Por que a amamentação cruzada, sugerida por novela da Globo, é proibida pela OMS?
Redação
03/04/2018 10:47
(Foto: Bigstock)
Uma cena da novela “O Outro Lado do Paraíso”, veiculado pela Rede Globo, vem causando nova discórdia entre os profissionais de saúde, dessa vez da área de pediatria, enfermagem e obstetrícia. No fim de março, o personagem médico Samuel, interpretado por Eriberto Leão, sugere à personagem Karina (Malu Rodrigues) que, por ela não ter leite suficiente, o seu bebê poderia ser amamentado pela enfermeira Suzy, interpretada por Ellen Roche, que também acabara de ter um filho.
Embora fosse comum no passado, a prática de amamentar o filho de outra pessoa, ou amamentação cruzada, é contraindicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde pelo risco de transmissão de doenças infectocontagiosas, como HIV/Aids, que nem sempre a mulher tem conhecimento.
Em nota, a Sociedade Brasileira de Pediatria reforça ainda outro erro na história. A sugestão do personagem Samuel de que o leite da personagem Karina seria fraco ou insuficiente é errada.
“É importante destacar que a amamentação deve ser estimulada, pois é o único processo natural que garante acesso ao alimento completo e mais adequado para as crianças. Por isso, deve ser oferecido, de modo exclusivo, nos seis primeiros meses, podendo ser complementado a partir de então” – destaca a entidade médica.
Risco real
A principal preocupação dos especialistas está relacionada a possível transmissão do vírus HIV/Aids. Mesmo que as mães HIV positivas recebam acompanhamento especial, é possível que estejam em uma janela imunológica e desconheçam a doença.
O mesmo vale para outras infecções importantes, como hepatite B e C, citomegalovírus, mononucleose, entre outras condições.
Dificuldade na amamentação
A proibição e orientação da OMS e do MS não é com relação ao leite em si, que pode ser dado a outros bebês, no caso de mães com dificuldades na amamentação. Esse leite, no entanto, deve passar por um tratamento, feito pelos bancos de leites – e só coletados ou doados nesses estabelecimentos.
Em Curitiba há dois bancos de leites, do Hospital das Clínicas da UFPR e do Hospital Universitário Evangélico, que fazem a coleta, o tratamento e eliminam qualquer risco de transmissão de doenças.
De qualquer forma, a primeira orientação para as mães que não conseguem amamentar os filhos de forma adequada é procurar ajuda de profissionais especialistas. A amamentação é um processo natural, mas isso não significa que não tenha desafios, desde a pegada do bebê no bico do seio à alimentação da mãe.
Dicas para amamentar:
Eu preciso de calorias extras enquanto estiver amamentando?
Quais alimentos eu devo comer ?
Prefira alimentos ricos em proteína, como carnes magras, ovos, derivados de leite, feijão, lentilhas e frutos do mar com pouco mercúrio. Escolha várias opções de frutas e vegetais e lave-os bem antes de comer, para reduzir a exposição a restos de pesticidas.
Quanta água ou líquidos eu preciso tomar?
Beba com frequência, de preferência antes que você sinta sede e especialmente se a urina estiver amarelo escuro. Sempre tenha um copo de água próximo quando estiver amamentando. Evite sucos e bebidas açucaradas. Muito açúcar pode contribuir para o ganho de peso ou mesmo sabotar os seus esforços em perder peso. Muita cafeína também pode ser perigoso, visto que ela passa pelo leite e pode deixar o bebê agitado ou interferir no sono. Limite o consumo a não mais que duas a três xícaras de café e bebidas com cafeína por dia. Quais alimentos devo evitar nesse período?
Álcool, cafeína e peixes. Não há nenhum nível de álcool no leite materno que seja considerado seguro para o bebê. Se beber, evite amamentar a criança até que o álcool tenha saído completamente do corpo. Isso normalmente leva de duas a três horas para cada 335 ml consumido, ou cerca de 5% de um copo de cerveja. Tirar o leite não acelera a eliminação de álcool do corpo. Peixes também devem ser evitados. Apesar de ser uma boa fonte de proteína e omega3, muitos frutos do mar contêm mercúrio e outros contaminantes. Se expor a níveis altos de mercúrio na amamentação pode expor o bebê ao risco de desenvolver problemas no sistema nervosos.