Não é porque está na internet que é verdade. Quer um exemplo? Métodos “infalíveis” de clareamento dental caseiro a partir de ingredientes naturais. As receitas, ensinadas por pessoas sem formação alguma em odontologia, vêm com a prova de que “funcionam mesmo!” através de vídeos no YouTube que contam com milhares de views: bicarbonato de sódio com limão, óleo de coco e açafrão, carvão ativado em pó. O segredo, segundo blogueiros e blogueiras, é escovar bem durante vários minutos e, em alguns casos, revestir os dentes com papel alumínio para potencializar o efeito branqueador. Ninguém conta, porém, que esses truques podem causar danos irreparáveis no sorriso, incluindo a perda dos dentes.
“Eles dão uma falsa impressão de clareamento”, explica Susane Corazza Binder, especialista em prótese dentária e especialista em Implantodontia. Isso porque as técnicas ensinadas na internet funcionam a partir de agentes abrasivos fortíssimos que, além de remover placas bacterianas e manchas, agridem a camada de proteção dos dentes. Ou seja: sim, os dentes ficam mais brancos, mas também muito mais desgastados.
“Já vi pacientes que perderam os dentes por conta disso”, conta Sergio Vieira, professor do curso de odontologia da PUCPR. Segundo ele, a consequência “menos pior” seria uma inflamação gengival e uma hipersensibilidade. Em casos mais graves, uma pulpite (inflamação dos nervos), curada a partir de tratamento de canal. Vieira é categórico: “não recomendo jamais esses tratamentos caseiros.”
Nos EUA, a prática se difundiu através de marcas que vendem kits prontos para clarear os dentes em casa:
Não existe milagre
Pode parecer tentador e até divertido tentar reproduzir essas receitas em casa mas, se você quer mesmo clarear os dentes, não economize. “Não existe milagre e os riscos são grandes”, reforça Susane. A especialista afirma que os gastos para reparar os danos podem ser muito maiores que o clareamento dental feito com um dentista. Segundo a Proteste, entidade de defesa do consumidor, o procedimento custa entre R$ 400 a R$ 2.500.
Além disso, Susane lembra que nenhum dos ingredientes citados acima tem qualquer agente clareador na composição.
“Mas e o bicarbonato de sódio que os dentistas usam no consultório?”
A resposta está no método e na frequência. Embora o produto seja o mesmo, em vez de friccionar os dentes com bicarbonato, os dentistas o aplicam através de um jato de água e ar para retirar apenas as placas bacterianas. Dessa forma, a abrasão é bem menor. Outro ponto importante é o tempo – como a limpeza profissional é feita duas vezes ao ano, não há risco de danificar os dentes.
Do jeito certo
“O clareamento dental correto nunca faz abrasão”, garante a dentista. Seja através de moldeiras de silicone, utilizadas no tratamento caseiro (supervisionado pelo profissional), seja na cadeira do consultório, os ativos utilizados são basicamente os mesmos – peróxido de hidrogênio e peróxido de carbamida.
Esses produtos reagem quimicamente com as manchas do esmalte do dente, clareando o sorriso sem danos. Mesmo assim, também podem causar sensibilidade. Por conta disso, cada tratamento é individualizado e deve ser avaliado pelo profissional. “Tem uma indicação para cada caso”, reforça Vieira.
Pastas de dente milagrosas
Neste ponto, você já deve imaginar o que vem a seguir. As pastas de dente que prometem clarear os dentes também não funcionam, por mais tentadoras que sejam suas propagandas. O professor da PUCPR afirma que elas contêm produtos clareadores, mas em quantidades ínfimas. “O clareamento é irrisório, porque o contato é muito tênue. Seria preciso usar duas horas por dia todos os dias para fazer efeito“, explica.
Um dos exemplos é o creme dental norte-americano Glister, vendido em grupos no Facebook a R$ 50, em média, que promete clarear os dentes sem abrasão. Para Vieira, é preciso cuidado. “O uso contínuo de um agente clareador sem a supervisão de um dentista é muito perigoso, já que não existe comprovação científica de que o clareamento com dentifrícios é seguro e eficaz.”
Quem não pode fazer clareamento dental
Menores de 15 anos (nas crianças e jovens, o volume da enervação é bem maior que nos adultos, o que pode causar sensibilidade), gestantes, lactantes e pessoas com cáries, restaurações extensas e gengivite. Quem tem alergia ao ativo também deve evitar o clareamento dental. Por isso, o profissional sempre precisa dar o “ok” antes de começar o procedimento.
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