Saúde e Bem-Estar

Aparelhos são indicados para crianças abaixo de sete anos em apenas três casos

Cíntia Vegas, especial para a Gazeta do Povo
19/04/2019 16:00
Thumbnail

Uso de aparelhos antes dos 7 anos é recomendado em apenas três casos. Foto: Bigstock.

Desde muito cedo, a terapeuta ocupacional Deborah Toledo Martins suspeitou que o filho, atualmente com 5 anos, ia precisar usar aparelho ortodôntico. Com os dentinhos superiores mais para frente que o normal, o menino não tinha a língua bem posicionada na boca e apresentava algumas dificuldades de fala.
Porém, ao fazer uma avaliação com  profissional especializado, Deborah se surpreendeu ao saber que o tratamento da criança poderia começar a ser realizado tão cedo, aos 4 anos e meio de idade.

“Imaginei que ele usaria aparelho quando estivesse com 6 ou 7 anos. Mas ele se adaptou bem e já estamos vendo resultados”, diz.

Atendendo a uma recomendação da Associação Americana de Ortodontia, os dentistas geralmente aconselham que as crianças passem por uma primeira avaliação ortodôntica por volta dos 7 anos, fase em que os dentes de leite já começaram a cair para dar lugar à dentição definitiva. Mesmo assim, não é incomum identificar a necessidade de uso de aparelhos ortodônticos em crianças ainda menores.
Nos últimos anos, tem se tornado cada vez mais comum ver meninas e meninos utilizando aparelho ainda na fase da primeira dentição. Segundo o ortodontista Alexandre Moro, que é professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o aumento se deve ao grande número de profissionais da área de Ortodontia existentes no Brasil e também ao fato de as pessoas terem mais acesso aos tratamentos, cujos custos têm diminuído ao longo das últimas décadas.

Nas crianças pequenas, os aparelhos não têm como objetivo corrigir os dentes, mas orientar o crescimento ósseo da face. Eles são indicados após avaliação minuciosa em três casos específicos: quando o paciente tem mordida cruzada posterior ou anterior; para prognatismo mandibular (quando a mandíbula vai pra frente e a maxila para trás); e em algumas situações de mordida aberta, quando há projeção acentuada dos dentes da frente, como no caso do filho de Deborah.

“O uso também pode ser necessário em casos de fissuras labiais, mas estes são mais raros e complexos”, explica Alexandre. “Crianças muito pequenas, de 2 ou 3 anos, geralmente não são muito fáceis de manejar e os aparelhos acabam não tendo o resultado esperado. Mas a partir dos 4 ou 5 anos, muitas já têm um entendimento maior do que está acontecendo e podem cooperar com o tratamento, garantindo o sucesso do mesmo”.
Os aparelhos recomendados às crianças pequenas podem ser tanto os fixos quanto os móveis, instalados no céu da boca. Os móveis, de acrílico, podem ser confeccionados de forma atrativa aos pequenos, com cores diferentes e enfeitados com brilhos e adesivos.
Já os fixos são positivos porque independem da participação do usuário para apresentar resultados, sendo vantajosos principalmente às crianças que se recusam a utilizar os móveis.
Ainda com muita plasticidade nos ossos, as crianças geralmente respondem bem aos aparelhos. Eles são capazes de corrigir assimetrias faciais e, quando o tratamento é feito em parceria com otorrinolaringologista e fonoaudiólogo, também auxiliam na correção de problemas de deglutição, dificuldades respiratórias e de fala.

“Enquanto o fonoaudiólogo trabalha questões funcionais de lábio e de língua, o aparelho vai corrigir a questão anatômica da face. Muitas vezes, numa criança com problema de fala, só a fonoaudiologia não adianta. Ela deve ser concomitante com o uso do aparelho ortodôntico”, afirma o fonoaudiólogo Francisco Pletsch, que também é professor e membro da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia.

Por proporcionar a expansão do céu da boca, os aparelhos usados em crianças pequenas também podem contribuir para que haja mais espaço para que os dentes definitivos possam nascer.
Mas, segundo Alexandre, é um erro acreditar que o uso precoce vai eliminar a necessidade de outros tipos de aparelhos, daí sim para corrigir os dentes, no futuro. “Tudo depende de cada caso. Mas usar aparelhos muito cedo não é garantia de que o uso também não vá ser necessário quando a criança for mais velha”, declara.
LEIA TAMBÉM