua atenção. “Era uma loja de perfumes. Lembro de olhar para cima, maravilhada, e pensar: um dia eu vou ter um lugar assim”, conta. O sonho se concretizou há uma década. Agora, tenta fazer de sua marca, a Raisa Cosmética, uma espécie de Lush brasileira.
“A minha intenção é essa. A gente sempre ouve dos clientes que os produtos são muito parecidos. A proposta é a mesma”, defende Simara. De fato, sua empresa tem muito em comum com a famosa britânica, que preza pela mão de obra 100% artesanal, uso de matérias-primas naturais e produtos livres de testes em animais. Em breve, a marca lançará seu primeiro item vegano de um catálogo de 150 produtos – uma pomada para cabelos.
A empresária pretende aproveitar a recente saída da Lush do Brasil para abrir uma loja em São Paulo. Se os planos derem certo, o comércio aumentará ainda mais o mapa de conquistas da curitibana: hoje, a Raisa tem duas lojas próprias – uma em Búzios e outra em Ilhabela – e cinco franquias espalhadas pelo país (São Paulo, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Bahia e Distrito Federal). No e-commerce, o crescimento tem sido intenso. No ano passado, a empresa registrou uma alta de 71% nas vendas.
De pedagoga a perfumista
O amor de Simara pela perfumaria demorou a se tornar profissão. Formada em pedagogia, ela começou a se aventurar para valer nas fragrâncias quando já tinha uma carreira bem consolidada nas salas de aula. Foi durante um período livre e um tanto tedioso, ela confessa, como ajudante na fábrica de latas do pai, em Campina Grande do Sul, que a brincadeira tomou forma.
“Numa tarde em que eu estava claramente entediada, meu pai perguntou o que eu mais gostava na vida. Quando respondi ‘perfume’, ele sugeriu que eu aprendesse a fazer”, conta. Aprendeu. Depois de uns cursos aqui, outros ali, a pedagoga arriscou a presentear os amigos e familiares com suas fórmulas inéditas.
Não sem antes testar a fixação e os aromas nos funcionários da fábrica. “Eu colocava eles em fila às 7h da manhã, borrifava perfume e depois cheirava os pulsos deles no fim do dia para avaliar”, relembra, rindo.
“O pessoal começou a pedir mais e mais. Perguntavam se eu tinha sabonete, hidratante, xampu”, lembra. Sem hesitar, respondia que sim, mesmo nunca tendo produzido os cosméticos na vida. Lá foi ela aprender a técnica. Resultado: cada um dos 150 produtos da marca tem o selo de perfeccionismo e exigência de qualidade de Simara Toledo. “Eu uso só o que tem de melhor. Pode ter certeza”, afirma.
Uma de suas preocupações é com o meio ambiente. Nos cremes e sabonetes esfoliantes, as microesferas de plástico – problema que tem gerado uma preocupação mundial – são proibidas; em seu lugar, cascas de amêndoas doces e sal marinho são utilizados como substitutos sustentáveis.
Pouco a pouco, a salinha de quatro metros quadrados que havia transformado em laboratório ficou apertada demais. Ganhou um espaço no terreno do pai e construiu, ali, um galpão de 300m²; em um ano, precisou expandir o espaço. Hoje, os 600m² de fábrica ganharão em breve um complemento.
Lindos e feitos à mão
Quem pega nas mãos uma esfera de sabonete da Raisa sente até pena de usá-la no banho. “Sabe o que eu digo quando ouço alguém falando isso? ‘Então não vai comprar! Sabonete foi feito pra ser usado”, exclama Simara, brincando.
É que, ao entender como cada uma das esferas de 180 gramas é feita, é inevitável não se impressionar. Para começo de conversa, são necessários de três a quatro dias até que eles fiquem prontos. A primeira etapa é produzir o “recheio”, que pode ser de maracujá, banana caramelada, maçã verde, entre outros (ao todo, há nove opções de fragrâncias).
A mistura, à base de glicerina, é aquecida em uma panela de ágata e transferido para moldes de borracha. Um dia depois, cada gomo é desenformado e levado para a sala de maturação – os produtos ficam em temperatura controlada por pelo menos dois dias, para garantir que o aroma dure muito mais tempo e o sabonete não derreta facilmente. Só depois são colocados nas formas de alumínio para ganharem formato esférico.
Até mesmo as embalagens são feitas manualmente por um dos 32 funcionários da empresa. “Eu poderia ter uma máquina aqui para fazer isso”, diz Simara, enquanto aponta para uma moça que cola, um a um, cristais de Swarovski em embalagens de creme para mãos.
“Mas faço questão de contratar gente. A empresa vai aumentar e a política vai continuar a mesma. Quanto mais empregos eu conseguir gerar, melhor”, garante.