Saúde

Acúmulo de gordura excessivo nas pernas pode ser sinal de lipedema; saiba identificar

Vivian Faria
18/07/2024 12:24
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Lipedema se difere de obesidade e celulite por se concentrar em partes específicas do corpo, principalmente as pernas. | Bigstock

O acúmulo de gordura na região das pernas não é necessariamente um motivo para preocupação com a saúde. Porém, pode ser sinal de lipedema, doença descrita há cerca de oito décadas, mas reconhecida e classificada como tal há apenas dois anos – e cuja campanha de conscientização será oficialmente incluída no calendário do Paraná a partir de 2025.
“O lipedema é uma doença que foi descrita há mais de 80 anos, porém, acreditava-se que ela era consequência de problemas vasculares”, conta a nutróloga Debora Froehner, que encabeçou o movimento para incluir o Junho Roxo, a campanha que busca sensibilizar a sociedade para o problema, no calendário do estado.
Conforme ela, as pesquisas realizadas ao longo dos anos permitiram a compreensão de que, mais do que a derivação de um problema vascular, o lipedema era uma condição em si que provoca a inflamação do tecido conjuntivo gorduroso. “Algumas pacientes podem ter comprometimento vascular, mas não é sempre”, pontua.
Debora explica que o lipedema provoca esse acúmulo de gordura, principalmente nos membros inferiores, de forma desproporcional, inclusive em pessoas magras. Com uma peculiaridade: a gordura se concentra nas pernas, mas não afeta os pés. “São gorduras desproporcionais, que vão evoluindo com fibrose, por exemplo, distrofias de tecido e até alterações motoras”, diz.

Sintomas do lipedema

Assim, entre os sintomas estão o inchaço da região, nódulos indicativos de fibrose no tecido adiposo, alterações na pele, dor e hematomas (ou facilidade para formá-los). À medida que evolui – a doença possui quatro estágios de gravidade – pode provocar dificuldade para se locomover, lesões nas articulações e atrofia muscular.
Além disso, há impacto psicológico, já que a condição afeta a autoimagem e a autoestima das pacientes, que são, em sua maioria, mulheres.
Doença também é caractrizada por fibroses, dores, hematomas e, em casos mais graves, pode provocar problemas vasculares e dificuldade de locomoção.
Doença também é caractrizada por fibroses, dores, hematomas e, em casos mais graves, pode provocar problemas vasculares e dificuldade de locomoção.

Tratamento e prevenção

Embora em alguns casos só seja possível identificar a doença a partir do momento que os primeiros sinais aparecem, o lipedema tem componentes genéticos, conforme Debora, e as chances de se manifestar em uma mesma família são grandes. Assim, quem tem histórico familiar da doença deve buscar preveni-la com hábitos saudáveis: alimentação balanceada, hidratação, prática de exercícios físicos e controle do estresse.
As recomendações também fazem parte do tratamento, independentemente do grau da doença. Quanto mais avançada, porém, maiores as chances de a paciente precisar de medicamentos para controle dos sintomas e cirurgias como lipoaspiração e cirurgia de varizes.
“O lipedema não tem curta, porque temos uma base de células de gordura que ficam [mesmo quando a indicação é cirúrgica]”, diz a médica. “A saúde intestinal é fundamental para não haver progressão da doença. [A paciente] tem que cuidar da alimentação e do estilo de vida para sempre”.

Paraná terá Junho Roxo

Por ser uma doença classificada há pouco tempo, o lipedema ainda não é tão conhecido ou monitorado como deveria e seus tratamentos ainda não são disponibilizados pelo SUS. Por isso, Debora encabeçou, no Paraná, o movimento para a inclusão da campanha de conscientização sobre a doença, o Junho Roxo, no calendário do estado. 
O projeto de lei foi apresentado pelas deputadas Cantora Mara Lima (Rep), Maria Victoria (PP) e Márcia Huçulak (PSD), e pelo deputado Tercílio Turini (MDB), aprovado pelo plenário ao longo do mês de junho e sancionado no início de julho. “É importante essa conscientização não só da paciente, mas também do médico”, afirma Debora.
É a disseminação de informação e conhecimento que vai permitir que as pacientes tenham acesso ao diagnóstico e ao tratamento adequados. Vai possibilitar também o monitoramento da doença, com levantamentos sobre prevalência, perfil dos pacientes e outros.
“O primeiro projeto foi para incluir o mês no calendário, mas tem outro para tentarmos oferecer esse tratamento no SUS”, conta a médica. Neste sentido, no dia 8 de julho, os parlamentares que propuseram o PL do Junho Roxo encaminharam requerimento à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (CONITEC) e ao Ministério da Saúde para a criação de um protocolo clínico para incluir o tratamento de lipedema nos procedimentos realizados pelos planos de saúde e pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

Celulite, obesidade ou lipedema?

Embora tenham pontos comuns, celulite, obesidade e lipedema não são a mesma coisa. 
A obesidade é caracterizada pelo acúmulo de gordura no corpo de forma homogênea. A celulite, por sua, é um depósito de gordura sob a pele em qualquer parte do corpo e sem sintomas como dor, hematomas etc; é mais superficial. Já o lipedema, além de provocar o acúmulo de gordura em locais específicos do corpo, vem acompanhado de outros sintomas e, quando não tratado, evolui.