Choque térmico deixou rosto de jovem paralisado em Curitiba; veja o vídeo
Marina Mori e Carolina Furquim, especial para a Gazeta do Povo, com Agência Estado
25/08/2017 11:38
A paralisia de Bell, condição de Agata, também afetou a atriz Angelina Jolie recentemente. Foto: Arquivo Pessoal
A jovem paranaense Agata Lopes, de 21 anos, está com a lateral direita do rosto paralisada há dois dias. Antes de receber o diagnóstico de paralisia de Bell – condição que afeta todos os anos de 15 a 30 pessoas em cada 10 mil – a auxiliar administrativa estava incomodada com uma dor de ouvido. Um dia antes, ela teve um choque térmico ao sair do ar quente do trabalho para os ventos gelados que chegaram a Curitiba na última semana.
“Comecei a sentir dor no ouvido direito na terça. Na quarta-feira, meu rosto fez movimentos involuntários durante o dia todo e às 17h começou a entortar”, conta Agata. Uma hora depois, o olho direito não fechava e o rosto estava completamente torto. “Sentia muita dor de cabeça.”
A jovem manteve a calma e, antes de receber o diagnóstico médico, pesquisou o que poderia estar acontecendo. “Nunca tinha ouvido falar nisso. O nome assusta, mas fiquei tranquila quando vi que tem cura”, disse em entrevista ao Viver Bem. O tempo médio de recuperação total varia entre um e três meses, mas a primeiras melhoras devem ser sentidas em até duas semanas. Cerca de 20% dos pacientes permanecem com alguma sequela, mas tudo depende do grau da paralisia – leve, moderado ou grave -, da procura por ajuda em tempo hábil e da resposta pessoal ao tratamento.
Pouco depois de receber as recomendações para o tratamento, que inclui remédios, fisioterapia e acupuntura, Agata compartilhou uma foto sua no grupo Clube da Alice, no Facebook, para ver quem mais já teve a paralisia de Bell.
Em 11 horas, o post contabiliza quase mil curtidas e mais de 500 comentários, a maioria de mulheres que já passaram pela mesma condição da jovem – algumas, mais de uma vez. Segundo Agata, a interação com outras pessoas é boa pelos votos de melhora que tem recebido.
À esquerda, Agata com expressão normal - a paralisia se torna aparente quando ela tenta sorrir. Foto: Arquivo Pessoal
Causas
A baixa imunidade pode fazer com que um vírus, até então adormecido, entre em atividade e ataque o nervo facial. Se esse vírus for o do herpes, as pequenas vesículas típicas podem estourar atrás da orelha afetada.
O diagnóstico é essencialmente clínico para quase todos esses casos, sendo rara a solicitação de exames complementares. O quadro é agudo e o paciente acorda com metade da face paralisada, da boca até a testa, ou percebe a fraqueza e assimetria de uma hora para outra. Ainda que tenha início súbito, a paralisia demora de 48 a 72 horas para estabilizar, quando atinge seu grau máximo.
Diagnóstico
Na consulta, o neurologista realiza testes de força e pede ao paciente que execute algumas funções como piscar, sorrir e franzir a testa. De modo geral, a boca entorta para o lado preservado, o olho não fecha no lado acometido, não é possível elevar a sobrancelha do lado paralisado e todas as rugas e linhas de expressão desse lado, especialmente as da testa, tendem a sumir.
Além desses sinais típicos, outros sintomas podem surgir e incomodar o paciente com Paralisia de Bell pelo comprometimento de algumas funções. Sempre no lado afetado, podem surgir insensibilidade ou alteração do paladar na metade da língua, redução ou excesso de lágrimas, formigamento ou dormência e hiperacusia (audição excessiva).
Alguns pacientes referem uma dor de cabeça bem característica, que se irradia para o ouvido e para atrás do lóbulo da orelha, horas antes do início da paralisia.
Cuidados
O relógio é aliado importantíssimo do paciente com Paralisia de Bell, por isso, procurar ajuda médica imediatamente é fundamental. Isso porque, uma vez diagnosticada a doença, a resposta ao tratamento é melhor caso ele seja iniciado logo nas primeiras 48 horas. Estudos demonstram que a evolução tende a ser mais favorável com a administração continuada de medicamento corticosteroide associado a um antiviral, mas isso, apesar de não ser totalmente comprovado, vai depender do tempo de instalação e de outras análises do médico.
Sessões de fisioterapia regulares e por algumas semanas são essenciais para evitar atrofia muscular e acelerar e garantir uma recuperação com menor chance de sequelas, e devem iniciar antes mesmo do ápice clínico ou estabilização da paralisia. O tempo médio de recuperação total varia entre um e três meses, mas a primeiras melhoras devem ser sentidas em até duas semanas.
Além da fisioterapia, a jovem está fazendo tratamento com acupuntura. Foto: Arquivo Pessoal
Cuidados essenciais
Até a recuperação plena, o cuidado com o olho afetado é a conduta mais importante durante todo o tratamento. Pela dificuldade de fechamento do olho, o médico vai receitar colírio de lágrima artificial e uma pomada especial que deve ser usada junto com um tampão para a oclusão na hora de dormir.
Como não é possível piscar do lado paralisado, fechamentos manuais da pálpebra, durante todo o dia, também são indicados. Sem esses cuidados, o olho pode ressecar e predispor úlcera na córnea, o que pode levar até mesmo à cegueira.
Dificuldades
As dificuldades relatadas pelos pacientes tendem a minimizar conforme a evolução favorável do quadro. Podem ser sentidas dores ou espasmos na face, dificuldade de manter alimentos ou líquidos na boca (usar canudos nesse período pode ajudar) e os incômodos mais típicos, relacionados à inexpressividade, como não conseguir sorrir, piscar e fazer movimentos simples, como “mandar um beijo”. Apesar da sensação de peso ou dormência na face, a sensibilidade não é afetada.
Recuperação insatisfatória
Infelizmente, não há muito o que fazer em casos de recuperação insatisfatória. Pode ser recomendada a aplicação de Botox para corrigir assimetrias ou, em casos mais graves, descompressão cirúrgica do nervo, uma opção ainda em estudo. Eventualmente, à medida em que o nervo facial se recupera, pode haver a formação de conexões anormais, que levam ao surgimento de movimentos inesperados e involuntários de alguns músculos faciais, chamados sincinesias. As recidivas são raras.