Moda e beleza

Ternos sob medida

BRUNA COVACCI, ESPECIAL PARA A GAZETA DO POVO
29/06/2014 03:12
Mas é só dar uma olhada na cartela de clientes dos alfaiates, para ver que eles têm perfil cada vez mais inusitado. Segundo José Teixeira do Amaral, que trabalha como vendedor de tecidos para roupas masculinas desde 1976, o número de jovens e senhores de idade que o procuram se equiparou nos últimos tempos. “Os jovens buscam estilo e são impulsionados pela volta da moda dos coletes; os homens ‘maduros’ priorizam o conforto, e também existem aqueles clientes que precisam fazer roupas sob medida por serem altos ou magros demais”, explica.
O advogado Afonso Branco, 56 anos, criou o hábito de mandar fazer os seus costumes desde os 20 anos. “Metade da minha vida foi em um alfaiate”, brinca. O que o faz sair de casa para comprar tecidos, levá-los até o alfaiate e ainda esperar até ficar pronto é a exclusividade. “Tenho ternos slim, tradicional, com a boca mais larga, com diferentes números de botões, pregas variadas e até um que tem compartimento interno dentro do bolso, específico para o celular”, diz.
Daniel Khym Cho, 22 anos, é gestor de atendimento e matrículas de um grupo educacional e manda fazer seus ternos há três anos. “Trabalho com terno todos os dias, então, optei pelo sob medida por causa do conforto, pois os prontos são de difícil ajuste e não têm o mesmo corte e caimento”, diz. Ainda de acordo com ele, a qualidade do tailor-made é diferente e a qualidade compensa o custo maior.
As diferenças
Um alfaiate não consegue produzir muito mais do que oito costumes completos por mês. A conta é de Abílio Serafim Pereira, 82 anos, que trabalha como alfaiate há 60. “No prêt-à-porter, o cliente tem de se adaptar à roupa. Na alfaiataria, a roupa se adapta ao cliente”, diz ele, que explica ser possível no sob medida corrigir pequenos “defeitos”, como diferença entre uma perna e outra e a altura dos ombros. O presidente do Sindicato das Indústrias de Alfaiatarias do Paraná (Sindalfa), Roberto Biesemeyer, defende que o terno não deve apenas se adaptar ao corpo do homem “como uma luva”, mas também injetar informação de moda e trazer estilo. “Sempre é bom lembrar que você é único quando manda fazer seu próprio terno. Escolhe o tecido, o número de botões, o bolso, a abertura e cada detalhe da peça”, diz. Um serviço tão exclusivo custa, segundo o alfaiate Lauro Borges, de 70 anos, só de mão de obra, R$ 1.200. “E demora bastante tempo para fazer, pois só no paletó levo dois dias”, completa.
E a tendência do sob medida é tão forte que, em abril, a Ermenegildo Zegna, marca italiana conhecida pelos ternos impecáveis, atendeu clientes em Curitiba com horários marcados para personalizar o terno “Su Mistura”. Cada atendimento durava cerca de meia hora e o cliente escolhia o tecido, botões e a modelagem. O costume ficava pronto depois de 60 dias.