Preste atenção nesse descompasso da moda: as roupas com estrutura de alfaiataria são tendência absoluta, mas não são feitas por alfaiates. Aliás, diga sinceramente, você já pisou em uma alfaiataria para saber o que é ter um costume alinhado ou um smoking bem assentado? Provavelmente não. Para falar sobre isso, subi ao quarto andar do Instituto de Engenharia do Paraná, onde o alfaiate Marcílio Stolf, 62 anos, mantém um ateliê.
Seu Marcílio se arrepia ao falar da reedição da alfaiataria. “O pessoal vem aqui com esses modismos, mas isso nunca fica bom. Me lembro nos anos 80 daqueles ternos grandes, desestruturados, que empapuçavam para todo lado. Agora vem a moda do justo e fica todo mundo apertado”, protesta.
Ele conta que aprendeu a profissão em Rodeio, Santa Catarina, já que as únicas opções que tinha eram ser alfaiate ou ir para a roça. Dos 13 aos 14 alinhavava o que o tutor cortava em troca de alguns tostões. Saiu de lá pronto para assumir as tesouras e os moldes em Curitiba. Aos 25 anos passou a fazer parte do quadro de funcionários do Instituto. “Tivemos uma fase muito boa, quando costurávamos de dia e de noite, principalmente no fim do ano, época das formaturas. O mercado piorou com as importações da China, que trouxeram produtos muito baratos”, conta.
Para ele, ver como fica a roupa antes de comprar e sair da loja com o terno pronto são as grandes vantagens da concorrência. Sem contar o preço. “Os jovens gostam disso. Mas a roupa pronta não substitui o trabalho do alfaiate, que consegue equilibrar o traje conforme o corpo e suas imperfeições, escolher um tecido bom, propiciar um caimento impecável. De longe dá para ver quando o terno é comprado pronto ou feito sob medida”, diz. Em três dias, o costume completo está pronto por aproximadamente R$ 700.
Reinventar sempre
Um dos jeitos encontrados por seu Marcílio para sobreviver em tempos de roupa pronta foi permanecer no Instituto. “Aqui a clientela é certa. E agora atendo metade de mulheres e a outra metade de homens. A gente tem de se adaptar.”
Mas há quem ultrapasse o estilo quase artesanal dos antigos alfaiates para transformar o sob medida em artigo de luxo. O estilista paulista Ricardo Almeida, que faz os ternos do presidente Lula, é um caso. Aqui em Curitiba, a Rimini, uma empresa de comércio exterior, resolveu entrar no mercado e fazer uso da sua estrutura para baratear o produto final. A conta não é complicada: a empresa consegue importar tecidos em grandes quantidades a um preço melhor para sua camisaria e para outros compradores na América do Sul. Uma pequena parte desse material acaba sendo usada nas confecções sob medida das lojas Crossville. Como são pequenas quantidades, as peças são exclusivas. “A facilidade é ter o tecido e com ele garantimos preço e qualidade”, comenta o proprietário Aldo Marchini Junior.
Serviço: Marcílio Stolf – Alfaiataria J e P, Rua Emiliano Perneta, 174, 4.º andar, fone (41) 3224-9102 / Crossville Brasil – Alameda Doutor Carlos de Carvalho, 1577, fone (41) 3324-7787.
Colunistas
Agenda
Animal