Falta de ácido fólico durante a gestação afeta o desenvolvimento neural do bebê, mas o excesso da vitamina também pode ser prejudicial. Pesquisadores da
Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg, nos Estados Unidos, descobriram no ano passado que mães com quatro vezes mais ácido fólico que o recomendado tinham filhos com o dobro do risco de terem autismo. Essa associação, no entanto, é considerada frágil pelos especialistas e não deve assustar futuras mães.
A Organização Mundial da Saúde, apoiada pela prática de diferentes especialistas, recomenda a suplementação de 400 microgramas (0,4 mg) de ácido fólico, todos os dias, para mulheres no início da gestação e mesmo para quem está pensando em conceber. A vitamina ajuda no desenvolvimento neural do bebê, protegendo a formação da coluna, face e das estruturas cardíacas.
Mesmo encontrada em diferentes alimentos fortificados, como cereais e farinha de trigo, a recomendação é que as gestantes suplementem o ácido fólico para ter todos os benefícios – e o estudo da universidade norte-americana não deixa claro se o exagero da vitamina no organismo das mulheres era devido ao consumo (via comprimidos ou alimentação) ou se elas tinham dificuldades de eliminação do ácido fólico.
“A mulher que ingere o ácido fólico pela alimentação e pela suplementação não chega a esse exagero. Algumas pessoas podem absorver o ácido fólico em excesso ou têm algum problema na eliminação da substância. Não se sabe e o estudo não deixa claro o porquê de elas terem esse excesso, que elevou o risco do autismo”, explica Roberto Laport, médico ginecologista do hospital VITA.
O excesso indicado na pesquisa mostrava mulheres com absorção de mais de 5 mg de ácido fólico. A dosagem recomendada, de 400 microgramas, em miligramas é de 0,4 mg.
Ácido fólico na prevenção do autismo?
Polêmico e frágil de evidências são os comentários dos especialistas sobre a pesquisa, que analisou 1.391 pares de mães e filhos, na cidade de Boston, nos EUA. “Essa é uma evidência que ainda não foi replicada e não é robusta. A gestante que deixa de fazer a reposição com que, hoje sabidamente evita a má formação do sistema nervoso central do bebê, está em risco. Não é uma evidência comprovada”, reforça Antonio Carlos de Farias, neurologista infantil do hospital Pequeno Príncipe.
Outros estudos, inclusive, contradizem os resultados da instituição norte-americana. Em uma busca rápida na ferramenta Google Acadêmico, de 2005 a 2013, há quatro pesquisas que indicam o ácido fólico como fator protetor ao risco do desenvolvimento do autismo. “Não existe nada confirmando esses resultados [que o excesso de ácido fólico possa gerar autismo] e a grande tendência nos estudos é de recomendação do uso, sem uma restrição de valores. Esse trabalho que questionou é muito polêmico. Não dá para se resumir a isso”, afirma Laport.
Dosar a quantidade de ácido fólico durante a gestação não seria a solução, na visão do médico ginecologista, justamente pela indefinição dos estudos, embora outros colegas pensem de forma diferente.
“É preciso fazer o exame para identificar a quantidade de ácido fólico no organismo. A partir daí, fazer o uso na quantidade adequada e necessária. A dosagem adequada só pode ser encontrada nas farmácias e pode reduzir em até 75% o risco de má formação do tubo neural do bebê”, sugere Antonio Cabral, doutor em Obstetrícia pela Unifesp e professor titular de Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Autismo: nenhuma causa definida
Não há nada que comprove uma relação de causa e efeito quando se trata do autismo, segundo Maria Helena Keinert, psicóloga da clínica psicológica Self Center, e uma das referências do autismo em Curitiba. “O autismo é multicausal e é um quadro de origem neuroquímica. É genético e existem várias comorbidades estudadas, como a síndrome do X Frágil. Isso não significa, porém, que toda criança com X Frágil terá autismo, mas essa relação ajuda a esclarecer a condição”, explica.
Embora sem uma causa específica, hoje o diagnóstico da condição tem sido feito cada vez mais cedo, com bebês a partir dos oito meses. “Detectando precocemente, conseguimos antecipar o máximo possível o início do tratamento, que podem reduzir ou mesmo eliminar o risco do desenvolvimento do autismo”, reforça a psicóloga.
Dos sinais mais comuns em bebês que podem desenvolver o autismo, estão: não fazer contato visual durante a amamentação; não esticar os braços pedindo colo; não balbuciar; são crianças ou muito passivas ou extremamente irritadas – sempre em um dos polos; crianças que não se aninham no colo; têm dificuldades na introdução alimentar e durante à noite, para dormir; entre outros fatores.
“Todo o tratamento é multidisciplinar, sempre baseado na análise aplicada do comportamento. O psicólogo trabalha com as crianças todos os dias, dependendo da idade e da necessidade, de duas a quatro horas por dia. O especialista busca na estimulação melhorar essas questões, como contato visual e relacionamento interpessoal”, explica a especialista.
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