Moda e beleza

No SPFW, Ronaldo Fraga leva 28 trans para a passarela e pede o fim do preconceito

Bruna Covacci
27/10/2016 09:58
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Ronaldo Fraga ao fim do desfile. Foto: Agência Fotosite. | Marcelo Soubhia / FOTOSITE

Segundo a ONG Trans Gender Europe, o Brasil é o país onde mais ocorrem assassinatos de travestis e transexuais em todo o mundo. E o que isso tem a ver com a São Paulo Fashion Week? O estilista mineiro Ronaldo Fraga, conhecido por fazer dos seus desfiles atos políticos e que já trabalhou temas como o empoderamento feminino e a vida dos refugiados, levou na última quarta-feira (26), 28 transexuais, a maioria estreante em passarelas, ao palco do Theatro São Pedro, local de resistência durante a ditadura militar e, que dentre tantos marcos da dramaturgia brasileira, foi palco da estreia de Macunaíma, de Mario de Andrade, com adaptação de Antunes Filho, em 1973.
Modelo na passarela. Foto: Agência Fotosite.
Modelo na passarela. Foto: Agência Fotosite.
Fraga lembra que a relação da transexual com um vestido pode ser mágica, já que muitas relatam que se sentiram verdadeiramente livres a primeira vez em que usaram a peça (uma referência bacana para quem quer saber mais sobre o assunto é o filme “A Garota Dinamarquesa”). “A moda tem a função de ver a poesia em terreno árido e também de lançar luz sobre a roupa, encontrando nela uma forma de libertação. E se estamos falando do corpo como prisão do desejo, a roupa funciona como chave”, disse.
No palco, uma coleção composta por um mesmo vestido. Com referências art déco as estampas de corsets e meias-calças flertam com os anos 1920 e 1930. A prova de roupa foi feita ontem, apenas um dia antes da apresentação. “Eu tive que fazer ajustes, é claro. Mas fiquei feliz que minhas peças ganharam peito e bunda”, brincou. Ao invés de falar mais sobre inspiração e detalhes da coleção, o mineiro enfatizou: “A do desfile não está na roupa, mas sim em quem veste”, afirma.
As mulheres foram avisadas que participariam do desfile um dia antes. Foto: Agência Fotosite.
As mulheres foram avisadas que participariam do desfile um dia antes. Foto: Agência Fotosite.
Valentina Sampaio, 20 anos, que estreou na SPFW na segunda-feira no desfile da marca La Garçonne, de Alexandre Herchcovitch e já é o frisson da temporada, também estava na passarela. “As pessoas me perguntam se comecei a modelar como mulher, isso nem existe, sabe? Eu sempre fui menina”, disse. Para ela, a oportunidade do desfile de Ronaldo é emocionante e de suma importância para pessoas que sofrem todos os dias por quererem ser elas mesmas, sem julgamentos.
O estilista ressaltou a importância das roupas como forma de identidade. Foto: Agência Fotosite.
O estilista ressaltou a importância das roupas como forma de identidade. Foto: Agência Fotosite.
Já a atriz Melissa Paixão, 23 anos, terminou a apresentação emocionada. “Tudo isso tem um significado muito forte. Como mulher trans, o primeiro vestido que escolhi comprar na vida foi um do Ronaldo Fraga e ele mudou a minha vida”, contou. Ela espera que a repercussão do desfile de Fraga ajude a todos entenderem que cada ser humano é único e que ele tem direito de fazer o que quiser da sua vida. Branca Brunelli, 22 anos, vê a oportunidade como algo extraordinário. “Eu já sou modelo, então fiz o casting e só ontem fui saber do que se tratava. Foi uma surpresa maravilhosa e que pode servir para tirar o estigma das trans no Brasil. Só tenho a agradecer”, finalizou.
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